02 fevereiro 2024

Cláudio Carraly opina

Qualquer maneira de amor vale à pena  
Consideramos Justa Toda Forma de Amor
Cláuydio Carraly*




As interações humanas, intrincadas e moldadas por transformações sociais, revelam a complexidade da experiência humana ao longo dos tempos, ao revisitar as raízes históricas, observamos como inicialmente os movimentos feministas desafiaram normas de gênero e contribuíram para a desconstrução de hierarquias matrimoniais, podemos afirmar que vários dos avanços comportamentais atuais têm raízes nos desafios ao monopólio marital tradicional, a revolução sexual, originária de movimentos contraculturais dos anos sessenta, não apenas redefiniu padrões de intimidade, mas também semeou as bases do que hoje chamamos de poliamor, relacionamentos abertos, não que essas formas de afeto não existissem antes na história humana, mas agora a sociedade as percebe como formas totalmente plenas da expressão do amor.

Falando em relações de amor inclusivas e até disruptivas para parcelas reacionárias da sociedade, não devemos deixar de referenciar a grandeza da luta pela união civil e também dos casamentos LGBTQIAPN+, como o papel das feministas anteriormente, devemos reconhecer o papel transformador das lutas por igualdade de direitos em todo mundo, inúmeros estudos destacam a importância da luta que desafiou as normas até então estabelecidas, no esteio as decisões judiciais históricas que garantiram amplos direitos as comunidades LGBTQIAPN+ e hoje são pilares fundamentais na construção de uma sociedade mais inclusiva. 

A expansão do conceito de família para além dos laços sanguíneos e gerações é essencial, no entanto, é crucial destacar o papel do poliamor, onde múltiplos parceiros formam uma unidade familiar, como uma forma profundamente desafiadora dos estigmas sociais e legais, inúmeras decisões judiciais em várias partes do mundo reconhecem famílias poliamorosas em processos de guarda e visitação das crianças nascidas dessas relações múltiplas, evidenciando uma integração gradual de dinâmicas familiares não convencionais ao sistema legal, ressalte-se que, tanto no contexto jurídico quanto nos reflexos psicológicos analisado nas crianças, esses em nada diferem das dificuldades gerais que observamos em qualquer outro tipo de divórcio. 

Como uma forma de relacionamento, o poliamor merece uma exploração aprofundada, ao citar experiências práticas e estudos sociológicos, a análise penetra nas nuances das relações não monogâmicas, a visão ampla inclui a abordagem de questões como comunicação, ciúmes e consenso pelas partes envolvidas, proporcionando uma compreensão abrangente desta forma de relacionamento, exemplos dessas famílias e suas práticas cotidianas oferecem uma perspetiva única no conceito de liberdade e respeito ao coletivo, evidenciando a diversidade e profunda riqueza dessas relações, porém também nos mostra que no fundamental em nada divergem do que conhecemos como relacionamento monogâmico, deixando claro que o incomodo dos conservadores é apenas por conta do seu próprio preconceito.

Uma variação cada vez mais comum nos relacionamentos amorosos é a prática do relacionamento aberto, que representa uma mudança significativa nas dinâmicas amorosas, os relacionamentos abertos são uma abordagem não monogâmica que está ganhando aceitação progressiva, nesse tipo de relacionamento, os casais optam por uma maior flexibilidade, permitindo a exploração de envolvimentos românticos ou sexuais com outras pessoas, essa prática desafia as fronteiras tradicionais da monogamia e exige uma abordagem baseada em comunicação aberta e honesta. Os casais que escolhem esse modelo de relacionamento participam de um processo em que discutem abertamente seus limites e estabelecem acordos para moldar a natureza do relacionamento, fundamentado na confiança mútua, esse modelo requer uma compreensão profunda das necessidades emocionais e sexuais de cada parceiro. Além disso, promove uma comunicação ampla que vai além do convencional, resultando em uma relação que muitas vezes envolve mais diálogo do que os relacionamentos mais tradicionais, essa abordagem permite uma maior liberdade e flexibilidade, desde que seja construída sobre uma base sólida de confiança, comunicação aberta, e acordos consensuais.

Paralelamente, observa-se uma tendência ascendente, na prática de casais buscando relacionamentos fortuitos com um terceiro parceiro ou parceira, diferente do caso anterior, onde cada parceiro pode ter experiências separadas com terceiros, neste caso, os parceiros exploram conjuntamente a sexualidade com um terceiro ou terceira pessoa, uma dinâmica que redefine as normas românticas, este arranjo requer uma análise mais detalhada do casal, considerando exemplos práticos e experiências vividas, o envolvimento de um terceiro elemento desafia não apenas estruturas tradicionais, mas também demanda uma compreensão mais profunda das complexidades envolvidas, nesse contexto, a gestão cuidadosa de expectativas, a transparência em relação aos sentimentos e desejos, e a delineação clara de limites tornam-se cruciais para o sucesso desses relacionamentos fortuitos e com vistas normalmente apenas a exploração sexual entre os parceiros, essas formas ainda não convencionais de se relacionar ampliam o escopo da expressão afetiva, mas também evidenciam a necessidade de uma abordagem reflexiva e personalizada para atender as diversificadas necessidades sensuais e emocionais dos envolvidos.

Ao considerar os desafios enfrentados pelas mais diversas formas de relacionamento, a análise restante é como preconceitos arraigados ainda por parte da trama social, que busca impedir o direito de existência bem como o reconhecimento legal, o que resta é a pressão e resistência social por parte de quem compreende que o direito de amar é algo que não deve ser de interesse alheio, mas apenas das partes envolvidas, sendo algo consentido e feito por adultos, ninguém deveria poder intervir nessa relação, a interseção de desafios entre as diferentes formas de relacionamento é examinada, reconhecendo que, apesar das nuances distintas, muitas enfrentam barreiras comuns e a luta de quem travada no passado, fortalecerá a que virá em seguida, essa construção é a verdadeira fortaleza das lutas sociais.

Seja poliamor, casamento aberto, relacionamentos fortuitos com um terceiro parceiro ou monogâmica, essas expressões de afeto emergem como fontes ricas e complexas do amor humano, enriquecendo a tapeçaria das relações contemporâneas, nossa sociedade, ao se deparar com essas formas de amar, está diante de uma encruzilhada, resistir às mudanças ou abraçar a beleza da diversidade. O caminho adiante demanda uma compreensão mais profunda, empatia e reconhecimento da singularidade de cada experiência amorosa, e como sabemos a diferença é a regra do que chamamos humanidade, ao celebrarmos a riqueza das nossas relações, sejam elas em todas as suas formas, sabores e cores, pavimentamos um caminho para um mundo mais inclusivo, onde o amor floresce em sua diversidade mais autêntica, porque floresce em todas suas formas possíveis.

[Ilustração: René Magritte]

*Advogado, ex-secretário executivo de Direitos Humanos de Pernambuco
A realidade é furta-cor https://bit.ly/3Ye45TD

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