Seu Zezinho, a cachaça e a campanha
Luciano Siqueira
O amigo João Veiga, secretário da Saúde de Olinda, exímio cirurgião e servidor público exemplar, conserva suas origens sertanejas do Pajeú e a verve característica daquela gente dada à poesia e aos prazeres da vida. De férias, em Tabira, visita um velho amigo que encontra, no início da manhã, às voltas com uma garrafa de cachaça.
- Oxente, seu Zezinho, tomando pinga à uma hora dessas!
- Doutor João, isso não é remédio não. Remédio é que tem hora certa para se tomar, cachaça a gente bebe quando dá vontade.
Seu Zezinho tem lá sua razão. Há coisas na vida que tem hora certa, momento exato e encadeamento com o que se deseja fazer em seguida. Caso do remédio prescrito pelo médico. Não é o caso da cachaça.
Campanha eleitoral é o caso, sim. Tem que ter um mínimo de planejamento, se desdobrar em fases seqüenciadas, as tarefas de uma fase preparando as da fase seguinte. Tudo bem pensado, medido e executado – para não atravessar o samba, nem atingir o auge antes do tempo.
Julho foi o mês de lançamento das candidaturas – tanto a prefeito como de vereadores. Teve festa, inauguração de comitê e iniciativas do tipo. As campanhas, bem ou mal, se estruturaram – definidas coordenações, equipes de trabalho; arregimentados militantes e apoiadores; estabelecidos os meios e os instrumentos de propaganda; equacionados (será?) os apoios materiais; acertadas prioridades sociais e geográficas; formatada a programação de atividades.
Deste início de agosto até a terceira quinzena de setembro, é pauleira pura. A segunda fase – cerca de quarenta e cinco dias – é de consolidação da candidatura, quando todo o potencial de acúmulo de forças é explorado. Aí não há como vacilar – nem o candidato (ou candidata), nem o seu exército de apoiadores. Cada minuto vale uma eternidade.
Na campanha de vereador, então, é preciso abordar centenas de eleitores todos os dias.
A divulgação ampla do nome e do número do candidato - por meio de cartazes, faixas, pintura de muros, na TV e no rádio - é indispensável, ajuda muito. Porém o decisivo é o contato direto com eleitores.
É o que temos feito em nossa modesta campanha por uma cadeira à Câmara Municipal do Recife. Amanhecemos o dia distribuindo panfletos nos cruzamentos de ruas e avenidas de grande circulação; fazemos visitas a pessoas e instituições; retomamos às ruas no final da tarde; e invariavelmente todas as noites e em fins de semana realizamos reuniões com grupos de amigos, colegas de trabalho ou de escola, vizinhos e familiares (em média, cinqüenta participantes). Nessas reuniões se constituem grupos de apoiadores que em nenhum momento deixarão se articulados pelo comando da campanha – nem que fujam para o Afeganistão!
A terceira fase – o auge e o dia da eleição -, que compreende a última semana de setembro e os primeiros dias de outubro, resultará em vitória se a fase atual for bem sucedida. Sob pena de perdermos o tempo, o ritmo e disciplina e nos deixarmos ao léu, que nem seu Zezinho de Tabira – e aí nem uma boa cachaça afogará nossa frustração.
Que cada um faça a sua parte e juntos sejamos capazes de vencer.