12 maio 2024

Futebol: escalar é ciência e arte

Guardiola e Ancelotti sabem colocar os jogadores nos lugares certos

Atletas precisam encontrar seu lugar no campo, e pessoas devem achar melhor maneira de viver
Tostão/Folha de S. Paulo

 

Um dos chavões do futebol moderno é o de que os jogadores necessitam saber jogar bem em mais de uma posição e ter mais de uma função em campo. Não é tanto assim. Não se pode confundir as movimentações durante as partidas, cada vez mais intensas e necessárias, com a mudança de posição desde o início do jogo.

Muito mais importante ainda que jogar bem em várias posições é saber executar com eficiência todos os fundamentos necessários durante o jogo. Um volante que avança necessita ter talento para trocar passes e finalizar bem. O mesmo raciocínio serve para todas as outras posições em campo.

Independentemente do que ocorrerá no jogo entre Flamengo e Corinthians, Bruno Henrique e Gabigol não são pontas para atuar abertos, como Everton Cebolinha, nem são centroavantes como Pedro. Nos seus melhores momentos no Flamengo, Bruno Henrique e Gabigol brilharam por se deslocar dos lados para o centro para decidir as jogadas.

A maior dificuldade do Flamengo não é técnica, tática nem de falhas do treinador Tite. O principal problema é a prepotência, que existe dentro e fora do clube, de achar que o elenco e o time só tem craques, que é muito melhor do que todos os outros e que deveria ganhar com facilidade as partidas.

Discordo das opiniões de que existe grande superioridade do elenco do Flamengo sobre o do Palmeiras. Abel Ferreira utiliza o ótimo elenco criando variações na estratégia de jogo, de acordo com o estilo dos jogadores e do adversário. Já Tite substitui jogadores, mas quase sempre mantém o desenho tático.

Endrick, com ajuda de Abel Ferreira, procura melhor posição de referência no campo. Já atuou pelas pontas direita e esquerda atacando e defendendo, na função de Raphael Veiga, na de centroavante e como segundo atacante, da meia direita para o centro, mais próximo do centroavante, onde penso que brilha ainda mais.
 

Cristiano Ronaldo, que já se destacava bastante no Manchester United atuando da ponta esquerda para o centro, tornou-se espetacular no Real Madrid, sob comando de Ancelotti, quando passou a ser um atacante pelo centro, para aproveitar sua extraordinária capacidade de finalização.

Algo parecido ocorre com Vinicius Junior, que tem jogado muito pelo centro ou entrando em diagonal da esquerda para o meio. Vini não é mais no Real o ponta-esquerda que atacava e voltava para marcar pelo lado, como ainda joga na seleção. Ele, no momento, é o mais forte candidato a ganhar o título de melhor do mundo deste ano.

Messi, no início de sua carreira no Barcelona, jogava pela ponta direita, driblando para o centro. Se continuasse nessa posição, seria excepcional, mas igual a vários outros.

Segundo historiadores, na véspera de um jogo contra o Real Madrid, Guardiola, que estudava a partida, telefonou para Messi para que ele fosse imediatamente ao clube. O técnico disse a ele para receber a bola entre os volantes e os zagueiros, não mais na ponta direita. A partir daí, Messi se tornou um dos maiores fenômenos da história.

Guardiola e Ancelotti, que se destacam entre tantas qualidades por colocar os jogadores nos lugares certos, possuem em comum o fato de ter sido meio-campistas, com ótimos passes e ampla visão do jogo e do conjunto. Enxergam mais que os outros.

Assim como os atletas precisam encontrar o seu melhor lugar em campo, as pessoas necessitam descobrir a sua melhor maneira de viver. Cada um faz do seu jeito.

Leia: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/04/uma-cronica-de-ruy-castro.html

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