03 julho 2025

A China e o Sul Global

Xi Jinping defende a causa do Sul Global
Jiang Hanlu/ Xinhua/Global Times  

Às margens do cintilante Rio Huangpu, que corta a metrópole chinesa de Xangai, fica a sede do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), cofundado pelos países do BRICS há mais de uma década para promover o desenvolvimento compartilhado das economias emergentes do mundo.

Em sua visita a este novo marco no centro financeiro da China no final de abril, o presidente chinês Xi Jinping disse à presidente do banco e à ex-presidente brasileira Dilma Rousseff que esta instituição multilateral é resultado de "uma iniciativa pioneira para o Sul Global buscar força por meio da unidade".

Para o líder chinês, o mecanismo do BRICS é uma plataforma importante para promover a cooperação entre os países do Sul Global. Nos próximos dias, a cúpula do BRICS deste ano será aberta na cidade brasileira do Rio de Janeiro sob o tema "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança Mais Inclusiva e Sustentável".

A visita de Xi ao banco em abril demonstra seu compromisso de longa data em fortalecer a solidariedade e o desenvolvimento comum do Sul Global, ampliando o papel de mais de 6 bilhões de pessoas em um mundo repleto de incertezas e desafios nunca vistos em um século.

ASCENSÃO COLETIVA


"A ascensão coletiva do Sul Global é uma característica distintiva da grande transformação em todo o mundo", observou Xi ao discursar no Diálogo "BRICS Plus", realizado em Kazan, Rússia, em outubro do ano passado.

Muito mais do que um termo puramente geográfico ou econômico, o Sul Global refere-se a uma comunidade de mercados emergentes e países em desenvolvimento que compartilham experiências históricas, estágios e objetivos de desenvolvimento e objetivos políticos semelhantes.

O conceito de "Sul" foi cunhado pela primeira vez na obra "A Questão Meridional", de Antonio Gramsci, escrita em 1926, na qual o filósofo marxista italiano destacou a lacuna de desenvolvimento entre o norte e o sul da Itália.

A ascensão do Sul Global levou décadas para se concretizar. Em 1955, a histórica Conferência de Bandung foi realizada na Indonésia sob a bandeira da solidariedade, amizade e cooperação, marcando o despertar do Sul Global após séculos de domínio colonial ocidental. Em 1964, o Grupo dos 77, uma coalizão de países em dese nvolvimento, foi estabelecido em Genebra, no âmbito das Nações Unidas, para promover a cooperação Sul-Sul e formar uma nova ordem econômica internacional.

Por meio de ampla cooperação, os países do Sul Global emergiram como um dos principais impulsionadores do crescimento global. Esses países contribuíram com até 80% do crescimento global nos últimos 20 anos, com uma participação no PIB global aumentando de 24% há quatro décadas para mais de 40% atualmente.

A China, o maior país em desenvolvimento do mundo, é um membro natural do Sul Global. Em 2004, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento incluiu a China em sua lista de mais de 130 países do Sul Global em um relatório intitulado "Forjando um Sul Global". Alguns ocidentais questionaram a posição da China de que ela faz parte d o Sul Global. Em resposta, Xi deu uma resposta clara.

"Como um país em desenvolvimento e membro do Sul Global, a China respira o mesmo fôlego que outros países em desenvolvimento e busca um futuro compartilhado com eles", disse Xi certa vez.

Historicamente, a China tem sofrido com o colonialismo e o imperialismo ocidentais, assim como outros países em desenvolvimento, disse Cavince Adhere, um estudioso de relações internacionais baseado no Quênia.

"Mesmo hoje, apesar do sucesso extraordinário de Pequim em sair do atraso do desenvolvimento e se tornar a segunda maior economia do mundo, bem como o primeiro país em desenvolvimento a eliminar a pobreza extrema, a China ainda enfrenta desafios comuns de desenvolvimento e mantém visões semelhantes em relação à ordem internacional atual e à governança global", acrescentou. "Por isso, a China emergiu como uma forte defensora dos direitos e interesses legítimos de muitos países do Sul Global."

SEM DEIXAR NINGUÉM PARA TRÁS


Antes da visita de Estado de Xi ao Brasil no final do ano passado, a edição em português do livro "Up And Out Of Poverty" foi lançada oficialmente no Rio de Janeiro. O livro, publicado pela primeira vez em 1992, descreve as perspectivas de Xi sobre erradicação da pobreza, governança local, reforma e desenvolvimento quando ele trabalhou na anti ga prefeitura empobrecida de Ningde, na província de Fujian, no sudeste da China.

A pobreza há muito tempo ocupa o primeiro lugar entre os problemas enfrentados pelo Sul Global. Com o firme compromisso e a forte liderança de Xi, a China erradicou a pobreza absoluta em suas áreas rurais, um feito que ninguém havia conseguido na China por milhares de anos.

Na Cúpula do G20 no Rio de Janeiro no ano passado, Xi falou com convicção silenciosa, relatando sua dedicação ao longo da vida à redução da pobreza, desde seu tempo como autoridade local até seu papel atual como principal líder da China.

Em seu discurso, Xi disse que um pássaro mais fraco pode começar cedo e voar alto. "Se a China consegue, outros países em desenvolvimento também conseguem. É isso que a batalha da China contra a pobreza diz ao mundo", disse ele.

A metáfora do "pássaro mais fraco" de Xi originou-se de seu livro sobre pobreza. Seu discurso repercutiu em diversos líderes estrangeiros, que perguntaram à delegação chinesa se poderiam compartilhar uma cópia do discurso.

O líder chinês tem dado grande ênfase ao desenvolvimento. Para ele, "o desenvolvimento é a chave mestra para resolver todos os problemas", especialmente quando a lacuna global de desenvolvimento continua a aumentar. Ao longo dos anos, Xi também tem se mostrado ativo na mobilização de esforços globais para recolocar o desenvolvimento na a genda internacional como prioridade central.

Ao participar do debate geral da 76ª sessão da Assembleia Geral da ONU em 2021, por vídeo, Xi propôs a Iniciativa Global para o Desenvolvimento, um marco político internacional para promover o desenvolvimento sustentável em todo o mundo. Até o momento, a iniciativa conquistou o apoio e a participação de mais de 100 países e 20 organiz ações internacionais.

Para impulsionar o desenvolvimento comum no Sul Global, Xi tem promovido a cooperação prática por meio de grandes projetos de infraestrutura no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota. Durante suas visitas ao exterior ao longo dos anos, Xi lançou ou visitou grandes projetos, como o Porto de Chancay, no Peru, a usina hidrelétrica de Dushanbe nº 2, no Tajiquistão, e a Cidade Portuária de Colombo, no Sri Lanka. Ao receber líderes do Sul Global em Pequim, Xi também discutiu com eles importantes projetos de cooperação durante as conversas.


Xi acredita que o Sul Global deve ser a principal força motriz para o desenvolvimento comum e que "No caminho da modernização, ninguém, e nenhum país, deve ser deixado para trás". Ele também apoia os países do Sul Global a explorarem caminhos de modernização adaptados às suas condições nacionais espec íficas, em vez de seguirem modelos de desenvolvimento ocidentais.

Também na cúpula do G20 do ano passado, no Rio de Janeiro, Xi delineou oito medidas em apoio à cooperação do Sul Global, que vão desde a cooperação de alta qualidade no Cinturão e Rota até o impulso ao desenvolvimento na África. Meses antes, no Fórum de Cooperação China-África em Pequim no ano pas sado, Xi revelou 10 ações de parceria e concedeu tratamento tarifário zero em todas as categorias de produtos aos países menos desenvolvidos com os quais mantém relações diplomáticas.

Ao longo dos anos, a China, sob a liderança de Xi, tomou medidas concretas para defender os países em desenvolvimento, ajudar os países do Sul Global a aumentar sua representação e voz na governança internacional e promover uma ordem internacional mais justa e equitativa.


Na cúpula do G20 de 2022, em Bali, Indonésia, a China assumiu a liderança no apoio à adesão da União Africana (UA) ao G20. Em sua reunião à margem da cúpula, o então presidente senegalês Macky Sall, que também era o presidente da UA naquele ano, agradeceu a Xi por ser o primeiro a apoiar publicamente a adesão da UA ao G20.

A liderança global hoje permanece desequilibrada, e reequilibrar esse sistema distorcido é um imperativo compartilhado tanto pelo Norte quanto pelo Sul Global, disse Paolo Magri, diretor administrativo e presidente do conselho consultivo do Instituto Italiano de Estudos Políticos Internacionais, um think tank.

"A marcha conjunta dos países do Sul Global rumo à modernização é monumental na história mundial e sem precedentes na civilização humana", disse Xi no Diálogo "BRICS Plus" em Kazan, Rússia, no ano passado, reconhecendo que "o caminho para a prosperidade do Sul Global não será linear".

"Não importa como o cenário internacional evolua, nós, na China, sempre manteremos o Sul Global em nossos corações e manteremos nossas raízes no Sul Global", prometeu Xi.

(O repórter da Xinhua, Yan Yujing, em Nairóbi, também contribuiu para a reportagem.)

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Veja: Belluzzo e Jabbour analisam o modelo econômico chinês https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/belluzzo-e-jabbour-analisam-sistema.html 

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