Guevara,
Mujica e a tergiversação midiática*
Luciano
Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Quando em 2007 se
assinalavam 40 anos do assassinato de Ernesto Che Guevara, em La Higuera,
Bolívia, pelo Exército boliviano e pela CIA, vivíamos o ambiente da maior
campanha mundial de culto ao individualismo de todos os tempos, encetada na
virada do século.
A debacle da União Soviética e
das democracias populares do Leste europeu servia como pano de fundo. A suposta
superioridade do capitalismo marcava um hipotético “fim da História”.
A solidariedade passara a ser démodée, valia a ambição individual como meio de
ascensão social numa sociedade marcada pela exploração e pela desigualdade. A
calça jeans US Top desbotada passara a símbolo de liberdade.
O ideal do socialismo devia ser arquivado.
Entretanto, dando razão a Karl Marx, para quem o capitalismo tudo transforma em
mercadoria - a força de trabalho, sobretudo -, mundo afora se comercializaram
milhões de camisetas, bonés, chaveiros e amuletos estampando a figura do
revolucionário argentino-cubano, precisamente a encarnação de que vale dar
sentido à vida abraçando uma causa justa, inclusive correndo todos os riscos
individuais que a luta revolucionária implica.
Na grande mídia, então, estatísticas das vendas realizadas eram saudadas como
eficiência do mercado.
Agora, com a morte do líder uruguaio Pepe Mujica, ex-guerrilheiro tupamaro na
resistência à ditadura militar (1973 e 1985),
aprisionado por 13 anos e vítima de terríveis torturas; e, posteriormente,
presidente da República (2010 e 2015)
pela via eleitoral, o que se vê, lê e ouve, na grande mídia, é a distorção da
personalidade do militante revolucionário.
Mujica agora é saudado não como um líder político que foi capaz de travar a
luta pelos mesmos ideais sob as condições da legalidade democrática, mas
falsamente como quem teria aberto mão de suas convicções e adotado como
objetivo central de sua militância a conciliação de classes.
A mesma grande mídia que
hipocritamente critica a guerra cultural pela via digital, que a tudo deturpa
em favor de uma realidade paralela - na qual se explora a desinformação, o ódio
e a falsa aspiração à ascensão individual como ideal de vida -, faz a sua
parte.
Entretanto, como bem escreveu Priscila Lobregatte aqui no ‘Vermelho’, os braços
de Mujica se foram, como os de Guevara, mas nós ainda estamos aqui.
*Texto da
minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho www.vermelho.org.br
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Leia também: Seus braços se foram, Mujica, mas nós ainda estamos aqui. Gracias! https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/05/pepe-mujica-presente.html
Artigo arretado, Luciano Siqueira! Você alia a memória política aos últimas notícias. Parabéns!
ResponderExcluirEita líder , Luciano Siqueira, seu artigo apesar de pequeno diz tudo. A lua por um mundo melhor faz parte de cada geração revolucionária que vamos acumulando em nossas bons exemplos . Parabéns! Firme na luta.
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