29 maio 2025

Enio Lins opina

O combate guerreiro, perene, ao dragão da maldade
Enio Lins 

DEPOIS DE 16 ANOS de andamento judicial, foi finalizado um processo de duplo assassinato ocorrido na capital paranaense. Em decisão proferida no dia 23 de maio deste ano, uma sujeito chamado Ricardo Barollo foi condenado como mandante das mortes de Bernardo Dayrell Pedroso e Renata Waechter Ferreira. Até aí, seria mais um julgamento sobre homicídios, coisa lamentavelmente corriqueira em todo lugar. Mas esse episódio contém uma particularidade que traz à tona um perigo que muita gente supõe morto e sepultado desde o final da II Grande Guerra.

AO VOLTAREM DE UMA FESTA, na noite de 20 de abril de 2009, Bernardo e Renata, com 24 e 21 anos de idade, respectivamente, foram assassinados. Ele estudante de Direito em Minas Gerais; ela aluna do curso de Arquitetura na PUC/PR. Formavam um casal, ambos militantes neonazistas. A festividade que participaram era a comemoração do 120º aniversário de nascimento de Adolf Hitler (20 de abril de 1889). As mortes foram encomendadas, segundo as provas recolhidas, pelo líder da própria facção neonazista. Trata-se de algo muito mais terrível que o terror do assassinato por encomenda, pois descortinou mais um grupo devotado a Hitler. Isso no Brasil, em pleno século XXI.

REPORTAGEM PUBLICADA no diário paranaense Gazeta do Povo, em 2 de maio de 2009, informa: “Seis pessoas foram presas por suspeita de envolvimento na morte de um casal, na semana passada, na região metropolitana de Curitiba. Segundo a Polícia Civil, o crime foi motivado por divergências políticas e disputa de poder dentro de um grupo neonazista. Jairo Maciel Fischer, de 21 anos, e João Guilherme Correa, de 18 anos, teriam sido os autores dos disparos. Foram apresentados ainda Rosana Almeida, 22 anos, Gustavo Wendler, de 21 e Rodrigo Mota, 19 anos. Em São Paulo, foi preso o economista Ricardo Barollo, 33 anos, acusado de ser o mandante do crime. Ao todo, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A arma do crime teria sido encontrada no Rio Grande do Sul. Além disso, foi apreendido material de apologia ao nazism o”.

ACRESCENTOU A GAZETA DO POVO: “segundo a polícia, grupos neonazistas na capital paranaense continuam atraindo novos simpatizantes e tornaram-se referência para adeptos do nazismo dentro e fora do Brasil. Eles planejam a criação de divisões armadas para perseguir judeus, negros, homossexuais, comunistas e qualquer grupo ou indivíduo que se oponha à ideologia de ultradireita”. Isso há 16 anos. O que mudou nesse espaço de tempo? No Brasil, as divisões dedicadas à perseguição de semitas (que não sejam sionistas), negros, homossexuais, comunistas e qualquer grupo ou indivíduo que se oponha à ideologia de ultradireita ocuparam a presidência da República entre 2018 e 2022 e, derrotadas nas urnas, tentaram um golpe de Estado para seguir no poder; derrotada nas ruas, essa súcia estrebucha para fugir à Justiça.

E COMO CAMINHAM as ideias hitleristas no mundo? Na Ucrânia, símbolos nazistas voltaram a ser usados acintosamente, e grupos neonazistas armados (como os batalhões Azov, Aidar, Kraken e Carpatian Sich) ampliaram seu peso com a chegada do autocrata Zelensky ao poder. Em Israel, o genocídio imposto aos palestinos expõe os corações e as mentes nazistas do comando sionista, numa afronta inominável aos judeus vítimas dos genocidas nazifascistas. Na Itália, a neofascista Giorgia Meloni é aclamada pelas urnas. Na França, Marine Le Pen, por pouco, não ganha a presidência da República. Aqui e alhures o nazifascismo segue vivo e perigoso, mortal. Evitam, os nazifascistas de hoje, comemorar publicamente o aniversário do Führer. Mas, a cada dia, o nazifascismo aparenta ter mais força e mais ousadia. Resta lutar contra essas ideias. E apostar para que o ju diciário não demore 16 anos para condenar quem mereça ser condenado.

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