05 dezembro 2024

Palavra de poeta: Adélia Prado

Com licença poética
Adélia Prado   

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

 

Mulher é desdobrável. Eu sou.


[Ilustração: Fillip Malyavin]


Leia sobre detalhes que importam https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/08/minha-opiniao-por-um-triz.html

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