A casa de Fernando e Lúcia Maria
Luciano Siqueira
Creio que acontece com todos os viventes, particularmente aqueles que, como eu, já engataram a sétima década de vida e guardam muitas lembranças.
De vez em quando, em flashback, retorno a ambientes e fatos do passado.
Como nesse instante em que saboreio uma tulipa de cerveja e visito, na rede da varanda, uma coletânea de crônicas de Vinícius de Moraes.
Talvez durante 15 anos consecutivos, entre o Natal e o Ano Novo, nos beneficiamos da generosidade dos amigos Fernando e Lúcia Maria e frequentamos a casa deles em São José da Coroa Grande.
Era tudo o que queríamos: de frente para o mar, edificação simples porém muitíssimo confortável.
No andar térreo, sala, cozinha e terraço que se prolongava no gramado estendido até o portão.
Íamos com filhas, genros, netos, sobrinhos e agregados.
Embaixo, permanente algazarra: o voleibol improvisado, feijoada ou rodada de
guaiamum, muita conversa jogada fora...
No andar superior, onde ficavam três dormitórios convertidos em alojamento para
muita gente que ocupava camas, redes e espaços ao chão, meu reduto particular: uma
rede, banquinho com a garrafa de uísque e um balde de gelo, pratinho com
tira-gosto e um livro: poesia, crônicas, contos romance...
Já há algum tempo aquele palacete tão simples e tão prazeroso não pertence a
Fernando e Lúcia; o avanço do mar lhe subtraiu o gramado da frente e os novos
proprietários transformaram a casa simples e agradável numa espécie de pequeno
palacete envidraçado ao estilo dos ricos da cidade.
Como tudo verdadeiramente importante na vida, entretanto, o que vivemos ali
permanece presente em nossos espíritos. Fecho os olhos e revivo pessoas,
coisas, diálogos, fatos do nosso tempo naquele oásis maravilhoso.
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Muito bom ter na memória afetiva momentos salutares em família e com amigos. Carmen Eliza
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