08 dezembro 2024

Futebol: a ciência e o talento

Inteligência natural deve comandar a artificial
Gol do Botafogo contra o Inter foi mistura de talento individual com planejamento ensaiado  
Tostão/Folha de S. Paulo 

Neste domingo (8), última rodada, conheceremos o campeão brasileiro, os classificados para Libertadores e Sul-Americana e os rebaixados para a segunda divisão.

As principais equipes brasileiras são, a cada dia mais, uma seleção de jogadores sul-americanosOs melhores vão para a Europa, e os logo abaixo estão no Brasil. Isso é resultante da enorme diferença financeira e de investimentos entre os clubes. Já no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o Brasil está abaixo de Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia, Equador e Peru.

Corinthians deu um salto de qualidade com a chegada de reforços. Se não tivesse melhorado tanto a qualidade individual, o sistema tático e o treinador seriam bastante criticados, como ocorria quando o time estava na zona de rebaixamento.

O desenho tático do Corinthians, formando um losango no meio-campo, com um volante centralizado, um meio-campista de cada lado e um excelente meia de ligação (Garro), além da ótima dupla de atacantes (Memphis e Yuri Alberto), é uma maneira de jogar antiga que tem sido abandonada pelos esquemas táticos atuais, com dois pontas abertos e um centroavante.

Real Madrid, nos seus melhores momentos da temporada passada, jogava como o Corinthians, com três no meio-campo, Bellingham entre os três e a dupla de atacantes formada por Rodrygo e Vinicius Junior. A dupla de atacantes já foi uma tradição brasileira, como a formada por Bebeto e Romário na seleção campeã do mundo em 1994. A ausência de pontas é um problema, pois o lateral tem de defender e avançar, além de não ter o auxílio de um ponta na marcação.

Todos os desenhos táticos usados hoje no Brasil e no mundo que usam uma linha de quatro defensores são resultantes do tradicional esquema tático com duas linhas de quatro e dois atacantes, utilizado pelo Brasil na Copa de 1994. Os dois jogadores pelos lados marcam ao lado dos dois volantes. A deficiência dessa formação tática é o fato de os dois volantes ficarem muito longe da dupla de atacantes, razão da presença posterior de um meia de ligação.

A Inglaterra, campeã do mundo de 1966, foi a primeira equipe a utilizar as duas linhas de quatro. Mas não havia pontas. Era uma linha de quatro armadores que, alternadamente, marcavam e avançavam

Hoje, por causa da enorme intensidade e da movimentação dos jogadores, não há mais lugar para analisar a maneira de jogar da equipe pelo desenho tático. Muda a cada instante. Muito mais importantes são a capacidade de ter times compactos, de defender e atacar em bloco sem deixar muitos espaços entre setores, de alternar a marcação mais avançada e mais recuada, de variar o estilo de reter a bola, trocando passes, com as transições rápidas da defesa para o ataque, e vários outros detalhes. Como regra, tudo depende da qualidade individual.

gol do Botafogo contra o Inter foi uma mistura de talento individual com planejamento ensaiado. Após um curto escanteio e um passe perfeito de Almada, Savarino, da entrada da área, acertou um belo e preciso chute. É a união da inteligência natural com a artificial. A natural deve comandar a artificial. Parafraseando Charles Chaplin, somos humanos, não somos máquinas.

Leia sobre as fragilidades do futebol brasileiro https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/02/futebol-brasileiro-impasses.html 

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