18 setembro 2024

Uma crônica de Geórgia Alves

De quem a Natureza deseja de extrair grandes coisas
Geórgia Alves* 

De quem a Natureza deseja extrair as grandes coisas? Das menores mulheres do mundo. As menores mulheres de todo o mundo estão em São Paulo. São mulheres encenadas pelo desejo do homem de extrair as grandes coisas da Natureza do mundo. As maiores riquezas do mundo. Da casa, da família, do vasto saber das coisas grandes, de todo o vasto universo. O mundo encerrado naquilo que chamam do lar. As menores mulheres do mundo estão todas se espremendo nas vigas do masp e por mais que o tempo passe estarão sempre entre a sombra e as sobras de uma luminosidade. As menores mulheres do mundo estão entre uma marquise e outra do metrô Paulista com suas ancas largas e seus ombros estreitos, por mais que o mundo insista em reduzi-las continuaram firmes sendo apenas as menores mulheres do mundo, que os homens medem para fazer caber no bolso da camisa. As menores mulheres do mundo são firmes, mas falam com jeito Manso. Se lhes faltar a doçura de quem foge à educação dos gestos, já viu. Enquanto homens esbravejam e arremessar contra os ares seus pugilismos silábicos. As menores mulheres do mundo estão na mira da Natureza que espera extrair delas grandes feitos. As menores mulheres do mundo carregam no rosto os olhos fundos, os cílios turvos e estão todas neste exato momento em São Paulo onde todas são novas. As novas de ontem são hoje as mulheres menores do mundo que habitam São Paulo. Espremendo pelas esquinas da grande cidade devoradora de sumos. Dando aos que vagam um fio mais de agasalho. As menores mulheres do mundo são vista pelo gigantismo dos homens como seres de olhos baixos, de pensamentos prescrutradores fundos... as menores mulheres do mundo nasceram todas para os bons modos, enquanto a massa de homens Machados forçudos apontam seus feitos virulentos pelos arranha-céus. As mulheres continuam obrigadas a polir suas unhas. Somente a eles se permite a exposição em punhos. Elas que pulem em círculos de seus lugares as menores mulheres do mundo são anãs de pequenos pulos. As menores mulheres do mundo estão todas em São Paulo porque é o melhor que fazem: conter a desordem superlativa dos maiores homens do mundo. As menores mulheres do mundo estão todas em solo Paulista e muito bem o fazem para dar a ver o que desejam extrair do mundo os homens do sumo poder.E tudo o que o mundo dos homens está disposto a dar a ver. As menores mulheres do mundo nasceram nas periferias e buscam sem cansaço a paridade do espaço. Nascem de pais poetas, mães professoras, chegam às duas e meia da manhã nos portões dos postos de saúde. Os maiores homens do mundo dão as menores mulheres do mundo a chance de parir seus filhos, mas são eles que os educam para serem como esperam os homens do mundo. Às mulheres do mundo é dado o destino das mães, dos meses de maio, que sejam as menores mulheres do mundo e que Deus as ampare enquanto um púlpito erguido de modo temporário será do tudo o nicho que lhe foi reservado. As menores mulheres do mundo seguem em olhares abismados a observar os jatos e o desatino com o peito cismado qua do lhes é destinado o olhar de um dos maiores homens do mundo. As mulheres do mundo são obrigadas a fazer o tempo todo o certo, enquanto os homens erram e seus erros os fazem mais e mais eretos. O correto. Somente o correto é permitido às menores mulheres do mundo em seus ares de coreto da praça. Pois logo essa violência passa. Logo essa violência passa.

Esse é o maior feito que a Natureza deseja extrair das menores mulheres do mundo.

[Ilustração: Bela de Kristo]

*Escritora




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