22 julho 2024

Enio Lins opina

É preciso pensar como sobreviver sem a internet e outras coisinhas
Enio Lins   

Parte do mundo, na sexta-feira, 19, penou um apagão tecnológico que causou interrupção nos serviços bancários, tráfego aéreo (cinco mil voos foram cancelados), comunicações em geral, atendimentos de emergência e tudo mais que depende da internet & companhia. Um caos. E o problema é que tudo no mundo, hoje, depende da internet & companhia.

TECNOLOGIA E DEPENDÊNCIA

Não é novidade a dependência tecnológica. Errado é entender isso como o “mal da internet”, ou mergulhar no saudosismo anticivilizatório do tipo “bom era no tempo das fogueiras”. O mundo anda pra frente, como Darwin bem demonstrou na tese da evolução das espécies – e isto vale para a ciência. Você pode manter em casa uma máquina de datilografia, ótimo; ou um telefone analógico, ou um ferro de engomar alimentado à brasa. São relíquias que podem até ser úteis nalgum momento, mas não cumprem mais papel nos procedimentos cotidianos. É possível tentar acender o fogo para um churrasco batendo uma pedra na outra até aparecer uma faísca, ou atritando dois pedaços de pau, mas o velho e bom palito de fósforo inventado (por acaso) pelo alemão Henning Brand, em 1669, ainda é um a tecnologia utilíssima e não totalmente superada pelos acendedores eletrônicos. A humanidade sempre dependeu dos avanços da ciência, mas precisa de alternativas às tecnologias do momento.

USOS MUNDIAIS

Desde os tempos dos grandes impérios, como o Romano, as soluções tecnológicas se espalharam rapidamente para muito além das fronteiras das comunidades onde eram inventadas. E muitos instrumentos foram criados em tempos diversos e lugares sem nenhuma comunicação entre si. A roda é o maior caso de sucesso mundial e ninguém nunca soube precisar o endereço de sua invenção, embora a Arqueologia identifique a representação mais antiga desse apetrecho nas ruínas de Ur, no atual Iraque, nos idos de 3.500 a.C. – e o mundo passou a depender ad aeternum dessa peça. As poucas tribos isoladas ainda sobreviventes no mundo contemporâneo usam arcos e flechas idênticos aos que os antigos povos usavam em quaisquer regiões da Terra, e essa arma segue útil e mortal, mesmo em tempos de mísseis teleguiados e fuzis de assalto.

ALTERNATIVAS INDISPENSÁVEIS

Temos, no filme Apocalipse Now, uma cena emblemática: um personagem, militar altamente treinado para matar, integrante da equipe do capitão Willard, equipado com armas de guerra altamente tecnológicas, como os fuzis M14 e M16, bombas de napalm e lança-foguetes, é trespassado por uma singela arma de madeira e, perplexo, incrédulo, exclama “uma lança!” antes de morrer, em suas últimas palavras ao constatar (no próprio corpo) a eficiência letal de um artefato inventado há milhares de anos. Na paz, existem acessórios tidos como antiguidades, mas que seguem capazes de cumprir suas funções, seja nas linhas de produção, seja nos lares e nas ruas. E, ainda mais importante, os saberes acumulados são capazes de produzir alternativas tecnológicas à maior parte das invenções contemporâneas. Assim não tem sido em termos de progr amas (softwares) e máquinas (hardwares) neste tempo informatizado? Então já passa da hora da tradicional concorrência capitalista arregaçar as mangas e evitar que um bug qualquer detone a vida e a economia de um momento para outro nos mais variados lugares da terra. E enquanto isso não acontece na escala necessária, vá pensando como reagir à perda momentânea do WhatsApp, da conexão com seu banco, ou mesmo como fazer frente à velha e sempre impactante falta de energia elétrica. Saídas existem.

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