Pernambuco e as inovações
necessáriasAbraham B Sicsú
Pernambuco apresenta uma base produtiva bastante diversificada e um setor de pesquisa e desenvolvimento robusto e bem estruturado. Essa realidade não deve ser ignorada.
Uma pergunta que surge, inquieta, é entender o porquê
de não haver um avanço significativo da articulação entre o setor produtivo e o
de desenvolvimento e inovação? Não se nega que houve avanços, mas, numa análise
mais aprofundada, verifica-se que são bastante tênues essas ligações.
Daí surgem outros questionamento. Estamos preparados
para os saltos que a manufatura 4.0 está gerando? Haverá dificuldades de outra
grandeza que não apenas as tecnológicas?
Porchmann afirma que “após três décadas de vigência do
Consenso de Washington, o mundo segue com limites significativos para a
sustentação do crescimento das atividades econômicas e elevação do padrão de
bem estar social. A dominância financeira tem impactado fortemente as decisões
de produção e distribuição de bens e serviços”.
Mais adiante afirma que “mesmo com os avanços
tecnológicos, as possibilidades de haver sustentabilidade ambiental
subvertem-se diante dos interesses mais imediatos por parte das grandes
corporações transnacionais. Sem a industrialização, a democracia não funciona
adequadamente. Mas, para haver industrialização é necessário existir um Estado
forte, o que contraria o Consenso de Washington e joga contra a construção de
uma sociedade superior.”
No caso específico que aqui se trata o termo Estado
Forte está associado ao seu poder de intervir nos rumos do desenvolvimento
dando-lhe coerência e procurando atender às aspirações de sua população.
O desenvolvimento de uma região ou estado deve estar
fortemente alicerçado na sua visão de futuro. O direcionamento estruturado, com
perfis e metas bem definidos faz-se necessário, se possível, com um
planejamento estratégico. Esse deve ser o balizador dos investimentos a serem
realizados e dos resultados esperados.
É fundamental articular a dinâmica produtiva com metas
claras a serem atingidas, inclusive exigindo compromissos empresariais com
aqueles que quiserem se inserir no modelo a ser implementado. Incentivos, de
qualquer forma, não são apenas para alavancar a situação financeira das
empresas, importante que sejam fortemente vinculados a objetivos sociais,
ambientais e de competitividade.
O segmento de inovação não foge a tal lógica,
fundamental haver ligação efetiva entre a visão estratégica para o Estado e os
investimentos que serão feitos no setor de pesquisa, desenvolvimento e
estruturação dos mercados.
Indispensável lembrar que, atualmente, chegar à
inovação, necessita de pesados investimentos em diferentes áreas, desde a
pesquisa e desenvolvimento, até as estratégias de mercado, de tecnologia
industrial básica, de marketing e de difusão. E isso, parece ser pouco
ressaltado nos documentos oficiais, atendo-se, quase que exclusivamente, à área
estrita da pesquisa e desenvolvimento.
Nessa direção, entender o projeto de desenvolvimento
do Estado faz-se prioritário. Ele deve orientar fortemente os investimentos
feitos no setor.
Nos primeiros quinze anos do século XXI, Pernambuco
teve um projeto de crescimento que o projetou acima dos demais estados do
Nordeste. Baseado em grandes projetos estruturadores, a vinda de uma refinaria
de petróleo e de quase todos os setores de suporte, inclusive com algumas
ramificações para a petroquímica; a montadora de automóveis e a vinda de mais
de sessenta empresas fornecedoras de autopeças; a vinda da Hemobrás e de
empresas farmo-químicas; a consolidação do Pólo de Saúde em Recife; o Porto
Digital e de empresas da área de informática em toda a região metropolitana.
Num levantamento feito nos contratos do BNDES de 2002
a 2024, nota-se que Pernambuco teve 493 operações, sendo que 163 para a
indústria de transformação, em 23 municípios. Número bastante significativo.
Verdade que fortemente concentradas em Ipojuca, 55% em
valor, onde está SUAPE e a Refinaria da Petrobrás. Goiana viria a seguir, onde
está a Stellantis (inicialmente chamada de FIAT/ Chrysler) com cerca de 10% em
valor.
Vale salientar, também, que o Pólo de Saúde em Recife
e operações de energia eólica em pequenos municípios merecem destaque nos
projetos financiados pelo principal, quase único, banco de desenvolvimento de
âmbito nacional.
Isso garantiu que o estado tivesse 5,5% do valor
contratado pelo Banco no período, o que não é pouco. Deu-lhe notoriedade.
Destaque-se, no entanto, que o ciclo de grandes
investimentos deu uma forte arrefecida a partir de 2016.
Não se notam, na carteira do BNDES, grandes contratos
para o estado a partir de 2018, o que vem ao encontro de uma realidade em que
se perde dinamismo frente aos demais estados da região. Um novo ciclo teria que
ser estruturado, novas lógicas incorporadas e aprofundadas.
Tendo em consideração que se passa por um processo
mundial de profundas transformações em que a manufatura 4.0 ganha dinamismo, a
inteligência artificial muda os perfis estruturantes de produção e consumo, a
sustentabilidade ambiental assume papel de relevo na nova agenda de
desenvolvimento, planejar o desenvolvimento tendo por base a dinâmica de
inovação parece que seria caminho coerente com um futuro mais promissor.
Articular esse movimento que se deseja com a inovação
far-se-ia necessário. Vejamos o que ocorre mais de perto.
A principal fonte de financiamento para inovação no
País, sem dúvida passou a ser, nos últimos dois anos, o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico- FNDCT, administrado pela Financiadora
de Estudos e Projetos FINEP. Uma análise mais focada traz um aspecto que se
considera relevante e preocupante.
Verifica-se, em uma análise dos projetos financiados,
que o maior fundo direcionado à pesquisa e desenvolvimento para inovação
existente no País procura se articular com o projeto desenhado pela Nova
Indústria Brasil- NIB. Plano base da lógica de orientação definida no período
de transição para o Governo atual do país e que deve ser a lógica da dinâmica
inovativa e de reindustrialização que se pretende. Dar sustentação a mudanças
profundas no desenvolvimento social e sua sustentabilidade é o objetivo.
Concordamos com essa visão.
Na carteira da FINEP, os projetos realmente pensados
como estruturantes, que deverão ter impacto efetivo, aqueles que terão grande
poder transformador, se concentram nos financiamentos de mais de 50 milhões de
reais por projeto.
Todos os que já foram aprovados, 13 projetos, se
basearam em projetos por encomenda, ou seja, que tinham bem definidos os
objetivos a serem alcançados e como deveriam ser implementados. A ligação com o
desenvolvimento é nítida.
Esses projetos se concentram em São Paulo e Rio de
Janeiro e apenas um para o Distrito Federal. Nenhum outro estado foi
contemplado. Ou seja, o direcionamento do financiamento que tem realmente
impacto, abstrai o resto da Federação.
No caso de
Pernambuco, segundo esse critério, não há nenhum projeto que faça a ligação
direta entre uma visão de futuro para o estado e uma âncora efetiva na área da
inovação, de peso realmente significativo.
A articulação entre desenvolvimento e inovação é
fundamental. Uma busca a ser feita. Infelizmente, até o momento, não são
observadas essas conexões.
Caminhos que possam apontar para uma agenda efetiva de
conexão do setor de C,T&I com um projeto de inclusão crescente de nossa
economia nas tendências atuais nacionais e mundiais fazem-se necessários.
Caso contrário, muito se investirá na base de inovação
e de ciência, mas com resultados pouco significativos para o avançar do desenvolvimento
estadual.
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Data Centers: as big techs cobiçam o Nordeste https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/data-center-impacto-ambiental.html
Excelente análise!
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