A crise na Ucrânia ensinou à Europa uma lição de realpolitik
Global Times
Após a cúpula EUA-Rússia no Alasca,
vários líderes europeus formaram uma delegação para "acompanhar" o
presidente ucraniano Volodymyr Zelensky aos EUA para um encontro com o
presidente americano Donald Trump na segunda-feira. O grupo inclui a presidente
da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o secretário-geral da OTAN, Mark
Rutte, o presidente francês Emmanuel Macron, o primeiro-ministro britânico Keir
Starmer, o chanceler alemão Friedrich Merz, a primeira-ministra italiana
Giorgia Meloni e o presidente finlandês Alexander Stubb. A presença de uma
delegação de tão alto nível ressalta a importância que os líderes europeus
atribuem à participação nas discussões sobre a resolução da crise na Ucrânia. A
Al Jazeera, com sede no Catar, comentou que a "força" numérica parece
ser uma das razões por trás dessa visita coletiva, já que a UE e a Ucrânia
estão tentando "mostrar uma frente unida". Macron afirmou ainda que a
Europa deve estar representada nas próximas negociações de cúpula sobre a
Ucrânia entre Rússia, EUA e Ucrânia.
A ansiedade da
Europa não é difícil de entender. A crise na Ucrânia vem se agravando há mais
de três anos, e resolvê-la não é algo que se consiga da noite para o dia. Todas
as partes estão cientes de que encontrar uma direção ou caminho claro para
resolver a crise na Ucrânia não é fácil nas circunstâncias atuais. Após a
cúpula EUA-Rússia, os líderes europeus emitiram uma declaração conjunta que não
só não abordou o acordo de paz proposto por Trump, como também ameaçou impor
novas sanções contra a Rússia, destacando as diferenças entre a Europa e os EUA
e refletindo a complexidade da resolução da crise na Ucrânia. O continente
europeu ainda tem um longo caminho a percorrer antes de alcançar paz e
estabilidade duradouras.
Olhando para a
evolução da crise na Ucrânia, a dependência de alguns europeus em relação aos
EUA para segurança e sua subordinação estratégica aos EUA, aliadas à fé cega na
Parceria Transatlântica, foram fatores significativos que contribuíram para a
escalada da crise. Liderada pelos EUA, a OTAN sempre foi "centrada na
América" desde sua fundação e continua imbuída do pensamento da Guerra
Fria, desempenhando um papel perigoso na instigação de conflitos e confrontos.
A arquitetura de segurança da Europa está longe de ser "segura".
Muitos acadêmicos americanos apontaram que o plano da OTAN de abrir suas portas
à Ucrânia é a causa raiz da crise. Há mais de três anos, o colapso das
negociações de estabilidade estratégica entre EUA e Rússia desencadeou diretamente
a crise na Ucrânia, servindo como a gota d'água que fez transbordar o copo. Nos
últimos três anos, houve oportunidades de apaziguamento, mas os EUA usaram a
crise para "controlar a Europa e enfraquecer a Rússia", atiçando
continuamente as chamas, fazendo com que uma resolução parecesse distante. No
entanto, alguns países europeus não reconheceram isso, seguindo cegamente a
estratégia de expansão para o leste da OTAN liderada pelos EUA, resultando em
um confronto prolongado com um vizinho inabalável do outro lado do continente
eurasiano - levando ao impasse atual.
O conflito
Rússia-Ucrânia se arrasta há três anos e meio, e é hora de a Europa fazer um
balanço. A Europa perdeu o acesso ao mercado russo e ao fornecimento de
energia; os riscos de guerra desencadearam a "desindustrialização" e
a fuga de capitais, enquanto a questão dos refugiados alimentou as tensões
sociais. Grandes economias, como a Alemanha, chegaram a registrar crescimento
econômico negativo por dois anos consecutivos. Em contrapartida, os EUA
tornaram-se o principal fornecedor de energia da UE, ascendendo assim ao posto
de maior produtor mundial de gás natural liquefeito. Por meio da Lei de Redução
da Inflação, atraíram indústrias europeias para os EUA, enquanto seus
fabricantes de armas obtiveram enormes lucros. Nesse processo, a situação de
segurança da Europa tornou-se cada vez mais volátil, com maior dependência dos
EUA, um poder de discurso em declínio e a crise ucraniana cada vez mais
complexa e difícil de resolver. E não se trata apenas da crise ucraniana. Em
questões como os gastos e tarifas de defesa dos membros da OTAN, Washington
nunca hesitou em demonstrar à Europa seu "amor duro". A Europa age
com cautela ao lidar com os EUA, muitas vezes engolindo ressentimentos, mas
ainda assim não consegue evitar ser forçada a repetidas concessões. Muitas
dessas questões não se referem apenas à distribuição de interesses entre os EUA
e a Europa, mas também à trajetória da globalização e de um mundo multipolar.
Macron tem afirmado publicamente, repetidamente, que a UE não deve ser
"vassala" dos EUA. Um número crescente de vozes europeias também
argumenta que "a autonomia estratégica deve ser buscada". Tudo isso
sugere que a tarefa urgente da Europa não é apenas "reconhecer" a
necessidade de acelerar a reformulação de sua arquitetura de segurança, mas
também "assumir" as rédeas da determinação de seu próprio destino. Isso
testará a determinação e a visão estratégicas dos líderes europeus.
Para a Europa, a
crise na Ucrânia é uma lição custosa de realpolitik, refletindo seu dilema
sobre autonomia estratégica. Somente acelerando sua busca por autonomia
estratégica em relação aos EUA a Europa poderá ganhar espaço estratégico e
exercer plenamente a iniciativa – o poder de escolha ainda está nas mãos dos
líderes europeus. Esta guerra em solo europeu já durou tempo demais. A Europa
tem todos os motivos para desempenhar um papel mais ativo na busca da paz,
assumir maiores responsabilidades, abordar as causas profundas da crise e
encontrar um quadro de segurança equilibrado, eficaz e sustentável para
alcançar uma estabilidade duradoura e construir em conjunto a paz global. Esta
é também uma expectativa partilhada pela comunidade internacional.
[Se comentar, identifique-se]
Programa China-América Latina projeta autonomia digital https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/chinaamerica-latina-versus-big-techs.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário