Enio Lins opina

Bilhetes ao Papai Noel, o Santa Claus que tomou a festa de Saturno
Enio Lins  

Ainda dá tempo de pedir presentes ao Papai Noel? Sim. Ele está sempre atento e, certamente, adquiriu aplicativos impulsionados à inteligência artificial para não deixar nenhuma encomenda encalhada. Mas, no caso das petições seguintes, não se tratam de presentes – são direitos. Não se trata de pedir, mas reivindicar o justo.

TRADIÇÃO PAGÃ
Santa Claus é como nosso Papai Noel é conhecido no mundo versado em inglês, como “uma derivação fonética de Sinterklaas, do holandês [São Nicolau]”, segundo a Wikipédia, que lembra também as origens do personagem na figura de Nicolau de Mira (santo cristão vivente no século IV), empenhado se apropriar e cristianizar a velha tradição pagã de distribuição de presentes a rodo no período da Saturnália, pândega muito anterior à invenção do cristianismo. A festança original em tributo ao deus Saturno, era comemorada, pelo calendário juliano, de 7 a 24 de dezembro. Sua finalização emendava com os festejos pelo aniversário do deus Mitra (de origem indo-iraniana), em 25 de dezembro, tudo com muita farra, bebida e comida. São Nicolau, espertamente, surfou nessa onda pagã e cravo u a véspera de Natal como o momento “cristão” de presentear a rodo, coisa que o capitalismo comercial elevou à enésima potência, a partir do mercado americano, desde os idos de 1823. Cobrar presentes nesta época do ano, portanto, é um bom negócio.

CARTA AO PAPAI NOEL

“Caro Papai Noel, o Brasil precisa receber, não como presente fortuito, mas como direito cidadão, um pacote de veredictos exemplares, capazes de fazer trincar a perniciosa e longeva tradição de golpes desferidos pelas forças armadas (com ou sem o apoio de civis). Nossa Democracia merece receber a notícia, depois dos adequados procedimentos constitucionais e penais, da aplicação de condenações justas para os empedernidos e irrecuperáveis golpistas que teimam em assolar nosso país, conforme pode ser atestado na mais recente tentativa, ocorrida em 8 de janeiro de 2023. Derrotada no mesmo dia, a intentona bolsonarista foi a expressão prática de um ideal nojento propagandeado por um ex-capitão seboso, cujo nome vós conheceis muito bem, mas desmerecedor de citação aqui para não gerar likes. Sabeis muito bem vossa senhoria que aquele vagabundo possui vas ta clientela, sendo seguido por milicos e milicianos, bem armados. Essas quadrilhas precisam ser presenteadas à altura de suas insurgências. Penas adequadas, duras, são pura expressão do justo e do meritório. Algo necessário à cidadania brasileira”.

PEDINDO MAIS

“Querido camarada Noel, me permita prosseguir: Vossa bonomia tem brindado a garotada da Faria Lima com juros exorbitantes, atualmente na casa dos 12,25% ao ano. Isso não é direito. E mais: não sei se foi vossa senhoria, mas esse clube do Bolinha (onde as meninas da economia popular não entram nem a pau) foi premiado com uma loquacidade estranha às teorias sobre Mercado. Pense num mercado falante! A versão brasileira de Mercado deixou de ser econômica e virou ideológica, vestindo a camisa patriotária e berrando ‘Mitooo!’. Essa turma está se transformando numa espécie de Primeiro Comando do Capital: chantageia, ameaça, sequestra (o desenvolvimento) e exige resgate exorbitante. Ô Papai Noel, chega de presentões para essa turma! Nesse périplo 2024, não inclua a Faria Lima nas ruas a trafegar com seu trenó (veículo provavelmente elétrico nest a quadra do tempo). Ajeite o Mercado e a Bolsa de forma que o Supermecado fique mais ao alcance do bolso do povo. Agradecendo antecipadamente, me despeço. Feliz Natal pro senhor também; e seja um bom velhinho para quem mais precisa”. Isto posto, vamos às saturnálias!

Veja: a mensagem fraterna do presidente Lula https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/12/lula-feliz-natal-e-um-2025-cheio-de.html