21 maio 2025

Minha opinião

A amiga às turras com o smartphone*
Luciano Siqueira  
instagram.com/lucianosiqueira65  


Ela já passou dos 60 e se mantém hígida, forte, competente e criativa em tudo que faz; bonita, inteligente e ágil.

Cumprimentá-la pelo seu aniversário todos os anos é sempre um prazer.

Divertido.

Há muitos causos que tira da algibeira e conta com inigualável verve.

Mas desta vez foi diferente. 

Liguei logo cedo, como sempre — silêncio.

No dia seguinte, novamente — que estará acontecendo?

Não demorou muito, ela própria, em mensagem de áudio, deu conta de um desentendimento pessoal com o seu smartphone:

— Ligo e ele permanece mudo. Quando "fala", solta os grunhidos esquisitos. Acende e apaga aparentemente sem motivo. Esperneia e pula em minha mão...

Cá do outro lado da linha fiquei a imaginar a repentina incompatibilidade de gênios entre o aparelhinho e a sua proprietária.

Como teria surgido esse desentendimento? Da parte dela certamente não foi, bem humorada, compreensiva e afetuosa que sempre é.

O aparelhinho envelheceu e já não funciona como antes? Não seria motivo, pois ela tem uma paciência de Jó com velhinhos de todos os tipos. Velhos e jovens, inclusive com os que a paqueram.

Terá sido um golpe de inteligência artificial, que por obra de algoritmos descuidados produziu algum distúrbio mental no aparelhinho?

Talvez, pois dizem por aí que a todo instante somos substituídos por máquinas e nem percebemos!

Mas em sua mensagem de áudio confidenciou a compra de outro smartphone, top de linha. O atual, agora desgastado, permanecerá guardado, depositário de uma memória plena de amores e dores, paixões e mal-entendidos, criatividade e invencionice.

Pois a querida amiga é capaz de tudo — e encanta em qualquer circunstância.

Só há um senão. 

Avisou que o novo smartphone operará número novo, que me mandaria logo em seguida. 

Esqueceu.

Já é noite e permaneço aqui com o meu modesto celular chinês à mão, esperando ansiosamente o comunicado do novo número da aniversariante.

Como diz a minha neta Alice em sua sabedoria de criança: "É a vida".

E é mesmo. Quando as décadas de nossa existência se somam e se prolongam, a memória já não é a mesma... Quem sabe daqui a alguns meses a amiga amada lembre-se de me dar seu novo número de celular.

Perseverante, aguardo pacientemente.

*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho www.vermelho.org.br

[Ilustração: imagem gerada por IA]

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