21 fevereiro 2024

Os tempos do futebol

Os Nerds e os saudosistas

O futebol moderno mistura o passado com o presente
Tostão/Folha de S. Paulo

 

Precisamos conhecer o passado para entender o presente e programar e sonhar com o futuro. Não podemos ser moderninhos e achar que a vida e o futebol começaram com a internet e com as milhões de estatísticas e nem ser saudosistas, defender que tudo no passado era melhor e mais autêntico. Antes, como agora, havia times e jogadores muito bons e muito ruins.

Coletivamente, não há dúvidas de que o futebol hoje é mais intenso, tem mais pressão para recuperar a bola, existem mais variações táticas, jogadas ensaiadas e que os jogadores executam mais ações técnicas, como os goleiros que sabem jogar fora do gol, zagueiros que tem melhor passe, atletas que cruzam bolas mais fortes e mais perigosas e outros detalhes. 

Por outro lado, havia mais encanto no passado. O que não se pode é achar que o futebol era sempre tão bom quanto o das seleções campeãs do mundo e dos grandes times brasileiros que brilharam durante décadas, como o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha.

O futebol moderno mistura o passado com o presente. Na coluna anterior, escrevi que o Real Madrid goleou o Girona sem ter um atacante fixo, pois Bellingham pelo centro e Vinicius Junior e Rodrygo pelas pontas se posicionavam no campo do Real quando o time era atacado.

Em uma fração de segundos os três chegavam à área adversária. Lembrou-me o Bangu dos anos 50, quando o centroavante Parada recuava e lançava para os pontas velozes que entravam em diagonal para receber a bola nas costas dos defensores. Assim o Bangu foi campeão carioca.

Manchester City viaja no tempo e ataca como no início do futebol, em 1863, quando os times jogavam com dois zagueiros, três médios e cinco atacantes (2-3-5).

Os dois laterais do City formam um trio de armadores junto com o centro médio (volante) Rodry. Os dois meias avançam e se juntam com o trio de atacantes (dois pontas e um centroavante, formando uma linha de cinco no ataque).

O City pode jogar assim com enorme sucesso porque quando perde a bola no campo adversário a recupera rapidamente, porque a equipe raramente erra um passe e porque o goleiro e os rápidos defensores se posicionam corretamente para receber o contra-ataque.

A filosofia e o jogo do City começaram com o início do futebol, em 1863. Para evitar o confronto físico, o primeiro treinador, inglês, pedia que os jogadores se aproximassem para facilitar a troca de passes. Assim joga o City, o Arsenal, o Real Madrid, o Fluminense e muitas outras equipes espalhadas pelo mundo, embora vários técnicos prefiram os passes longos e a pressa para chegar ao gol.

Fernando Diniz, com frequência, recua o ótimo volante André para a zaga para facilitar o passe mais de trás. Não dou importância a essa conduta porque André faz falta no meio campo e o time já tem um zagueiro com bom passe (Felipe Melo). Isso não é novo. Na Copa de 70, Zagallo recuou o volante Piazza para ser zagueiro e melhorar o passe da defesa, já que o reserva Fontana só dava chutões.

O atual futebol brasileiro incorporou o conhecimento científico, o que é essencial, mas vive uma crise de identidade. Está confuso, sem saber o que deseja, dividido entre o passado e o presente, entre o individual e o coletivo, entre a disciplina tática e a improvisação, entre o passe e o drible, entre o jogo ativo e o reativo, entre o real e o ideal e entre a beleza do espetáculo e o aumento da audiência, do faturamento, não tem que ser uma coisa ou outra.

Os grandes times do mundo utilizam filosofias diferentes na mesma partida de acordo com o momento. O futuro já chegou.

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