O que as pesquisas podem falar sobre Lula...
Wallace Melo Barbosa*
As
pesquisas de opinião são importantes instrumentos, que, junto a outras fontes
de análises, propiciam que pessoas, grupos, empresas, organizações
sociais, instituições públicas, parlamento ou governantes, construam decisões
ou caminhos a serem percorridos, bem como proposições de metas, cenários e
comportamentos. São ferramentas que, no âmbito da ciência política, da
sociologia e da economia se consolidam como recursos de relevância singular,
seja para realização de estudos teóricos, seja na proposição de metodologias ou
produtos específicos dessas áreas.
É claro que somente a
coleta de opiniões e informações feitas pelas pesquisas, de opinião ou de
levantamento (surveys), por meio de amostras e estatísticas, não exprimem
verdades absolutas ou incontestáveis, mas, enquanto fontes, podem, junto a
outros recursos, orientar bem um planejamento ou tomada de decisões acerca de
alguma potencial conjectura.
Mas, chamo essa atenção,
justamente por outros aspectos que avalio ser singularmente importantes, quando
o tema em questão são tais levantamentos estatísticos. Refiro-me aqui, as
possibilidades de leituras e o cruzamento de diferentes análises. Faço
referência a esses pontos, pois, ao meu ver, ainda que os números ou
percentuais nos apresentem realidades, existe uma opinião, sobretudo na ciência
política, que aponta como a maioria dos erros encontrados na feitura de uma
pesquisa não são aqueles de ordem técnica ou metodológica, mas na
interpretação.
Em outras palavras,
saliento que os números revelam, mas em determinadas circunstâncias, eles se
mostram “secos”, principalmente quando desprovidos de leituras ou uma boa
interpretação. E para isso, sempre que posso, sugiro como caminho para obtermos
uma boa análise de resultados, o cruzamento entre diferentes pesquisas que
versam sobre um mesmo objeto ou realidade.
E para ilustrar bem o
raciocínio, vejamos o que algumas pesquisas tem mostrado quanto ao governo
Lula:
Na segunda quinzena de
maio, a consultoria em pesquisa, Quaest publicou o resultado de um levantamento
feito com 183 deputados federais
e apontou que, 42% desses parlamentares avaliam o governo Lula como
negativa, principalmente entre os ditos “independentes”.Para chegar a tal
conclusão, foram apresentadas perguntas relacionadas a relação e a atenção do
governo com a Câmara, a direção que o país está indo, bem como a aprovação de
projetos na casa legislativa.
O mesmo orgão também
apresentou, por meio de outra pesquisa, que a avaliação negativa do mercado
financeiro ao governo federal ficou em 64%, de acordo com o levantamento
feito com 101 fundos de investimentos, com sede em São Paulo e Rio de
Janeiro, onde foram entrevistados gestores, economistas, traders e outros
profissionais atuantes no setor. Mas, a avaliação positiva sobre o ministro
Fernando Haddad ficou em 50%.
Por outro lado, de acordo
com os dados apresentados em abril, pelo Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), o Brasil fechou o primeiro trimestre de 2024, com um
saldo positivo de 244.315 empregos formais, melhor acumulado, desde 2020, o que
fez o país chegar a 2,2 milhões de empregos com carteira assinada, nos últimos
15 meses.
E por fim, também no mês de
maio, a pesquisa realizada pelo The Good Food Institute (GFI) Brasil, revelou
que, após o governo Lula, a carne voltou a ocupar um lugar central na
dieta dos brasileiros, revelando o percentual de 56% dos entrevistados,
que admitiram consumir proteína bovina duas ou mais vezes por semana.
Frente a todos esses dados
e percebendo as concepções políticas que alicerçam o governo Lula, bem como
natureza do seu programa de governo, como podemos relacionar essa ampliação na
geração de empregos e o aumento do consumo de carne bovina dieta na dieta das
famílias brasileiras, com a opinião negativa dos deputados federais e do
mercado financeiros em relação ao presidente?
Lembremos, as pesquisas revelam, mas não interpretam.
Wallace Melo Barbosa – professor da educação básica e superior, compõem a direção do Sinpro Pernambuco, CTB-PE e atual presidente da FITRAENE
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