Nem vôo de galinha, nem de águia
Luciano Siqueira*
Nem oito nem oitenta. Não cabe rebaixar os sinais de aquecimento da economia a um mero vôo de galinha, de alcance curto; nem alimentar otimismo exagerado, achando que agora teremos um vôo de águia, a singrar os céus.
Os números parecem ser incontestáveis. Diferentes modalidades de cálculos indicam um crescimento superior a 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2007. O ministério do Planejamento chega a ser mais otimista: altera suas estimativas de 4,5% para 4,7%, o que também atestam consultorias privadas, insuspeitas por não guardarem relação direta com órgãos governamentais.
A razão para tanto otimismo se apóia em dois pilares: em indicadores do nível de atividade econômica e no volume de investimentos estrangeiros diretos.
O consumo de eletricidade, por exemplo, um importante indicador, cresceu 8,2% em maio sobre igual período de 2006, conforme dados do ministério de Minas e Energia.
Já o crescimento do volume de Investimento Estrangeiro Direto (IED) – que em junho atingiu US$ 10.318 bilhões, valor que não tem precedente em nossa história – se dissemina por diversos segmentos da economia. Por isso não pode ser confundido com o incremento de investimentos externos verificados em 1990, atraídos então pela privatização dos serviços. O DNA agora é mais consistente.
Mais uma vez os números do ministério do Planejamento impressionam. Esses investimentos externos diretos atingiram US$ 32.261 bilhões de maio do ano passado a junho deste ano.
E é evidente que essa gente não traria seus capitais para cá se não encontrasse ambiente favorável. Com um detalhe: 47% dos investimentos diretos brutos (sem considerar as saídas) ocorridos no primeiro semestre foram para a indústria.
Agora, é preciso considerar também que essa tendência ascensional da economia brasileira ocorre num quadro internacional que ajuda, mas não garante por si mesma a sustentabilidade desejada. Os condicionantes macroeconômicos internos, desse ponto de vista, ainda são conservadores e restritivos – mormente a persistência de juros elevados (ainda que tenham deixado o primeiro lugar no ranking mundial) e de metas inflacionárias e de superávit primário excessivamente rígidas.
O risco é o governo, ou seja, a equipe da área econômica, convencer o presidente de que já chegamos a céu e que, portanto, não há mais o que mudar. Aí seria o fim da picada, pois 4,7% de crescimento ainda é muito pouco para atender às demandas sociais acumuladas ao longo de quase três décadas perdidas.
*Vice-prefeito do Recife, escreve às quartas aqui no Blog.
Quem é brasileiro e faz parte do povo deseja que não seja vôo de galinha, e que possa se tornar de águia, porém é preciso coragem e competência para "destravar" o nosso crescimento econômico e isso não cai do céu, depende de pressão da sociedade.
ResponderExcluirJosé Carlos