A economia no dilema entre o bom e ótimo
Luciano Siqueira
No debate sobre os rumos da economia, ao longo de décadas sempre esteve entre as aspirações mais acalentadas pelos defensores do desenvolvimento como meio de reduzir as desigualdades sociais ter o mercado interno como propulsor do crescimento. Examinando-se os dados da evolução recente do PIB, sob o governo Lula, verifica-se que essa velha aspiração tornou-se realidade.
Analistas de diversas tendências têm convergido na constatação de que desde 2007 ocorre uma aceleração gradual da economia, de modo que este ano a indústria cresceu 6,3% em relação ao primeiro semestre de 2007; a agropecuária, 5,2%; o setor de serviços, 5,3%. Tanto que passou a existir o receio de que a expansão da demanda viesse a ultrapassar a capacidade produtiva e, assim, ensejasse pressão inflacionária, ampliação excessiva das importações e desequilíbrio nas contas externas.
Mas não é o que acontece. Ao contrário, os investimentos produtivos vêm apresentando desempenho notável. Há exatos oito semestres seguidos a formação bruta de capital fixo tem aumentado, chegando, no segundo trimestre deste ano, a atingir 16,2% além do verificado no mesmo período do ano passado.
Em outras palavras: o volume de investimentos tem acompanhado o crescimento da produção e o aumento do consumo, assegurando consistência ao incremento da economia. Donde se conclui que na atualidade o fator propulsor desse processo é o mercado interno – imenso mercado incrementado pela redução da exclusão social e pela incorporação de milhões ao consumo.
A produção orientada para o consumo interno alavanca o crescimento e engendra mais trabalho e mais renda, ainda que estejamos longe de superar as desigualdades sociais.
O desafio, nessas condições, é superar o bom pelo melhor – avançar mais ainda. Mas aí entra em cena a política monetária conservadora, que contrasta com as potencialidades de crescimento retendo-o, sob o pretexto de conter a inflação. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deu-se um novo aumento (0,75%) na taxa de juro básico (Selic), elevando-a para 13,75% ao ano. É como se o Copom se insurgisse contra a realidade que, segundo o IBGE, revela um crescimento do PIB no primeiro semestre deste ano da ordem de 6% em relação ao primeiro semestre de 2007, acumulando um aumento de 25,8% nos últimos doze meses. Isso significa uma média trimestral de 6,5% de crescimento, a maior em trinta anos, quase no patamar alcançado nas décadas de 1960 e 1970.
Pela vontade do Copom, o país não deve crescer além do razoável, e é preciso conter o crescimento com taxas de juros elevadas. Ou seja, bom já é demais; ótimo seria arriscado...
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