05 julho 2011

Uma crônica minha no Jornal da Besta Fubana

Bebo sim - e estou vivendo
Luciano Siqueira


Bebo nada – ou muito pouco. Daí ser considerado antissocial e careta, e até “burocrata do copo” (no dizer de um velho amigo) porque a minha ingesta de bebida alcóolica se dá quase que exclusivamente em casa. E a doses mínimas.

Imagine esse meu hábito ao tempo em que brincava carnaval. Subir e descer as ladeiras de Olinda apenas de mãos dadas com Luci, sem uma latinha de cerveja ou outra bebida qualquer sempre me causou o desconforto de ouvir protestos de bêbados inconvenientes. – Um absurdo você beber suco de laranja em plena Praça da Preguiça!, disparou certa vez uma querida amiga, ela já pra lá de Bagdá.

A bem da verdade devo esclarecer que nem sempre foi assim. Já tomei porres no carnaval ou em outras ocasiões, “no século passado”. Uma vez amanheci o dia com dores na região glútea sem saber a causa – no caso, uma queda de cima de uma mesa de concreto no hoje extinto Bar Ecológico, em Olinda, onde fizera evoluções – pasmem! – com o estandarte do nosso improvisado bloco “Tá Rindo de Quê?”

Hoje, minha gente, nem participo mais da festa de Momo. Caio fora e só retorno após a quarta-feira de cinzas.

E eis que fico sabendo que estou excluído de um contingente enorme de brasileiros que bebe 24,4 litros de álcool por ano. Isso mesmo. Informa a Organização Mundial da Saúde (OMS) que o consumo de álcool no Brasil é quase 50% superior à média mundial e o comportamento de risco cá entre nós já supera o padrão da Rússia.

A coisa é preocupante, dizem os estudiosos da matéria. A galera com mais de 15 anos bebe o equivalente a 10 litros de álcool puro por ano - a média no mundo é de 6,1 litros. Entre os homens que emborcam o copo, a taxa é de 24, 4 litros de álcool por ano e entre as mulheres, de 10 litros.

Tenho um amigo que diz ser a semiembriagues é o melhor estado de espírito do homem. Uma euforia contida. Talvez seja mesmo. Mas acontece que – ainda segundo os dados da OMS - o álcool já mata mais que epidemias de AIDS, tuberculose e violência ou guerras, sendo responsável por 4% de todas as mortes no mundo, aproximadamente 2,5 milhões de pessoas por ano.

No Brasil, o álcool é associado a 7,2% dos óbitos – quase o dobro da média mundial. Cerca de 30% da população reconhece que bebe com muita frequência e fica grogue pelo menos uma vez por semana.

Deve ter um motivo para essa bebedeira toda. Algo mais do que a busca da euforia passageira. Quem sabe fuga da realidade. Sei lá. Na dúvida, reservo-me à minha caretice e torço para que turma da mesa do bar manere na dose.

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