O peso e o sentido do gesto*
Luciano Siqueira
Quando eleito pela primeira vez presidente da República, e antes ainda da posse, Lula nos fez uma visita à Prefeitura do Recife, onde almoçou com o prefeito João Paulo, eu e alguns convidados.
Num determinado instante, conversávamos
Cristóvão Buarque (que viria a ser ministro da Educação) e Armando Monteiro
Filho (ex-ministro da Agricultura no breve governo parlamentarista) sobre os
desafios da economia de então.
Lula se aproximou e, a propósito do
tema, nos disse estar consciente da gravidade da situação e que não correria o
risco de “virar um De la Rua” (referindo-se ao fracassado ex-presidente
argentino) e evitaria dar passos além do tamanho das próprias pernas,
dispondo-se a negociar inclusive com oposicionistas extremados.
Agora, em sua terceira experiência como
presidente e enfrentando situação muito mais complexa do que as anteriores, sob
correlação de forças no mundo e no Brasil muito difícil, o presidente tem exercitado
com ousadia e habilidade sua capacidade de diálogo.
Age corretamente.
Tanto no âmbito do próprio governo,
coalizão ampla e de variada composição democrática; como com oponentes, sem
restrições.
Mas, cá com meus modestíssimos botões e sem arredar o pé da concepção tática ampla, flexível e consequente do meu partido, o PCdoB, tenho dúvidas sobre a oportunidade e o valor do gesto praticado pelo presidente da República, agora em Nova York, onde esteve para a sessão plenária da ONU e se reuniu com representantes das agências de classificação de riscos Standard & Poor's e Moody's.
Como se sabe, essas agências são empresas que se dedicam à análise do desempenho de outras empresas e de países e emitem "notas de crédito" (ratings) que atribuem a cada emissor de dívida.
Isto, obviamente, do ponto de vista do
capital financeiro internacional, absolutamente à margem dos interesses
próprios das nações.
Por conta desse pedigree, o
ex-presidente do BNDES no primeiro governo Lula, Carlos Lessa, em palestra na
Federação das Indústrias de Pernambuco, certa vez declarou, bem ao seu estilo
irônico, que quando ouvia alguém falar nas notas emitidas por essas agências em
relação ao Brasil, tapava os ouvidos.
“É a voz do mercado, nada a ver com os
interesses nacionais”, justificou.
Será que o presidente do Brasil
precisa conversar pessoalmente com representantes dessas agências?
*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho
Leia também: para além do mercado https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/06/economia-cresce.html
❤️❤️❤️🤝🤝🤝
ResponderExcluir