28 fevereiro 2025

Brasil: o Oscar e o Carnaval

Carnaval: resistência e disputa pelo espaço público

Os pesquisadores Guilherme Varela (UFBA) e Gilvan Paiva (UFC) destacam que o Carnaval vai além da festa, funcionando como um termômetro dos conflitos sociais. Para Varela, ele expõe desigualdades por meio de sátiras e fantasias, enquanto Paiva vê a folia como “desbravadora de costumes”.

A história do Carnaval é marcada por tentativas de controle. Para Paiva, “o poder teme a rua sem vigilância”, e Varela aponta a “domesticação” da festa, com blocos transformados em escolas de samba e o avanço de circuitos privatizados e camarotes. “Quando força policial e capital se unem, temos a combinação perfeita para ameaçar a essência do Carnaval”, alerta Varela.

Embora o evento movimente R$ 12 bilhões em 2025, a apropriação corporativa ameaça sua identidade. Em Salvador, 40% dos circuitos são privatizados via abadás, e a festa se torna um negócio lucrativo para grandes marcas, enquanto artesãos e ambulantes enfrentam condições precárias.

O Carnaval também é alvo de criminalização e judicialização. Projetos de lei tentam restringir blocos em cidades como Florianópolis e Curitiba, enquanto disputas judiciais alegam “poluição sonora”. Varela destaca: “O Carnaval é um direito de protesto e um exercício de democracia”.

Cinema brasileiro no Oscar: impacto e desafios

O filme Ainda Estou Aqui levou quatro milhões de brasileiros aos cinemas e concorre ao Oscar de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz (Fernanda Torres). Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, retrata o desaparecimento do deputado Rubens Paiva durante a ditadura militar. No podcast, o cineasta Caio Plessman analisa o impacto da obra e os desafios do setor audiovisual brasileiro.

Para Plessman, o sucesso do longa reflete o momento político do país e a necessidade de revisitar crimes da ditadura. O STF, por exemplo, reabriu o caso Rubens Paiva como “crime contra a humanidade” após o lançamento do filme.

A presença de Ainda Estou Aqui na principal categoria do Oscar representa um avanço para o cinema do Sul Global. No entanto, a indústria nacional ainda enfrenta desafios, como a baixa ocupação de mercado (14% das bilheteiras, ante 40% na era da Embrafilme), a ausência de salas de cinema em 90% dos municípios e a concorrência desigual com plataformas de streaming.

Plessman defende políticas públicas para fortalecer o setor, como um cine teatro por cidade e ingressos acessíveis. Para ele, Ainda Estou Aqui já deixou seu legado, revitalizando o debate sobre memória e democracia, ampliando o diálogo global sobre ditaduras e fomentando novos investimentos no cinema brasileiro. “O mundo precisa do nosso cinema. Esse filme não é só sobre o Brasil, mas sobre a luta universal entre democracia e autoritarismo”.

Leia: Carnaval: rebeldia e prazer https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/meu-artigo-para-o-portal-grabois-4.html

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