13 outubro 2024

Pálida seleção brasileira

Atuação do Brasil em vitória sobre o Chile não foi boa nem ruim
Time que triunfou em Santiago foi uma seleção comum, parecida com tantas outras
Tostão/Folha de S. Paulo  

A atuação da seleção brasileira na vitória por 2 a 1 sobre o fraquíssimo Chile, com um gol no apagar das luzes, como diziam os narradores antigos, não foi boa nem ruim, nem rápida nem lenta, nem vibrante nem acomodada, nem criativa nem burocrática, nem racional nem romântica. Foi uma seleção comum, aceitável, pois precisava vencer, parecida com tantas outras seleções espalhadas pelo mundo. Não foi a seleção brasileira.

O gol do Chile nos primeiros minutos facilitou para o Brasil porque os chilenos recuaram para garantir o placar, o que permitiu à seleção brasileira pressionar, mesmo sem intensidade e criatividade, com exceção dos dois pontas-direitas, Savinho, que driblou e passou para Igor Jesus marcar, e Luiz Henrique, que entrou no lugar de Savinho e fez um belo gol. O Brasil está virando um país de pontas dribladores. Porém o time não pode criar dependência dos pontas, que serão muito bem marcados por adversários mais fortes.

Faltou à seleção brasileira, como é habitual, um craque no meio-campo, marcação por pressão para recuperar mais a bola no campo adversário, mais domínio, mais compactação. Havia muitos espaços no meio-campo, pouca aproximação dos jogadores no setor, o que dificultava a troca de passes, além de facilitar para o Chile.

Igor Jesus estreou com um gol, que é ótimo para ele. Porém, para se tornar um centroavante regular e de destaque na seleção, terá de participar mais do jogo, dificultado pela pouca troca de passes pelo centro. Outro estreante, o lateral esquerdo Abner teve atuação discreta, como outros jogadores que ocuparam essa posição. Raphinha me surpreendeu ao atuar tão bem pelo centro no Barcelona e voltou a me surpreender pela atuação apagada nessa posição. Um dos motivos, certamente, é a pouca troca de passes no meio-campo da seleção, ao contrário do que ocorre no Barcelona.

Uma das dificuldades de Dorival Júnior é definir a equipe, pois, com exceção de Vinicius Junior, indiscutível titular, há uns dois ou três jogadores de níveis técnicos parecidos em quase todas as outras posições. Dorival deveria valorizar bastante os jogadores que se completam em suas características técnicas e físicas. Não pode se basear somente nos resultados. Em jogos equilibrados, as vitórias estão sempre muito próximas das derrotas.

A prática comum dos treinadores de colocar mais atacantes para resolver problemas ofensivos, coletivos e individuais geralmente não funciona. Um time ofensivo não é o que tem mais atacantes, mas sim o que chega com mais jogadores vindo de trás ao ataque, com organização. Quem ataca é atacante.

Manchester City, por pressionar e estar na maior parte do jogo com a bola no campo do adversário, ataca quase sempre com seis ou sete jogadores: o centroavante, dois pontas, dois meio-campistas e um dos laterais, além, muitas vezes, do volante centralizado, que inicia as jogadas. Há sempre três ou quatro defensores bem posicionados no próprio campo para receber o contra-ataque.

O City avança sempre com muitos jogadores próximos trocando passes, circulando a bola pelo centro e pelos lados até surgir o momento certo de chegar ao gol. Simples, claro e eficiente. O talento é tornar simples o que é complexo.

Leia sobre o "estilo de clichê" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/11/minha-opiniao_22.html

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