O FIO DA MEADA
Era apenas um novelo
De linhas, amarelado,
No fundo de uma gaveta,
De um velho armário,
Bastante emaranhado.
Seguro-o em minhas mãos,
Olho, muito atentamente,
Aquele novelo de linhas,
Com cores tão diferentes,
Com um cheiro adocicado,
De lembranças do passado.
Observo um fio solto,
Que, ao tentar puxar,
Encontro certa dificuldade,
Como se fosse a saudade,
Que o tempo ajudou passar.
Delicadamente o liberto,
E, ele parece mostrar,
Algo, que não conseguia ver,
Que nunca procurei entender,
Pois, era difícil assimilar.
Comecei, então, a perceber,
Que um vendaval de lembranças,
Chegaram de uma só vez.
Era eu com outras crianças,
Na minha, inesquecível infância.
Soltando este fio um pouco mais,
Lá se encontrava minha escola,
Meus colegas e professores ,
Que para mim representavam,
Os meus primeiros amores.
Alguns metros de fio a mais,
Já haviam sido puxados,
Quando então percebi,
Estar em minha adolescência,
Cheio de vida e inocência,
Procurando experiências mil,
Para atender minhas ilusões.
No pedaço mais forte do fio,
Lembrei das primeiras experiências,
Em busca do caminho da paixão,
Como uma película luminosa ,
Cobrindo os olhos e o coração.
No trecho seguinte do fio,
Lembrei de uma fotografia,
Que muito me dizia.
Era a turma do colégio,
Hoje, coma alguns ausentes,
E, tantos ainda presentes.
Todos querendo dizer ,
Que a foto seria inesquecível.
Retrato dos melhores dias
De nossas vidas.
No pedaço do fio, desgastado,
Lembrei, um período passado,
Já chegando na fase adulta.
Quantas dificuldades no caminho,
Onde existia a missão:
Ter família e profissão.
Depois de muito meditar,
Chegaram os questionamentos,
E, não eram só pensamentos,
Era uma coisa real e pura,
Que me trouxe a uma reflexão,
Que aquele novelo era minha vida,
E se encontrava em minhas mãos.
[Ilustração: Joan Miró]
*Médico cardiologista, poeta
Tenho o orgulho de fazer parte do ciclo de amizades desse médico e poeta Maurilio Rodrigues. Suas expressões literárias são comoventes e com o crivo de quem na realidade conhece o coração humano e a alma de quem o conduz
ResponderExcluirBelíssima poesia do grande médico, grande poeta, grande homem!
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