Ad Reinhardt
Futebol
brasileiro é arcaico, com excesso de chutões e de jogadas aéreas
No esporte e também na vida, é preciso conhecer os
riscos e temê-los
Tostão, na Folha de S. Paulo
Na
coluna anterior, escrevi que os times dirigidos pelo técnico argentino Jorge
Sampaoli, como o Santos, correm muitos riscos. Falei ainda que melhor assim do
que a medíocre regularidade de outras equipes. Obviamente, ser regular e jogar
em alto nível é o ideal. Isso é para poucos.
Uma
das funções dos treinadores é administrar bem os riscos. Contra o Talleres, em
Córdoba, o técnico André Jardine, do São Paulo, formou um time seguro, pois o
empate seria bom. Deu errado.
Se arriscasse mais, talvez o resultado fosse melhor. Jardine fez o que a
maioria dos outros treinadores brasileiros faria.
Os
argentinos pressionaram quem estava com a bola e não deixaram o São Paulo
trocar três passes seguidos. Isso acontece, com frequência, quando os
brasileiros enfrentam equipes da Argentina. Foi o que fez o Santos contra o
São Paulo pelo Campeonato Paulista. O Boca fez o
mesmo contra o Palmeiras, no ano passado.
Colocar
toda a culpa no jovem técnico do São Paulo é cruel. Achar que trocar um jogador
por outro seria a solução é pensar, como sempre, que os treinadores são os
únicos responsáveis por tudo o que acontece durante o jogo. Também não faltou
garra, e sim talento individual e coletivo. Os times que pressionam e correm
atrás para recuperar a bola são muito mais vibrantes que os adversários, que,
anulados, se tornam apáticos.
O
que é preciso ser discutido profundamente
pela crônica esportiva, pelos dirigentes e, especialmente, pelos treinadores, é
a razão de os grandes clubes
brasileiros gastarem fortunas na formação dos elencos e, com
frequência, não serem superiores aos rivais médios sul-americanos.
Apesar
do discurso moderno e científico dos jovens e veteranos técnicos brasileiros, o
que vejo, na maioria das vezes, é um futebol arcaico, com excesso de chutões,
de jogadas aéreas, de pouca troca de passes desde a defesa, com os zagueiros
encostados à grande área e com grandes espaços entre os setores.
A
falta de tempo, por causa da frequente troca de treinadores, e o calendário
ruim do país são importantes, mas não podem ser álibis, para esconder a
incompetência dos treinadores.
Os
riscos são importantes, no futebol e na vida. É preciso conhecê-los e temê-los.
Há uma tendência, em todas as atividades, de usar rotinas, seguir manuais e
achar que tudo está bem, quando um time vence ou quando não há nada
aparentemente errado.
As
pessoas se acostumam com os riscos e os perigos. Isso leva a um relaxamento e a
condutas automáticas. O relaxamento está próximo da negligência e da
irresponsabilidade.
Um
especialista em barragens disse, na televisão, que as medidas de segurança,
mesmo quando tudo parece em ordem, deveriam ser tomadas como se fossem doentes
no CTI, obsessivamente monitorados, o tempo inteiro.
O
mesmo cuidado deveria existir no Rio de Janeiro, na época do verão, pela
possibilidade de haver extraordinárias chuvas e ventos.
As
imagens mostradas pelas TVs, de um belo gramado esverdeado, com as pessoas
andando tranquilamente, uma fração de segundos antes do rompimento da barragem
de Brumadinho, é um retrato da instabilidade e insegurança das coisas.
A
ansiedade é uma sensação indefinida, uma tensão, um medo, imaginário e/ou do
que não sabemos o que é. Não devemos ser muito ansiosos, pois faz mal à saúde,
mas precisamos ficar atentos, alertas, diante das incertezas.
Minha
solidariedade às famílias das vítimas de
tantas tragédias que
abalaram o Brasil neste começo de ano.
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