Trump,
muito glacê em bolo indigesto*
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Impossível acompanhar a cena internacional sem
a devida conta no que acontece nos Estados Unidos — pela óbvia importância
desse player na geopolítica global e pela sucessiva revelação de que navega em
barco furado e ruma, senão para o fracasso pleno, na direção de inevitável
decadência.
Em todas as esferas da vida, quando diante de grave problema, a pior
alternativa é fazer muito barulho mas alcançar pouca eficácia na conduta
adotada.
O governo Donald Trump 2 tem essa expressão: muito glacê em bolo indigesto.
Os Estados Unidos já não cumprem papel absolutamente soberano na economia
global, como em largo período pós- Segunda Guerra, reforçado com a debacle da
União Soviética e das democracias populares do leste europeu.
Internamente, às voltas com déficits comercial e fiscal e com o agravamento das
desigualdades sociais, amarga os primeiros sinais de resistência.
Na operação do governo, as cenas de ópera bufa protagonizadas pelo próprio
presidente e pelo mega empresário Elon Musk dão a marca da incerteza e da
incompetência.
No conserto internacional, envolto em conflitos regionais e constrangido a
grandes dispêndios em razão de suas bases militares espalhadas pelo mundo,
amarga perda relativa de posição em relação à principal potência emergente na
atualidade, a República Popular da China.
Entre histriônico, provocador e inconsequente, Trump lança-se a uma queda de
braços desvantajosa com o oponente chinês, multiplica conflitos com aliados e
sofre pronunciadas perdas relativas, econômicas e políticas.
Internamente, atropela sucessivamente a Constituição e desmoraliza a decantada
democracia norte-americana.
Parece um caminho sem volta, na esteira da crise do sistema capitalista
imperante, onde se combinam a ultra concentração da produção, da renda e da
riqueza sob o influxo de financeirização desenfreada.
Um ambiente mundial em que momentaneamente viceja o neofascismo, ainda sem o
contraponto de resistência dos povos em dimensão capaz de inverter
tendências.
Nações regionalmente importantes, como o Brasil no subcontinente sul-americano,
ainda se veem constrangidas a complexos cenários políticos internos nos quais a
força acumulada por correntes populares e progressistas ainda não se faz
suficientemente apta a derrotar plenamente a extrema direita ascendente.
Nesse contexto, o esforço do governo brasileiro, presentemente empenhado em
política externa altiva e proativa, ainda não é suficientemente compreendido
pela maioria da população — tanto porque o complexo midiático dominante a
noticia de modo fragmentado e falsamente negativo, como porque o próprio
governo carece de maior competência no bom uso dos múltiplos meios de
comunicação e mobilização social disponíveis.
Daí a absoluta necessidade de incluir a dimensão
internacional da luta na pauta das forças populares e progressistas, incluindo
as diversas instâncias do movimento social.
*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho www.vermelho.org.br
[Se comentar, assine]
Lula em visita à França: significados https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/06/enio-lins-opina_4.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário