Luciano Siqueira
Segundo a reportagem, “o comportamento das cotações, desde que a atual crise política se instalou, indica que o enfraquecimento de Palocci (ou até a sua saída) não abala mais o mercado. Justo ele, que até há poucos meses era tido como o fiador de uma política fiscal austera do governo Dilma Rousseff.”
Cá de fora das altas rodas do poder central e a anos luz de distância dos gabinetes dos magnatas das finanças, ouso trazer à mesa duas questões.
A primeira: governo nenhum pode assentar sua credibilidade na presença de um suposto superministro, mormente num regime presidencialista que nem o brasileiro. Governos amealham base social e política fundamentalmente pelo seu programa e pela autoridade e competência de quem o lidera – no caso, a presidenta Dilma. Por mais influente que seja – ou era – Palocci, resulta em grosseira balela imaginar que o comando do governo estivesse em suas mãos. É provável, inclusive, que a decisão que a presidenta venha a tomar agora quanto à permanência, ou não, do ministro em sua equipe clareie mais ainda a situação. Isso se Dilma substituir a hesitação pela tomada de pulso.
A segunda questão a sublinhar é a aparente segurança da turma da usura na imutabilidade da atual correlação de forças, dentro do governo e na sociedade; e portanto na inviabilidade de uma ruptura com o figurino atual em matéria de política financeira. Com ou sem Palocci.
O risco que essa gente corre e, contraditoriamente, a esperança dos que investem na produção e dela dependem está precisamente na possibilidade de alteração do estado atual da arte. Que no interior do governo venham a prevalecer, como aconteceu após a saída de Palocci no governo Lula, a banda desenvolvimentista (da qual a então ministra Dilma fez parte) e consequentemente se enfraqueça a banda aliada às altas finanças.
Daí a necessidade de se ultrapassar o quanto antes o caso Palocci e retomar a agenda propositiva do desenvolvimento, como uma espécie de subproduto benfazejo da momentânea crise de governo.
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