07 junho 2011

Carta fora do baralho?

Palocci e a frieza calculista do mercado
Luciano Siqueira


A Folha de S. Paulo de domingo noticiou que o mercado financeiro não se deixa afetar pelo imbróglio em que se meteu o ministro Palocci, tido como fiador da estabilidade financeira e dos interesses da banca, até o momento postado numa cadeira da nave de comando governo Dilma – ainda que sob ameaça de ceder lugar a um substituto. Donde se pode aferir, à primeira vista, que o Deus mercado confia na manutenção das regras vigentes, especialmente a política de juros altos, por um governo que, embora comprometido em avançar mais do que o antecessor, ainda não reúne força para quebrar os parâmetros macroeconômicos.

Segundo a reportagem, “o comportamento das cotações, desde que a atual crise política se instalou, indica que o enfraquecimento de Palocci (ou até a sua saída) não abala mais o mercado. Justo ele, que até há poucos meses era tido como o fiador de uma política fiscal austera do governo Dilma Rousseff.”

Cá de fora das altas rodas do poder central e a anos luz de distância dos gabinetes dos magnatas das finanças, ouso trazer à mesa duas questões.

A primeira: governo nenhum pode assentar sua credibilidade na presença de um suposto superministro, mormente num regime presidencialista que nem o brasileiro. Governos amealham base social e política fundamentalmente pelo seu programa e pela autoridade e competência de quem o lidera – no caso, a presidenta Dilma. Por mais influente que seja – ou era – Palocci, resulta em grosseira balela imaginar que o comando do governo estivesse em suas mãos. É provável, inclusive, que a decisão que a presidenta venha a tomar agora quanto à permanência, ou não, do ministro em sua equipe clareie mais ainda a situação. Isso se Dilma substituir a hesitação pela tomada de pulso.

A segunda questão a sublinhar é a aparente segurança da turma da usura na imutabilidade da atual correlação de forças, dentro do governo e na sociedade; e portanto na inviabilidade de uma ruptura com o figurino atual em matéria de política financeira. Com ou sem Palocci.

O risco que essa gente corre e, contraditoriamente, a esperança dos que investem na produção e dela dependem está precisamente na possibilidade de alteração do estado atual da arte. Que no interior do governo venham a prevalecer, como aconteceu após a saída de Palocci no governo Lula, a banda desenvolvimentista (da qual a então ministra Dilma fez parte) e consequentemente se enfraqueça a banda aliada às altas finanças.

Daí a necessidade de se ultrapassar o quanto antes o caso Palocci e retomar a agenda propositiva do desenvolvimento, como uma espécie de subproduto benfazejo da momentânea crise de governo.

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