Presença
Mario Quintana
É preciso que a
saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e
que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um
frêmito em teus cabelos…
É preciso que a tua
ausência trescale
sutilmente, no ar, a
trevo machucado,
as folhas de alecrim
desde há muito guardadas
não se sabe por quem
nalgum móvel antigo…
Mas é preciso,
também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e
luminosa, no ar.
É preciso a saudade
para eu sentir
como sinto – em mim –
a presença misteriosa da vida…
Mas quando surges és
tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces
com o teu retrato…
E eu tenho de fechar
meus olhos para ver-te.
[Ilustração: Luiz Verri]
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