Com o Programa do PCdoB na mão
Luciano Siqueira
Lá pelo início dos anos 70, circulando pela região em trabalho político clandestino, sentia-me de certo modo incomodado quando um ou outro simpatizante que nos abrigava em sua casa (correndo riscos) me perguntava sobre o que pretendia mesmo o PCdoB. De pronto em falava em derrubar a ditadura militar, mas em seguida vinha a pergunta embaraçosa: “E depois, o que vocês querem fazer com o país?”
O embaraço decorria da fragilidade programática do Partido àquela época. O texto servira como pedra de toque da reorganização do velho Partido Comunista do Brasil, agora com a sigla PCdoB, a preposição aí destinada a uma necessária diferenciação com o Partido Comunista “Brasileiro”, que se apropriara da sigla PCB, na conturbada cisão ocorrida no final dos anos 50 e início dos anos 60. A vida deu razão ao PCdoB – mas não é esse assunto que vem ao caso neste instante.
Voltemos à pergunta embaraçosa. Pois bem, nosso Programa de 1962 tinha caráter revolucionário, porém aos olhos dos nossos simpatizantes quase que consistia numa genérica declaração de intenções. E para mim sobrava a tarefa de explicá-lo... Invariavelmente minha vinha à mente o verso do samba de Noel “Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?”
Passados mais de trinta anos, tanta água rolou no mundo e no Brasil, tantos desafios téoricos e políticos se sucederam e o Partido percorreu longa e vitoriosa trajetória de construção, na qual se destaca o Programa aprovado no seu 12º. Congresso, no final do ano passado.
Agora, a coisa é diferente. Pode convidar para o samba que a gente chega com o Programa na mão. O rumo é o socialismo, sim senmhor; e o caminho é a conquista de um novo projeto nacional de desenvolvimento que a um só tempo proporcione a afirfmação do Brasil como nação soberana e progressista, aprofunde a democracia e a realização dos direitos e das necessidades fundamentais do povo. De quebra, o acúmlo de forças com vista a alcançar um novo poder político central, sob a hegemonia dos trabalhadores em aliança com amplos segmentos da sociedade, apto a desencadear a transição ao socialismo.
Ontem, na Câmara Municipal, um colega vereador me perguntou: “Vocês vão defender o quê na campanha eleitoral?” Estufei o peito e respndi: uma plataforma baseada no Programa do PCdoB, que inclui propostas como uma reforma urbana de tamanha importância para cidades como o Recife. A partir daí a conversa transcorreu sem que eu precisasse novamente me atormentar com os versos de Noel.
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