Brasil reage a ameaças dos EUA com Pix no exterior e chegada da UnionPay
Diante da tarifa de 50% imposta por Trump, e de novas ameaças, o país amplia com uso internacional do Pix e chegada da gigante chinesa UnionPay para disputar com Visa e Mastercard
Lucas Toth/Vermelho
A experiência tarifária de Donald Trump contra o Brasil acendeu o alerta sobre a dependência do país em relação às redes financeiras dominadas pelos Estados Unidos. No meio da escalada, duas iniciativas ganham força como alternativas concretas: a chegada da gigante chinesa UnionPay para disputar com Visa e Mastercard, e a expansão do Pix para pontos comerciais da França, EUA e América do Sul.
Ambos representam movimentos estratégicos com implicações geopolíticas, econômicas e sociais, conectados à crescente multipolaridade financeira que desafia o domínio ocidental no setor.
Enquanto o governo norte-americano insiste na imposição de tarifas unilaterais — como a taxa de 50% sobre produtos brasileiros, prevista para agosto —, empresas e agentes financeiros buscam caminhos autônomos, capazes de manter a integração internacional do Brasil sem subordinação ao sistema centrado no dólar.
O fortalecimento de redes alternativas, como o CIPS chinês e o Pix brasileiro, aponta para uma inflexão na lógica de dependência histórica em relação aos EUA.
Criado pelo Banco Central do Brasil em 2020, o Pix passou de particular a ferramenta internacional de pagamentos. Sem depender de acordos, os brasileiros já podem usar o sistema instantâneo em cidades como Paris, Lisboa, Buenos Aires, Miami e Ciudad del Este.
A operação é viabilizada por fintechs como PagBrasil, Braza Bank e VoucherPay, que intermediam transações com QR Codes e realizam a conversão automática de reais para moedas locais.
Na capital francesa, o Pix já é aceito em estabelecimentos populares entre turistas, como a farmácia CityPharma e as perfumarias Fragrance de l'Opéra e Grey. Em Lisboa, o sistema opera sem a necessidade de credenciadores locais.
A taxa de serviço gira em torno de 3%, com câmbio negociado no momento da transação. O modelo já foi replicado em pontos comerciais da América do Sul e em áreas de forte presença de brasileiros nos Estados Unidos.
O economista José Kobori, membro do conselho da fintech brasileira Esquerda, vê o avanço do Pix como parte de uma resposta estratégica ao cerco financeiro imposto pelos EUA.
“O ataque ao Pix é, na verdade, uma tentativa clara de manter o domínio do capitalismo financeiro americano dentro do Brasil”, afirmou ao Jornal GGN . Para ele, a crítica recente dos setores conservadores dos Estados Unidos ao sistema brasileiro reflete o incômodo com uma inovação que escapa do controle do eixo dólar-SWIFT.
Com rede própria e apoio da China, UnionPay desafia a hegemonia do dólar
A chegada da UnionPay ao Brasil é outro sinal da reorganização global dos meios de pagamento. Maior operadora de cartões do mundo em volume de transações, a empresa chinesa está em fase final de integração com o mercado brasileiro, por meio da fintech Left.
A meta é ambiciosa: alcançar 70% de cobertura no varejo nacional até o final de 2025, com integração a maquininhas como Stone e Saque e Pague, emissão de cartões com função de crédito e adaptação de mais de 1.500 caixas eletrônicas.
Diferentemente de Visa e Mastercard, a UnionPay opera fora da lógica SWIFT e utiliza o sistema chinês CIPS (Cross-Border Interbank Payment System), que permite liquidações em yuans e reforça a soberania dos países parceiros.
O SWIFT, controlado por bancos ocidentais e baseado no dólar, é usado como instrumento geopolítico pelos EUA e aliados para impor avaliações e monitorar transações globais.
Fundada na China e presente em 180 países, a operadora já detém 40% do volume global de transações com cartões — uma ameaça concreta à hegemonia norte-americana no setor.
“A chegada da UnionPay vai além da concorrência de mercado, ela pode fortalecer a soberania econômica do país”, avalia Kobori. Ele considera o movimento uma resposta direta às tarifas de Trump.
"Quem vai sofrer são os americanos. Quem paga a tarifa é o americano. O Brasil pode até vender menos num primeiro momento, mas o mundo vai se reequilibrar", afirma.
Responsável pela operação da UnionPay no país, a fintech Left aposta em um modelo inédito no setor.
A parte das taxas cobradas nas transações será direcionada aos movimentos sociais escolhidos pelos próprios usuários — como o MST —, com controle transparente por meio de plataforma digital.
“É uma estrutura pensada para apoiar, de fato, quem construiu transformação social”, explicou. O modelo de impacto social é parte integrante da estratégia da UnionPay no Brasil, que busca se apresentar como alternativa mais justa e conectada à realidade local. A integração planejada ao Pix reforça essa proposta, aproximando a operadora chinesa do cotidiano financeiro de milhões de brasileiros.
Multipolaridade como rota estratégica para defesa da soberania brasileira
Com as tarifas de Trump previstas para entrar em vigor em agosto e os ataques políticos ao sistema judiciário e ao Banco Central brasileiro, cresce a percepção popular de que os Estados Unidos têm utilizado seu poder econômico para exercer a soberania do Brasil.
Nesse cenário, a resposta não veio apenas da diplomacia oficial, mas também de inovações tecnológicas e alianças financeiras que permitiram ao país operar fora da guarda-chuva geoeconômica norte-americana.
A expansão do Pix no exterior e a chegada do UnionPay não são apenas aspectos econômicos: também são sinais de um mundo em transição.
Diante do que muitos já classificam como um “embargo tarifário” à economia brasileira, a construção de alternativas financeiras — ligadas à multipolaridade e ao Sul Global — aparece como rota de resistência e autonomia.
O Brasil, nesse contexto, deixa de ser apenas alvo da disputa global e começa a se posicionar como protagonista em sua superação.
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