19 junho 2025

Enio Lins opina

Israel x Irã, crônica de uma guerra anunciada – trecho 2
Enio Lins 

E A DISPUTA NUCLEAR entre Israel e Irã? O fato é que apenas um desses dois países assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, firmado entre as principais potências detentoras de armamento nuclear (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido) e países desarmados neste quesito. Advinha qual desses dois países, hoje em guerra, aceitou esse controle internacional? O Irã, e há 10 anos. Israel se nega a aderir ao acordo, e não admite ser fiscalizado.

ESTÁ O IRÃ CORRETO na questão nuclear. Mas, enquanto os órgãos internacionais de controle são coniventes e pusilânimes em favor dos israelenses, exercem rigor extremado contra os iranianos. “A AIEA [Agência Internacional de Energia Atómica, em português] tem mais visitas ao Irã do que todos os países somados. O Irã permite a inspeção e tem um compromisso diplomático desde 2015 de não desenvolver armas nucleares, mas usar a tecnologia para fins específicos, como o desenvolvimento de radioisótopos para a medicina nuclear”, declarou à Agência Brasil o jornalista e cientista político Bruno Lima Rocha, especializado em Oriente Médio. Hoje se estima que Israel possua entre dezenas e centenas de ogivas nucleares, sob zero fiscalização; e o Irã possui zero ogivas, sob 200% de fiscali zação.

AO MESMO TEMPO em que impede quaisquer visitações técnicas a suas instalações nucleares, desafiando todas as leis internacionais, Israel agride os países vizinhos que tentem dispor dessa tecnologia, mesmo que, comprovadamente, para fins pacíficos. E não é de hoje, nem só contra o Irã: em 7 de junho de 1981, um ataque aéreo israelense, sem declaração de guerra, destruiu o que seria o reator nuclear no Iraque, ainda em obras com cooperação da França (na época Saddam Hussein era aliado dos Estados Unidos e da Europa). A agressão israelense matou dez iraquianos e um francês. O atentado foi censurado oficialmente pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e pela Assembleia Geral da ONU, mas Israel não deu a mínima, como sempre.

ASSASSINATOS SISTEMÁTICOS de cientistas iranianos têm sido cometidos por Israel, desde, pelo menos, 2007. O primeiro crime reconhecido como tal matou Ardeshir Hosseinpour, especialista em eletromagnetismo, envenenado em 17 de janeiro daquele ano, enquanto trabalhava no Centro de Tecnologia Nuclear de Isfahan, localizado a 440 km de Teerã. Segundo a Wikipédia, a lista de homicídios atribuídos ao serviço secreto israelense contempla 19 cientistas iranianos, em 18 anos. Fereydoon Abbasi-Davani, ex-chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, ferido num atentado em 2010, era o único alvo que havia escapado das ações terroristas israelenses, mas foi um dos assassinados em 13 de junho deste ano.

MAS EXISTE UM ISRAELENSE VÍTIMA nessa briga atômica: Mordechai Vanunu. Judeu marroquino, filho de rabino, serviu como sargento no exército de Israel, trabalhou como técnico no Centro de Pesquisas Nucleares de Neguev. Pacifista, foi afastado do emprego. Distanciou-se do judaísmo, passou pelo budismo e aderiu ao cristianismo. Em viagem pela Europa, Mordechai, em setembro de 1986, confirmou para os jornais britânicos The Sunday Times e The Daily Mirror, ser verdade o que já era público e notório: Israel estava construindo bombas atômicas. Antes das matérias serem publicadas, ele foi sequestrado (em Roma) pelo Mossad e levado para Israel, onde foi julgado em segredo, permanecendo preso por 18 anos, sendo 11 anos numa solitária, e ainda hoje, 20 anos depois de ter cumprido sua pena, segue numa espécie de prisão domiciliar, proibido de se comunicar com estrangeiros e de sair do território israelense. Mordechai Vanunu, judeu, firme ainda hoje em suas posições, é um herói internacional, e mais uma vítima do sionismo contemporâneo, que não poupa nem judeus.

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