10 janeiro 2024

Tempo sombrio

Especialistas apontam piora do cenário de riscos para a próxima década

Crises climática e ambiental são principais ameaças; percepção no curto prazo melhora
Luciana Coelho/Folha de S. Paulo


 

A percepção de riscos globais para os próximos dez anos se deteriorou significativamente ao longo dos últimos meses, e as crises do clima e do ambiente encabeçam a lista de problemas, mostra um relatório sobre o tema.

Segundo a 19ª edição do Global Risks Report, produzida pelo Fórum Econômico Mundial com o grupo Zurich de seguros e a consultoria Marsh McLennan, 63% dos especialistas preveem um cenário "tempestuoso" (com "riscos catastróficos à espreita") ou "turbulento" ("reviravoltas e risco elevado de catástrofes globais"). No ano passado, essas eram as expectativas de 54% dos entrevistados.

Em contrapartida, a percepção de riscos no curto prazo (dois anos) melhorou após três anos de pandemia, mais de dois de guerras e variadas escaramuças comerciais e econômicas. São 30% os que classificam como tempestuoso ou turbulento o cenário de curto prazo, ante 82% os que o faziam no ano passado, no auge da Guerra da Ucrânia e das tensões entre EUA e China.

Foram ouvidos durante setembro 1.400 analistas de risco, líderes políticos e lideranças industriais para o levantamento, lançado às vésperas do encontro anual do fórum, que ocorre na próxima semana em Davos, na Suíça. Para 54% deles, o cenário é de insegurança ("instabilidade e risco moderado") nos próximos dois anos, um contingente que cai para 29% quando a pergunta se refere a dez anos.

Apenas 15% esperam estabilidade ("perturbações isoladas e baixo risco de catástrofe") no biênio, e 8%, na década. Os que vislumbram um horizonte "calmo" ("risco insignificante") são apenas 1% para ambos os períodos. No ano passado, 9% anteviam calmaria em dez anos, e 11%, estabilidade.

Os eventos climáticos extremos (secas, inundações, tempestades, furacões, degelo, nevascas etc) são a principal preocupação imediata e também o risco mais grave no cenário de dez anos, mostra o relatório.

Nesta terça (9), o Serviço Copernicus de Mudança do Clima, da União Europeia, oficializou 2023 como o ano mais quente da história, e aferiu um aumento de 1,48°C na temperatura global em 250 anos, no limite do que cientistas e diplomatas fixaram como patamar máximo para lidar com a crise —o que ilustra a dificuldade de contê-la.

Estão relacionados ao clima e ao ambiente os quatro riscos mais citados para a década, como a escassez de recursos naturais e a perda de biodiversidade.

[Foto: Bombeiro tenta conter incêndio em Hasia, na região de Atenas (Grécia) - Marios Lolos]

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