A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
31 outubro 2012
Palavra de poeta
Torquato Neto: “eu sou como eu sou/agora/sem grandes
segredos dantes/sem novos secretos dentes/nesta hora”
Tortuosa formação da consciência social
Abstenção não tão grande
quanto poderia ser
Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Folha
Abstenção no segundo turno do recém-concluído pleito
municipal: 19,11%; no primeiro turno, 16,41%. A presidenta da TSE, ministra
Carmem Lúcia, manifestou-se preocupada – o que tem sido reverberado à exaustão
pelas diversas mídias.
Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Folha
Examinemos a questão com calma. Devagar com o andor que as
coisas não são bem assim. É verdade que o voto é obrigatório, mas igualmente é verdade
que abstenção nessa faixa sempre houve, em muitas eleições em percentual maior
ainda. E os motivos que levam o cidadão a não comparecer ao local de votação
são variados, incluindo o simples desleixo ou desinteresse.
O que poderia ter acontecido neste pleito, e não aconteceu,
seria um elevado índice de não comparecimento às urnas como protesto. Isto se a
tremenda campanha de mídia contra políticos, partidos e a atividade política em
geral tivesse calado fundo no espírito de parcela expressiva do eleitorado. O bombardeio
é imenso, constante, diário. Faz-se de cada fato negativo na esfera da gestão
pública ou do Parlamento mote para uma parafernália midiática destinada a
afastar o cidadão da vida política. Desestimulá-lo. Desacreditar nas
instituições.
Nessas circunstâncias, os índices de abstenção acima
anotados são, ao contrário do que diz a presidenta do TSE e analistas de
variados matizes, animadores. Significa que a imensa maioria dos brasileiros
aptos a votar digitou seu voto na urna eletrônica.
Significa também que a crença de que a realidade pode mudar
para melhor através da política se consolida na sociedade brasileira. Ou não é
essa a percepção de mais de vinte milhões de nordestinos que ascenderam à
chamada classe média a partir das transformações encetadas nos dois governos do
ex-presidente Lula? O mesmo ocorre com os pernambucanos que assistem o
alavancar de sua economia e a consequente expansão das oportunidades de
trabalho desde que Lula decidiu alocar no Complexo Portuário de Suape a
Refinaria de Petróleo e outros importantes empreendimentos industriais.
A campanha deste ano foi marcada pelo espetáculo do
julgamento do chamado mensalão, tudo levando a crê – assim pensava a oposição
midiática – que o PT colheria resultados negativos no pleito. Deu-se o
contrário. A vitória de Haddad em São Paulo é o maior emblema disso.
Portanto, não há razão para alarde em relação aos índices de
abstenção registrados agora: modestos.
29 outubro 2012
Conto para bem iniciar a semana
Os ossos do barão
Marco Albertim
Marco Albertim
Toda a extensão da Rua
das Quintas cobriu-se de faixas azuladas e brancas; de um poste a outro,
partindo do cume, as faixas, com vinte e cinco centímetros de largura,
cruzavam-se em diagonal. Por ordem do prefeito Epaminondas Santos, quase não se
via um fio da luz do sol, inda que o tecido fino deixasse filtrar a luz,
deitando sobre as pedras do calçamento um lusco-fusco estranho; por isto mesmo,
os moradores sentiram-se homenageados e cada um pôs a melhor roupa do escasso
vestuário.
Numa
segunda-feira, finzinho da tarde, quando a fábrica de tecidos, soltando fuligem
pela chaminé, desabria o apito. Os operários, ainda com o macacão coberto por
fios de algo dão, apressavam os passos para vestir a roupa da véspera, o
domingo. Também os operários da usina de açúcar acorreram; os da moagem, posto
que os do corte da cana por nada trocavam o pão seco com café ralo, na cozinha
das casas do arruado ali mesmo, comprimidas pelo denso canavial.
A Rua
das Quintas, tão comprida quanto sinuosa, tem seu final no cemitério. Bem que
os curiosos, os mais velhos, podiam pregar nas mangas das camisas ou na
abertura do bolso o crepe lutuoso, visto que a cerimônia teria lugar no
cemitério; para receber os ossos do barão de Japumim! O dono de engenhos fora dos
primeiros a fazer do açúcar de suas terras, mercadoria de exportação;
banguezeiro filho de portugueses, deixara que os calungas a seu serviço,
construíssem taperas com o massapê extraído do canavial encharcado; dali,
dizia-se, nascera a povoação de Goiana.
Justo,
dissera o prefeito Epaminondas Santos, prestar-lhe a derradeira homenagem,
depositando o que sobrara da carcaça do barão, num túmulo tão cristão quanto
reluzente no mármore e no bronze. Os ossos foram tirados de um túmulo distante,
nas cercanias do casarão arruinado. O lugar fora coberto pela vegetação rala,
sem flores nem indicação de repouso pacífico do barão empreendedor; nenhum
indício de que sua alma, no zelo do além-túmulo, espreitasse a pasmaceira do
lugar. O prefeito, julgando-se afim remoto do barão, creu-se no dever de deitar
o tataravô numa cova elegante, digna de romarias. Obteve sem demora a aprovação
dos vereadores, bem como as despesas com a escavação e com a remoção dos ossos.
Tivera o cuidado de evitar a palavra enterro, revestindo o acontecimento com
tinturas e cores da bandeira da cidade.
As
luzes do cemitério foram acesas pouco antes das cinco horas da tarde. O costume
era acender depois de o dia escurecer de vez, inda que o relógio da portaria
desse conta do fim do expediente do único coveiro; do coveiro e do escrivão
servidor de almas, como se intitulava o funcionário do escritório; com o
beneplácito de Epaminondas Santos, dos dez vereadores com ele perfilados.
Assim,
crânio, mandíbula, vértebras, omoplatas, discos, clavícula, esterno, pelve,
fêmures, fíbula, tíbia, ossos dos pés e das mãos, o que restara do operoso
barão de Japumim fora juntado e depositado numa urna mortuária; por ordem do
prefeito, sem nenhuma semelhança com féretros. As peças foram reunidas por
Durval Correia, único boticário de Goiana; alto, careca, rosto cor de cera,
narinas treinadas na identificação de odores de laboratório, Durval munira-se
de luvas; mesmo os resíduos, fragmentos reduzidos a pó, juntou-os com uma
escovinha, recolhendo-os com uma pá menor do que sua mão; com cuidados de
paleontólogo.
A urna
retangular fora ornada de um tecido azul e branco, do tamanho de um caixão para
enterrar crianças defuntas; no salão da Câmara Municipal, entre uma bancada e
outra. A semelhança com féretro foi percebida, mas ninguém referiu-se ao
assunto; o rosto solene do prefeito Epaminondas Santos não o permitia.
A
romaria de curiosos começou pela manhã. À tarde, a partir das duas horas, o
microfone foi franqueado para quem quisesse discursar, ressaltando os feitos do
barão de Japumim. As bancadas, separadas pelo vácuo do salão, estavam dispostas
a aquietar vereadores da situação e da oposição. Epaminondas Santos não tinha
oposição para fiscalizar seus atos. A dezena de vereadores, tirando proveito de
sua prodigalidade, nunca se recusava ao convite de almoços e jantares na casa
do prefeito; para se antecipar à aprovação de seus atos, e cobrir de elogios o
tempero da comida de dona Bragantina, a primeira-dama.
No
ajuntamento na frente da Câmara, uma pracinha com quatro bancos de cimento, os
comentários de boca em boca faziam concorrência aos discursos. Aníbal Fontoura,
comunista verboso, não fora eleito vereador. Fazia do Diva – Departamento de
Informação da Vida Alheia -, assim era chamada a pracinha, sua tribuna. Ele atravessou
a rua, seguido por quatro de seus camaradas. Na Câmara, pediu o microfone. Não
podiam lhe negar, não sem evitar constrangimentos. Com a voz ecoando entre as
quatro paredes, deixou o rancor a latifundiários subir-lhe a face.
- Os
ossos do barão estão aqui porque até os vermes se recusaram a fazer deles uma
sopa!
Na veia...
Folha de Pernambuco expressa em manchetes de capa hoje
a dimensão do resultado em São Paulo: “maior vitória do PT, maior derrota do
PSDB”.
28 outubro 2012
Conquista histórica
A Folha de S. Paulo rende-se à realidade: “Datafolha
aponta vitória de Haddad hoje em São Paulo.” Uma vitória histórica.
Escrita poética
Adélia Prado: “Mas o que sinto escrevo. Cumpro a
sina./Inauguro linhagens, fundo reinos – dor não é amargura.”
História: 28 de outubro de 1919
Empastelado o jornal anarco-sindicalista A Plebe, de espírito de classe a toda
prova. O ataque tem participação ostensiva dos órgãos de
repressão. (Vermelho www.vermelho.org.br).
Em defesa do Estado de Direito
Carta Maior:
Profanação e justiça concreta na Suprema Corte
Uma frase de um ministro do STF no processo do “mensalão” sintetiza a possibilidade de uma crise de legitimidade do Supremo, no próximo período, em função de julgamentos que começam a pipocar sobre os torturadores da ditadura: os réus, disse ele, são “profanadores da República”. Mas os assassinatos e torturas - contra pessoas indefesas sob custódia do Estado - transformou os agentes da ditadura em “políticos”, abrigados na Lei de Anistia? O artigo é de Tarso Genro.
. Com o presente texto e outros futuros, pretendo dar algum tipo de colaboração ao debate político e jurídico, que versa sobre o futuro da nossa democracia, a partir do julgamento do “mensalão”, a saber, considerando-o episódio histórico, cujos efeitos ainda são difíceis de serem apanhados na sua verdadeira dimensão: até que ponto o Estado Democrático de Direito suporta transformações econômico-sociais que utilizem as suas instituições para atacar desigualdades? Em que medida o “clamor público” - falsificado pela mídia “partidarizada” (no sentido de defender abertamente uma das “partes” em conflito político aberto) - perverte estas instituições? E, finalmente, o Brasil realmente mudou, depois deste histórico julgamento?
. Para adiantar algumas opiniões que sustentarei ao longo do debate adianto: o Estado de Direito atual, com o atual sistema político eleitoral não tem condições de sustentar as promessas de promoção social e econômica, que estão inscritas nas suas normas constitucionais. A mídia não compõe um “quarto poder”, mas ela é o próprio “estado ampliado”: é estado e sociedade ao mesmo tempo, ordena as relações políticas e jurídicas, de acordo com as forças econômicas e sociais hegemônicas na formação social concreta. O Brasil não mudará nada, após este julgamento: o que pode mudar o Brasil é uma profunda reforma política e um ajuste com seu passado violento, autoritário, escravagista e, até hoje, com um presente profundamente desigual, aceito por um povo paciente e generoso.
. Nas análises que fiz, não manifestei convicções pessoais sobre a culpabilidade dos réus dentro da ordem jurídico-penal vigente. Busquei analisar a coerência interna da ordem. Procurei mostrar que - em face do falso clamor público criado externamente às instituições - os réus principais já entraram condenados no julgamento. E que, por coerência necessária (entre o sistema político e o sistema de direito), a falsa consciência, promovida externamente ao Tribunal e a futura decisão do Tribunal (já proferida) deveriam coincidir.
Profanação e justiça concreta na Suprema Corte
Uma frase de um ministro do STF no processo do “mensalão” sintetiza a possibilidade de uma crise de legitimidade do Supremo, no próximo período, em função de julgamentos que começam a pipocar sobre os torturadores da ditadura: os réus, disse ele, são “profanadores da República”. Mas os assassinatos e torturas - contra pessoas indefesas sob custódia do Estado - transformou os agentes da ditadura em “políticos”, abrigados na Lei de Anistia? O artigo é de Tarso Genro.
. Com o presente texto e outros futuros, pretendo dar algum tipo de colaboração ao debate político e jurídico, que versa sobre o futuro da nossa democracia, a partir do julgamento do “mensalão”, a saber, considerando-o episódio histórico, cujos efeitos ainda são difíceis de serem apanhados na sua verdadeira dimensão: até que ponto o Estado Democrático de Direito suporta transformações econômico-sociais que utilizem as suas instituições para atacar desigualdades? Em que medida o “clamor público” - falsificado pela mídia “partidarizada” (no sentido de defender abertamente uma das “partes” em conflito político aberto) - perverte estas instituições? E, finalmente, o Brasil realmente mudou, depois deste histórico julgamento?
. Para adiantar algumas opiniões que sustentarei ao longo do debate adianto: o Estado de Direito atual, com o atual sistema político eleitoral não tem condições de sustentar as promessas de promoção social e econômica, que estão inscritas nas suas normas constitucionais. A mídia não compõe um “quarto poder”, mas ela é o próprio “estado ampliado”: é estado e sociedade ao mesmo tempo, ordena as relações políticas e jurídicas, de acordo com as forças econômicas e sociais hegemônicas na formação social concreta. O Brasil não mudará nada, após este julgamento: o que pode mudar o Brasil é uma profunda reforma política e um ajuste com seu passado violento, autoritário, escravagista e, até hoje, com um presente profundamente desigual, aceito por um povo paciente e generoso.
. Nas análises que fiz, não manifestei convicções pessoais sobre a culpabilidade dos réus dentro da ordem jurídico-penal vigente. Busquei analisar a coerência interna da ordem. Procurei mostrar que - em face do falso clamor público criado externamente às instituições - os réus principais já entraram condenados no julgamento. E que, por coerência necessária (entre o sistema político e o sistema de direito), a falsa consciência, promovida externamente ao Tribunal e a futura decisão do Tribunal (já proferida) deveriam coincidir.
. Leia o
artigo na íntegra http://migre.me/boi7E
Eric Hobsbawm, presente!
Por
Eduardo Bomfim, no Vermelho:
Como um bom vinho
Como um bom vinho
A
Era dos Extremos é um clássico de Eric Hobsbawm, em meio a uma extraordinária
produção intelectual, que a distância temporal de quase vinte anos longe de
esmaecer as suas principais conclusões fortalece-as, mesmo que se possa ter,
aqui e ali, diferenças com suas análises.
Trata-se de um balanço multilateral, ricamente detalhado do século XX, apresenta sinalizações sobre o início do terceiro milênio ou ao menos acerca da sua primeira década que todos nós vivenciamos.
De formação marxista Hobsbawm tornou-se intelectual respeitado, com a sua erudição, profundidade, sobriedade e estilo elegante, para além daqueles que não se incorporam à sua corrente de pensamento.
Sua obra ultrapassa o sentido da História formal, tem fundamentos na economia, na sociologia, nos fenômenos estruturais, ideológicos, da humanidade.
Em O Breve Século XX o falecido autor tece várias conclusões, entre elas "que essa foi, paradoxalmente, uma época que se assentava na defesa dos benefícios para a humanidade, do progresso material sustentado pelos avanços da ciência e tecnologia", mas o seu ocaso revelou "a rejeição desse progresso por correntes que se pretendem representantes do pensamento ocidental como os apologistas do crescimento zero ou quase zero, em solução à crise ambiental".
Afirmou que essa seria uma das contradições do século XXI (além do mundo unipolar, a persistente centralização, concentração do capital, o monopólio, controle planetário da informação) especialmente entre setores abastados e médios do primeiro mundo, empresários do florescente capitalismo verde e os contingentes populacionais do terceiro mundo onde reside a grande maioria dos habitantes do planeta.
Ao refletir sobre o início do novo milênio, o historiador indica o surgimento de "estranhos apelos em favor de uma sociedade civil e de grupos, inespecíficos, não restando por aí outra maneira de entender as identidades das sociedades e grupos, senão através da exclusão" das demais pessoas, tornando irrelevantes os conceitos de classes sociais.
Como cientista Hobsbawm não era pessimista nem otimista, fundava seus estudos na análise rigorosa da realidade, utilizando sempre a dialética marxista, que ele entendia ser o instrumental para a abordagem dos fenômenos sociais, históricos. A vida demonstrou que as suas observações são como um bom vinho, quanto mais o tempo passa, melhores.
Trata-se de um balanço multilateral, ricamente detalhado do século XX, apresenta sinalizações sobre o início do terceiro milênio ou ao menos acerca da sua primeira década que todos nós vivenciamos.
De formação marxista Hobsbawm tornou-se intelectual respeitado, com a sua erudição, profundidade, sobriedade e estilo elegante, para além daqueles que não se incorporam à sua corrente de pensamento.
Sua obra ultrapassa o sentido da História formal, tem fundamentos na economia, na sociologia, nos fenômenos estruturais, ideológicos, da humanidade.
Em O Breve Século XX o falecido autor tece várias conclusões, entre elas "que essa foi, paradoxalmente, uma época que se assentava na defesa dos benefícios para a humanidade, do progresso material sustentado pelos avanços da ciência e tecnologia", mas o seu ocaso revelou "a rejeição desse progresso por correntes que se pretendem representantes do pensamento ocidental como os apologistas do crescimento zero ou quase zero, em solução à crise ambiental".
Afirmou que essa seria uma das contradições do século XXI (além do mundo unipolar, a persistente centralização, concentração do capital, o monopólio, controle planetário da informação) especialmente entre setores abastados e médios do primeiro mundo, empresários do florescente capitalismo verde e os contingentes populacionais do terceiro mundo onde reside a grande maioria dos habitantes do planeta.
Ao refletir sobre o início do novo milênio, o historiador indica o surgimento de "estranhos apelos em favor de uma sociedade civil e de grupos, inespecíficos, não restando por aí outra maneira de entender as identidades das sociedades e grupos, senão através da exclusão" das demais pessoas, tornando irrelevantes os conceitos de classes sociais.
Como cientista Hobsbawm não era pessimista nem otimista, fundava seus estudos na análise rigorosa da realidade, utilizando sempre a dialética marxista, que ele entendia ser o instrumental para a abordagem dos fenômenos sociais, históricos. A vida demonstrou que as suas observações são como um bom vinho, quanto mais o tempo passa, melhores.
Bom dia, Cida Pedrosa
Raul Córdula
absoluto
quando
o tempo do branco chegar
não terei gaiolas
gatos siameses
ou cachorro poodle
com coleira de marfim
não terei gaiolas
gatos siameses
ou cachorro poodle
com coleira de marfim
com
certeza
direi poemas indecentes
falarei de revoluções inacabadas
de lugares que mapeei com minha alma
direi poemas indecentes
falarei de revoluções inacabadas
de lugares que mapeei com minha alma
27 outubro 2012
Triunfo
Carol Bradley, no blog Um conto por dia umcontopordia.com.br
Carol Bradley, no blog Um conto por dia umcontopordia.com.br
Sentados no batente da escada, sentiam o cheiro
do restaurante no outro lado da rua. Era um rodízio de carne, de carro, de gente.
Homem, mulher, gordo, magro, carecas, jovens. Ali cabia todo mundo, menos eles,
os vizinhos.
Homens
engravatados, mulheres de salto alto. Meninos de chinelo, não havia. Depois da
pelada na Casa do Estudante, eles alimentavam-se de imaginação. Seriam um
daqueles que descia do carro com motorista. José veio com 14 anos de Salgueiro.
Trouxe na mala
roupas, sapatos e ideal. Seria juiz e iria lutar contra as injustiças, como a
que presenciara na cidade natal. Enquanto o prefeito bebia água mineral em
filtro de ouro, a maioria da população espremia pedra para tirar gota d`água.
No Recife, começou
a estudar com outros rapazes que seriam médicos e engenheiros. Como a sopa da
Casa era rala, dormiam cedo, para a fome não chegar antes do sono.
Era companheiro dos
livros. Passou em décimo lugar no curso de Direito da Federal. Onde havia
estudado Joaquim Nabuco, agora estudava José Alves. No terceiro período
passou em um concurso para ser estagiário da Celpe. Seus colegas eram filhos de
advogados e desembargadores, ele de Maria Aparecida.
No fim do ano, a
empresa promoveu a confraternização do departamento jurídico. Por capricho do
destino, entrou no restaurante que só conhecia de cheiro. Vestindo terno e
gravata esperou sentar os diretores, advogados, estagiários e ficou na última
cadeira.
O restaurante
estava lotado. Espetos cobertos de carne desfilavam pelas mesas. O garçom se
aproximou. Era Pedro, o goleiro do time. Em um tom de voz nada discreto,
dirigiu-se ao companheiro de bola. Sr. Alves, é uma honra tê-lo novamente
conosco. A mesa do senhor vai ter uma atenção especial. Percebeu o olhar
admirado dos colegas e do chefe. Ninguém sabia que o magrelo era tão
importante. O que o senhor deseja para beber? Uma cachaça, por favor.
Obs. Inspirado no meu amigo, João Arnaldo.
Enfrentando a Síndrome de Down
Ciência Hoje
Online:
Protagonista da medicina do futuro
A descoberta de que é possível reprogramar células maduras para originarem qualquer tecido do corpo abriu caminho para vários estudos de aplicações médicas dessa técnica. Em sua coluna de outubro, Stevens Rehen apresenta pesquisa recente que pode beneficiar portadores de síndrome de Down.
. No dia 08 de outubro de 2012, John Gurdon e Shinya Yamanaka foram agraciados com o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia pela descoberta de que células maduras podem ser reprogramadas para se tornarem pluripotentes, ou seja, capazes de dar origem a qualquer tipo de tecido do corpo.
Sir John Gurdon, cientista inglês de cabeleira inconfundível, quase desistiu da carreira, ao ser desencorajado por uma professora de ciências quando só tinha 15 anos. Gurdon demonstrou ser possível clonar um vertebrado inteiro a partir das informações genéticas de uma célula adulta. Em 1958, ele transplantou o núcleo de uma célula da pele de uma rã africana conhecida como Xenopus laevis em um ovo recém-fertilizado de outra rã da mesma espécie, cujo núcleo fora previamente removido. Clonou a rã e demonstrou que o genoma de uma célula somática pode ser reprogramado.
O japonês Shinya Yamanaka é um médico de formação que optou pela carreira científica tão logo percebeu sua pouca habilidade como cirurgião ortopédico. Teve que passar por seleções para 50 laboratórios até ser aceito no Instituto Gladstone dos Estados Unidos para um pós-doutoramento que durou três anos.
. Veja a matéria na íntegra, inclusive vídeo http://migre.me/bmL5i
Protagonista da medicina do futuro
A descoberta de que é possível reprogramar células maduras para originarem qualquer tecido do corpo abriu caminho para vários estudos de aplicações médicas dessa técnica. Em sua coluna de outubro, Stevens Rehen apresenta pesquisa recente que pode beneficiar portadores de síndrome de Down.
. No dia 08 de outubro de 2012, John Gurdon e Shinya Yamanaka foram agraciados com o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia pela descoberta de que células maduras podem ser reprogramadas para se tornarem pluripotentes, ou seja, capazes de dar origem a qualquer tipo de tecido do corpo.
Sir John Gurdon, cientista inglês de cabeleira inconfundível, quase desistiu da carreira, ao ser desencorajado por uma professora de ciências quando só tinha 15 anos. Gurdon demonstrou ser possível clonar um vertebrado inteiro a partir das informações genéticas de uma célula adulta. Em 1958, ele transplantou o núcleo de uma célula da pele de uma rã africana conhecida como Xenopus laevis em um ovo recém-fertilizado de outra rã da mesma espécie, cujo núcleo fora previamente removido. Clonou a rã e demonstrou que o genoma de uma célula somática pode ser reprogramado.
O japonês Shinya Yamanaka é um médico de formação que optou pela carreira científica tão logo percebeu sua pouca habilidade como cirurgião ortopédico. Teve que passar por seleções para 50 laboratórios até ser aceito no Instituto Gladstone dos Estados Unidos para um pós-doutoramento que durou três anos.
. Veja a matéria na íntegra, inclusive vídeo http://migre.me/bmL5i
26 outubro 2012
Poesia. Sempre
Cecília
Meireles: “Um poeta é sempre irmão do vento e da água/deixa seu ritmo por onde
passa.”
Eleição marcante
A estratégica eleição em São
Paulo
Luciano Siqueira
Luciano Siqueira
A poucos dias do desfecho do segundo turno das eleições
municipais, especula-se sobre a provável contabilidade política a se consumar
já na noite de domingo, 28. E, ao que tudo indica, a vaticinada derrota
estrondosa do PT não se consumou – nem com o estardalhaço feito pela grande
mídia em torno do julgamento do chamado “mensalão”. Na verdade, o PT tende a sair vitorioso - com
destaque.
Claro que não apenas o PT se dá bem nesse pleito. O PSB,
liderado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, desponta bastante
fortalecido a partir da vitória no Recife e em outras importantes cidades. Os
demais partidos da coalização que apoia o governo Dilma Rousseff, idem –
inclusive o PCdoB.
O enfraquecimento ocorre no outro lado da rua, nas hostes oposicionistas.
O PSDB ainda se mantém como força hegemônica no leque partidário que combate o
governo Dilma, porém com uma derrota de dimensão estratégica em São Paulo. O
Democratas, mesmo que venha a vencer em Salvador, se vencer, restará mais
desmilinguido do que estava.
A provável vitória de Fernando Haddad na capital paulista
encerra um ciclo tucano de duas décadas. Um fortim da luta nacional muda de
mão. Ponto para o projeto nacional de desenvolvimento em gestação desde o
governo Lula.
O peso específico de São Paulo reforça a correlação de
forças pró-Dilma, ou seja, em favor do conjunto das forças políticas que
governam o País. Melhora substancialmente a correlação de forças que pode
influenciar o curso dos acontecimentos em 2014.
Em torno de Haddad, é bom salientar, estão o PSB e o PCdoB,
que no Recife estiveram separados. O PCdoB tem em Nádia Campeão a vice-prefeita
na chapa do ex-ministro da Educação.
Assim, o mapa definitivo deste pleito revelará considerável
discrepância com o presumido por “analistas” da grande mídia, que imaginavam
uma esquerda parcialmente derrotada. Mais uma vez fica claro que entre a
pirotecnia midiática – que faz seus estragos, sim, não se pode subestimar – e a
realidade concreta, o eleitor avança no sentido de escolhas que dizem respeito
à melhoria concreta da situação de vida. Daí o capital acumulado pelo PT e
aliados, a despeito de erros, insuficiências e contratempos.
Há, portanto, muito que refletir sobre o episódio eleitoral
em curso. E sobre as perspectivas para as eleições gerais de 2014 – sem
previsões precipitadas, nem ilações fantasiosas.
25 outubro 2012
Um ponto de partida para a análise
Luciano Siqueira: PCdoB
saiu vitorioso das eleições no Recife
Entrevista ao portal Vermelho
. Uma frente de 14 partidos que no curso da campanha, mediante o diálogo que estabeleceu com a sociedade, foi agregando setores os mais diversos, inclusive que guardam contradições entre si. Trabalhadores, empresários, o mundo da ciência, da cultura e da tecnologia, igrejas de diversas denominações evangélicas, setores da igreja católica. Enfim, um amplo leque político e social.
. Com um detalhe que é importante anotar: uma frente muito ampla, heterogênea, plural, porém unida em torno da proposta de governo que paulatinamente foi construída, através do diálogo com a sociedade, com a população dos bairros populares, quadros técnicos e gestores públicos experimentados que nos ajudaram a dar o tratamento adequado ao produto desse diálogo.
Esse diálogo amplo foi, então, decisivo?
Luciano Siqueira - Sim, nós chegamos a debater os problemas da cidade com mais de 60 grupos organizados da sociedade, representados por entidades corporativas de empresários e trabalhadores, por instituições públicas e privadas, universidades, mulheres, juventude, movimento LGBT, etc., um movimento muito rico. De modo que o programa que nós registramos em cartório, para ser cobrado pela população, já na última semana de campanha, é rigorosamente produto dessa mescla, da ausculta e análise política e técnica por parte do corpo de quadros da campanha, que gerou unidade e coesão muito sólida. A ênfase é o desenvolvimento em favor de uma cidade mais humana.
. O outro fator é a mobilização do povo. A campanha deliberadamente apostou na mobilização popular desde o início. A primeira decisão política da campanha foi ocupar o território da cidade apoiada nos mais de 300 candidatos a vereador e em lideranças populares, sindicais e comunitárias.
. Nós tínhamos um candidato desconhecido do grande público e procuramos capilarizar a candidatura de Geraldo no conjunto da cidade, através de inúmeras pequenas, médias e grandes reuniões e caminhadas sempre encerradas com um brevíssimo comício onde falavam um deputado presente, eu e ele, e quando o governador Eduardo Campos (PSB) esteve presente, numa segunda fase da campanha, também o governador.
. Então, essa mobilização da população nos permitiu que, quando veio o programa eleitoral na televisão e no rádio já existia uma malha na cidade que ouvira falar em Geraldo Julio e tivera um primeiro contato com as nossas ideias e propostas para a cidade.
Os adversários acusavam Geraldo de ser apenas um técnico, despreparado politicamente...
Luciano Siqueira - Verdade, bateram nessa tecla todos os adversários e concorrentes. No entanto, a prática demonstrou que Geraldo era mais do que um técnico, revelou-se um líder político hábil, capaz de ouvir atentamente, respeitando as diferenças, e de sintetizar queixas e aspirações em termos elevados e aptos a unir e a motivar para a luta. Ele foi sempre muito aplicado na condução da campanha conforme a orientação tática que adotamos, que colocou como centro da campanha a defesa de propostas para cidade, evitando confronto em termos rebaixados com os concorrentes e adversários, que buscou até onde foi possível manter uma relação fraterna com a candidatura do PT.
. Mas é claro que, quando uma facção derrota outras facções concorrem também para isso a insuficiência, os erros e os equívocos dos concorrentes.
Como se deu a correlação de forças entre as principais candidaturas?
Luciano Siqueira - O cenário da disputa se alterou de maneira formidável porque o senador Humberto Costa, candidato pelo PT, em aliança com o PP, PHS e PSDC, começou com 43% das intenções de voto e terminou em terceiro lugar. (O segundo colocado, no início, era o ex-governador Mendonça Filho, do Democratas, com 22%, que veio a desmoronar para pouco mais de 2%). Avalio que a candidatura de Humberto Costa errou no nascedouro e errou seriamente durante toda a campanha. No nascedouro porque foi produto de uma crise interna do PT publicamente explicitada, em termos deprimentes, cujo traço essencial é a desagregação do Partido dos Trabalhadores no Recife.
. Do ponto de vista prático, a candidatura de Humberto Costa deu ênfase, o tempo todo, ao que nós poderíamos chamar de “fatores exógenos”. Ao invés de se afirmar como candidato com um discurso próprio, com uma proposta para a cidade, ele começou acusando o PSB de “traição”, reclamando por não ter o apoio de um partido que teria, como todos os demais, o direito de fazer sua escolha.
. Depois, passou mais de um mês ou quase toda a campanha anunciando a possível vinda de Lula ao Recife e consignando a essa presença de Lula um peso, que como ele próprio chegou a externar mais de uma vez, seria decisivo para a tentativa de vencer.
. Quando a candidatura dele começou a cair de maneira mais acentuada, aí ele aprimorou os erros táticos. Escolheu como alvo principal o candidato da Frente Popular, tentou desconstruí-lo com um discurso falso, porque desconstruir politicamente o concorrente, o adversário, não é errado e se for uma desconstrução que tenha base na realidade é assimilada pelo eleitorado. Mas, o que a candidatura do senador Humberto Costa pretendeu fazer foi negar responsabilidades que Geraldo Julio quando secretário de Estado efetivamente assumiu. O exemplo mais evidente disso é quando o programa eleitoral de Humberto veiculou imagens de recortes de jornais e a fala do sociólogo Luiz Ratton, tentando passar a ideia de que teria sido Ratton o coordenador do Pacto pela Vida, um programa de destaque do Governo do Estado, quando na verdade Luiz Ratton coordenou a fase preparatória e, uma vez instalado o programa, é público que o coordenador foi Geraldo Julio. Então, essa linha tática não deu certo.
. Em seguida, mudou o alvo mais uma vez. Centrou o ataque no governo do estado, exatamente um governo que tem um índice de avaliação sem precedentes na cidade do Recife, mais de 90% de avaliação positiva, com a presença na cidade através de ações concretas reconhecida por 97% da população. Escolheu uma bandeira falsa também, acusando o governo de pretender privatizar a Compesa, empresa estatal de água e saneamento, e, ainda por cima, atribuindo a essa suposta privatização a ameaça de aumento da tarifa.
. Isso também se revelou um erro tático importante. Além disso, o fato que a atual gestão, do prefeito petista João da Costa, percorreu todo o processo da campanha sofrendo um imenso desgaste, engendrando na população o desejo e a expectativa de mudança, que veio a ser empalmado pela candidatura de Geraldo.
. Mas os erros da campanha do PT permitiram também o crescimento da candidatura inconsequente do PSDB, com o deputado estadual Daniel Coelho, que ocupou parte importante do espaço que deveria estar sendo ocupado pela candidatura de Humberto Costa.
Como o candidato do PSDB se apresentou?
Luciano Siqueira - Daniel Coelho, pela fragilidade da candidatura do PT ocupou espaço e se converteu no segundo colocado, aparecendo para parcela do eleitorado menos atenta como elemento de mudança. Deu uma contribuição negativa ao debate político. Reeditou um discurso no estilo clássico de Jânio Quadros (presidente do Brasil, em 1961) e Fernando Collor (presidente do Brasil entre 1990 e 1992), sustentando uma cantilena contra os partidos, contra os políticos, contra a política, pretendendo se apresentar à população como a coisa nova, sem nenhum compromisso, no dizer dele, com o que aconteceu na cidade do Recife nos últimos 50 anos.
. De uma só tacada ele colocou na vala comum, como gestores malsucedidos, Pelópidas Silveira, que marcou a história do Recife; Miguel Arraes e as próprias gestões recentes do PT, que obtiveram êxitos importantes.
Como a evolução das candidaturas do PT e do PSDB influenciou a tática da Frente Popular?
Luciano Siqueira - Esses comportamentos dos candidatos do PT e do PSDB, cada um no seu estilo, colocaram diante de nós desafios táticos importantes. Nós estávamos decididos a tratar sempre de maneira fraternal a candidatura do PT, baseados no pressuposto correto de que - e isso, inclusive, é textual na Resolução do PCdoB que define a aliança com o PSB – nós considerávamos Geraldo Julio e Humberto Costa candidatos oriundos da Frente Popular de Pernambuco, integrantes, portanto, do mesmo campo de forças. No entanto, tivemos de responder com firmeza a tentativa de desconstrução da nossa candidatura com argumentos falsos por parte de Humberto Costa e tivemos também de revelar de público o verdadeiro perfil do candidato do PSDB, que além de esconder sua trajetória política e as lideranças conservadoras que o apoiavam, etc.
. Alguém que dizia que ia mudar o Recife sem ter apresentado uma proposta concreta para cidade, que dizia na televisão que quem quisesse saber das propostas fosse ao site de sua campanha e quando você visitava o site encontrava um documento com afirmações genéricas. Era uma fraude, com todo respeito ao deputado. E a campanha da Frente Popular se sentiu na obrigação de esclarecer do que se tratava.
. Não foi uma decisão fácil, porque a fronteira entre explicitar para a população uma verdade sobre o concorrente e baixar o nível da disputa é muito tênue. Isso demandou discussões demoradas entre o comando político e a área da comunicação da campanha. Nossas decisões se confirmaram corretas.
O futuro governo de Geraldo Julio pode ser avaliado como um governo de mudanças ou de certa forma representa a continuidade de um projeto político?
Luciano Siqueira – Nós estamos convencidos de que o governo de Geraldo Julio será um governo de mudanças. Mudança pelo programa que nós construímos, pela postura política, e porque tanto no programa como na atitude do prefeito eleito há mais do que um desejo, há um compromisso público de, ao mesmo tempo em que nós vamos preservar conquistas alcançadas pela cidade do Recife ao longo dos tempos, incluindo as conquistas acumuladas nas três gestões comandadas pelo PT, que vamos tentar aprimorar e consolidar, há também um compromisso claro de inovar. Inovar nos fundamentos das políticas públicas, na abordagem dos problemas do ponto de vista do método de gestão e inovar na mobilização da sociedade para nos ajudar a governar.
Quais serão os primeiros passos?
Luciano Siqueira - Nós vamos ter um primeiro ensaio disso, desse terceiro aspecto. O prefeito Geraldo Julio tem dito e repetido que a primeira tarefa é fazer o dever de casa, que é limpar e botar ordem na cidade. Nossa intenção é realizar essa tarefa com ampla participação da sociedade.
. Não temos ainda o modelo, o formato, estamos construindo ainda daqui até dezembro, para iniciar o governo limpando a cidade, retirando os entulhos, com a participação de diversas outras instituições, das igrejas, das organizações populares, da população em geral. A intenção é essa.
. Mais: já agora na transição trabalhamos no sentido de no curso dos primeiros 100 dias de governo poder realizar iniciativas marcantes previstas em nosso Programa, como iniciar a construção do Hospital da Mulher, por exemplo.
. Então, será um governo de mudanças. Agora, todo governo de mudança tem também elementos de continuidade. Mesmo quando existe uma ruptura revolucionária na sociedade. A teoria marxista considera que a sociedade nova é parida dentro da sociedade velha. Então, o que você começa a construir de novo nunca deixa de ser um misto do novo com elementos de continuidade, elementos do que ficou.
Como fica a relação com o PT a partir de agora?
Luciano Siqueira – Esse é um caso típico de uma relação de amor que sofre um estremecimento porque um dos parceiros atravessa um momento de conflito interior (risos). Esse desenho das eleições, em que a maioria dos partidos que compõem a Frente Popular do Recife se reuniu em torno da candidatura de Geraldo Júlio e o PT ficou de fora, a raiz disso tudo foi o próprio PT. Mas o PT não saiu do governo do Estado e continua a participar da Frente Popular de Pernambuco. Os partidos que nos apoiaram também integram a base de apoio da presidenta Dilma. O normal será, portanto, uma reintegração do PT à Frente Popular. O prefeito declarou uns 15 dias antes das eleições em uma entrevista à uma rádio local que se vencesse as eleições iria apelar a todos os partidos concorrentes, e o PT privilegiadamente porque sempre foi um aliado, que colaborassem com a gestão. Agora, o que estamos assistindo pelos jornais, é que o PT ensaia ainda uma avaliação interna do processo vivido no Recife, que não sabemos quando tempo dura e a que conclusões chegará. Do ponto de vista de Geraldo Júlio e da Frente Popular, o PT é parceiro. O PT tem vereadores na Câmara Municipal, tem experiência acumulada na cidade, tem um legado que nós vamos preservar e fortalecer, o natural é que o PT nos apoie no governo.
Você não acredita então na possibilidade de cisão entre o PT e o PSB, com uma candidatura à presidência do governador Eduardo Campos em 2014?
Luciano Siqueira – Isso está mais na mídia do que na vida, mais nos discursos dos jornais do que na realidade concreta. Toda frente é um leque de partidos e todos os partidos que fazem parte da ampla coalizão que dá sustentação ao governo Dilma - todos, sem exceção -, enfrentaram essas eleições com o objetivo de acumular forças. Isso é um direito de cada partido. O PSB é um dos partidos que saem fortalecidos. Como o PT, que vencerá em São Paulo capital e em muitas cidades importantes do País. O PCdoB também se fortalece. Daí a imaginar que o fortalecimento de um aliado seja motivo de desagregação tem uma distancia muito grande. Em minha opinião, a força e a audiência que o PSB tem no conjunto da sociedade se deve também ao fato de ser um partido importante na coalizão governista. Não vejo necessidade política de uma divisão, e não sinto que essa seja uma pretensão do PSB.
Como a oposição sai desse processo eleitoral?
Luciano Siqueira – No Recife a oposição sai muito fragilizada. Em geral, as eleições são polarizadas, metade-metade. Neste ano, se nós somarmos a votação de Geraldo Júlio e a votação de Humberto Costa, nosso campo de forças, a base de apoio da presidenta Dilma, teve mais de 70% dos votos no Recife. Essa é uma conta que precisa ser feita. A oposição não morre, e é bom que não morra. É saudável que ela exista, uma oposição qualificada. Há inclusive nos partidos que nos farão oposição vereadores experientes, qualificados. Isso é positivo para o processo democrático e para a nossa gestão, que haverá de ser avaliada e acompanhada pela oposição. Isso nos ajuda e não nos atrapalha.
E como o senhor avalia o resultado do PCdoB?
Luciano Siqueira – Nosso Partido sai vitorioso. Sobretudo por duas razões. A primeira é por ter dado uma contribuição importante à vitória da Frente Popular. A contribuição do PCdoB do ponto de vista da construção da linha da campanha, da orientação política da Frente, da tática eleitoral, é reconhecida pelo conjunto das forças. O mérito principal do êxito cabe ao PSB que é o partido hegemônico nessa coligação. E os outros partidos também contribuíram, mas não nos eximimos de dizer que o PCdoB deu uma contribuição muito importante.
. A segunda razão é que o PCdoB, além de ter o vice-prefeito, reelegeu um vereador de raízes populares sólidas, o Almir Fernando, que ficou muito bem posicionado. E embora não tenhamos, por razões circunstanciais, viabilizado a tática da disputa para a Câmara Municipal em chapa própria, como aconteceu nas duas eleições passadas, e isso não nos permitiu eleger mais um vereador, nós projetamos dois quadros do Partido na cena política: A Cida Pedrosa, poeta, advogada, gestora pública e militante dos direitos humanos, e a professora e líder sindical Antonieta Trindade. Ambas foram bem votadas e passam a ser porta vozes do PCdoB no Recife. Isso é uma conquista. E acho também que o PCdoB comemora a correção de sua resolução política aprovada em sua última Conferência Municipal, que de fato serviu como guia para o Partido no cenário que se desenvolveu na cidade. A resolução, que em um trecho dizia que priorizaríamos a unidade da Frente Popular inicialmente em torno de um presumível candidato do PT, mas que não nos eximiríamos de discutir uma candidatura alternativa desde que viesse a ser pactuada com o conjunto dos partidos, foi uma referência segura para a flexão tática que precisamos fazer. A orientação se mostrou correta. Afirmava o rumo, mas outras coisas também poderiam acontecer. Então, o Comitê Municipal seguiu plenamente em acordo com aquilo que foi definido pela Conferência.
E agora, depois das eleições, quais são as tarefas da direção do Partido?
Luciano Siqueira – O Comitê Municipal do Recife se esforça para de fato exercer o seu papel e ter na sua Comissão Política o núcleo dirigente executivo. Durante a campanha a direção funcionou toda vez em que precisamos deliberar sobre algo importante no curso da batalha. E agora, a tarefa número um do Partido é iniciar a avaliação, examinar a nova situação política no município, porque mudou a correlação forças, mudou a força hegemônica, e identificar com clareza os ajustes táticos e a atualização de suas tarefas, tanto na luta social quanto na frente institucional e na luta de ideias. Já está estabelecido um calendário de três reuniões sucessivas da Comissão Política e uma do pleno do Comitê Municipal cuja essência é essa, a avaliação da batalha travada, novo quadro político e novas tarefas do Partido. .
Do Recife, Inamara Mélo e Audicéia Rodrigues
Entrevista ao portal Vermelho
. As eleições do Recife, marcadas pelo
distanciamento entre as duas principais forças políticas de esquerda de
Pernambuco - PT e PSB - e os fatores que levaram à expressiva vitória em 1º
turno do candidato Geraldo Júlio, apoiado pelo governador Eduardo Campos, foram
objeto de análise feita pelo vice-prefeito eleito e presidente do PCdoB da
capital pernambucana, Luciano Siqueira, em entrevista especial ao Portal
Vermelho.
. Para Luciano, que acredita na
possibilidade de reintegração do PT ao bloco de forças que compõem a Frente
Popular, o novo prefeito tem o desafio de aprimorar as conquistas acumuladas
nas últimas três gestões petistas, mas explica que este não deverá ser um
governo de continuidade. Será um governo de inovação com foco em soluções
criativas para dar conta das oportunidades e desafios da cidade-polo da metrópole
palco das decisões e inciativas que marcam o atual ciclo de desenvolvimento de
Pernambuco.
Luciano Siqueira – Trata-se de uma
vitória espetacular. A despeito do amplo leque de forças que reunimos, é sempre
bom lembrar que na primeira pesquisa feita o candidato Geraldo Júlio tinha
apenas 4% das intenções de voto, o que permitiu que concorrentes e algumas
vozes na imprensa insinuassem que essa candidatura se tratava de uma invenção
sem muitas chances. E se foi uma vitória espetacular cabe fazer uma análise
conscienciosa das razões pelas quais foi possível vencer. Creio que a eleição
no Recife não foi uma coisa simples. Foi uma batalha complexa que, inclusive,
do meio para o fim implicou desafios de muita relevância. Só daqui a algum
tempo, com a poeira assentando, será possível fazer uma análise mais rigorosa.
. No entanto, alguns elementos que
contribuíram para a vitória da Frente Popular me parecem muito perceptíveis a
uma primeira vista. Primeiro, do ponto de vista da própria Frente Popular e da
candidatura de Geraldo Julio há dois fatores decisivos conduzidos por uma
orientação tática correta. O primeiro fator é a amplitude e a pluralidade da
Frente reunida em torno da candidatura de Geraldo.. Uma frente de 14 partidos que no curso da campanha, mediante o diálogo que estabeleceu com a sociedade, foi agregando setores os mais diversos, inclusive que guardam contradições entre si. Trabalhadores, empresários, o mundo da ciência, da cultura e da tecnologia, igrejas de diversas denominações evangélicas, setores da igreja católica. Enfim, um amplo leque político e social.
. Com um detalhe que é importante anotar: uma frente muito ampla, heterogênea, plural, porém unida em torno da proposta de governo que paulatinamente foi construída, através do diálogo com a sociedade, com a população dos bairros populares, quadros técnicos e gestores públicos experimentados que nos ajudaram a dar o tratamento adequado ao produto desse diálogo.
Esse diálogo amplo foi, então, decisivo?
Luciano Siqueira - Sim, nós chegamos a debater os problemas da cidade com mais de 60 grupos organizados da sociedade, representados por entidades corporativas de empresários e trabalhadores, por instituições públicas e privadas, universidades, mulheres, juventude, movimento LGBT, etc., um movimento muito rico. De modo que o programa que nós registramos em cartório, para ser cobrado pela população, já na última semana de campanha, é rigorosamente produto dessa mescla, da ausculta e análise política e técnica por parte do corpo de quadros da campanha, que gerou unidade e coesão muito sólida. A ênfase é o desenvolvimento em favor de uma cidade mais humana.
. O outro fator é a mobilização do povo. A campanha deliberadamente apostou na mobilização popular desde o início. A primeira decisão política da campanha foi ocupar o território da cidade apoiada nos mais de 300 candidatos a vereador e em lideranças populares, sindicais e comunitárias.
. Nós tínhamos um candidato desconhecido do grande público e procuramos capilarizar a candidatura de Geraldo no conjunto da cidade, através de inúmeras pequenas, médias e grandes reuniões e caminhadas sempre encerradas com um brevíssimo comício onde falavam um deputado presente, eu e ele, e quando o governador Eduardo Campos (PSB) esteve presente, numa segunda fase da campanha, também o governador.
. Então, essa mobilização da população nos permitiu que, quando veio o programa eleitoral na televisão e no rádio já existia uma malha na cidade que ouvira falar em Geraldo Julio e tivera um primeiro contato com as nossas ideias e propostas para a cidade.
Os adversários acusavam Geraldo de ser apenas um técnico, despreparado politicamente...
Luciano Siqueira - Verdade, bateram nessa tecla todos os adversários e concorrentes. No entanto, a prática demonstrou que Geraldo era mais do que um técnico, revelou-se um líder político hábil, capaz de ouvir atentamente, respeitando as diferenças, e de sintetizar queixas e aspirações em termos elevados e aptos a unir e a motivar para a luta. Ele foi sempre muito aplicado na condução da campanha conforme a orientação tática que adotamos, que colocou como centro da campanha a defesa de propostas para cidade, evitando confronto em termos rebaixados com os concorrentes e adversários, que buscou até onde foi possível manter uma relação fraterna com a candidatura do PT.
. Mas é claro que, quando uma facção derrota outras facções concorrem também para isso a insuficiência, os erros e os equívocos dos concorrentes.
Como se deu a correlação de forças entre as principais candidaturas?
Luciano Siqueira - O cenário da disputa se alterou de maneira formidável porque o senador Humberto Costa, candidato pelo PT, em aliança com o PP, PHS e PSDC, começou com 43% das intenções de voto e terminou em terceiro lugar. (O segundo colocado, no início, era o ex-governador Mendonça Filho, do Democratas, com 22%, que veio a desmoronar para pouco mais de 2%). Avalio que a candidatura de Humberto Costa errou no nascedouro e errou seriamente durante toda a campanha. No nascedouro porque foi produto de uma crise interna do PT publicamente explicitada, em termos deprimentes, cujo traço essencial é a desagregação do Partido dos Trabalhadores no Recife.
. Do ponto de vista prático, a candidatura de Humberto Costa deu ênfase, o tempo todo, ao que nós poderíamos chamar de “fatores exógenos”. Ao invés de se afirmar como candidato com um discurso próprio, com uma proposta para a cidade, ele começou acusando o PSB de “traição”, reclamando por não ter o apoio de um partido que teria, como todos os demais, o direito de fazer sua escolha.
. Depois, passou mais de um mês ou quase toda a campanha anunciando a possível vinda de Lula ao Recife e consignando a essa presença de Lula um peso, que como ele próprio chegou a externar mais de uma vez, seria decisivo para a tentativa de vencer.
. Quando a candidatura dele começou a cair de maneira mais acentuada, aí ele aprimorou os erros táticos. Escolheu como alvo principal o candidato da Frente Popular, tentou desconstruí-lo com um discurso falso, porque desconstruir politicamente o concorrente, o adversário, não é errado e se for uma desconstrução que tenha base na realidade é assimilada pelo eleitorado. Mas, o que a candidatura do senador Humberto Costa pretendeu fazer foi negar responsabilidades que Geraldo Julio quando secretário de Estado efetivamente assumiu. O exemplo mais evidente disso é quando o programa eleitoral de Humberto veiculou imagens de recortes de jornais e a fala do sociólogo Luiz Ratton, tentando passar a ideia de que teria sido Ratton o coordenador do Pacto pela Vida, um programa de destaque do Governo do Estado, quando na verdade Luiz Ratton coordenou a fase preparatória e, uma vez instalado o programa, é público que o coordenador foi Geraldo Julio. Então, essa linha tática não deu certo.
. Em seguida, mudou o alvo mais uma vez. Centrou o ataque no governo do estado, exatamente um governo que tem um índice de avaliação sem precedentes na cidade do Recife, mais de 90% de avaliação positiva, com a presença na cidade através de ações concretas reconhecida por 97% da população. Escolheu uma bandeira falsa também, acusando o governo de pretender privatizar a Compesa, empresa estatal de água e saneamento, e, ainda por cima, atribuindo a essa suposta privatização a ameaça de aumento da tarifa.
. Isso também se revelou um erro tático importante. Além disso, o fato que a atual gestão, do prefeito petista João da Costa, percorreu todo o processo da campanha sofrendo um imenso desgaste, engendrando na população o desejo e a expectativa de mudança, que veio a ser empalmado pela candidatura de Geraldo.
. Mas os erros da campanha do PT permitiram também o crescimento da candidatura inconsequente do PSDB, com o deputado estadual Daniel Coelho, que ocupou parte importante do espaço que deveria estar sendo ocupado pela candidatura de Humberto Costa.
Como o candidato do PSDB se apresentou?
Luciano Siqueira - Daniel Coelho, pela fragilidade da candidatura do PT ocupou espaço e se converteu no segundo colocado, aparecendo para parcela do eleitorado menos atenta como elemento de mudança. Deu uma contribuição negativa ao debate político. Reeditou um discurso no estilo clássico de Jânio Quadros (presidente do Brasil, em 1961) e Fernando Collor (presidente do Brasil entre 1990 e 1992), sustentando uma cantilena contra os partidos, contra os políticos, contra a política, pretendendo se apresentar à população como a coisa nova, sem nenhum compromisso, no dizer dele, com o que aconteceu na cidade do Recife nos últimos 50 anos.
. De uma só tacada ele colocou na vala comum, como gestores malsucedidos, Pelópidas Silveira, que marcou a história do Recife; Miguel Arraes e as próprias gestões recentes do PT, que obtiveram êxitos importantes.
Como a evolução das candidaturas do PT e do PSDB influenciou a tática da Frente Popular?
Luciano Siqueira - Esses comportamentos dos candidatos do PT e do PSDB, cada um no seu estilo, colocaram diante de nós desafios táticos importantes. Nós estávamos decididos a tratar sempre de maneira fraternal a candidatura do PT, baseados no pressuposto correto de que - e isso, inclusive, é textual na Resolução do PCdoB que define a aliança com o PSB – nós considerávamos Geraldo Julio e Humberto Costa candidatos oriundos da Frente Popular de Pernambuco, integrantes, portanto, do mesmo campo de forças. No entanto, tivemos de responder com firmeza a tentativa de desconstrução da nossa candidatura com argumentos falsos por parte de Humberto Costa e tivemos também de revelar de público o verdadeiro perfil do candidato do PSDB, que além de esconder sua trajetória política e as lideranças conservadoras que o apoiavam, etc.
. Alguém que dizia que ia mudar o Recife sem ter apresentado uma proposta concreta para cidade, que dizia na televisão que quem quisesse saber das propostas fosse ao site de sua campanha e quando você visitava o site encontrava um documento com afirmações genéricas. Era uma fraude, com todo respeito ao deputado. E a campanha da Frente Popular se sentiu na obrigação de esclarecer do que se tratava.
. Não foi uma decisão fácil, porque a fronteira entre explicitar para a população uma verdade sobre o concorrente e baixar o nível da disputa é muito tênue. Isso demandou discussões demoradas entre o comando político e a área da comunicação da campanha. Nossas decisões se confirmaram corretas.
O futuro governo de Geraldo Julio pode ser avaliado como um governo de mudanças ou de certa forma representa a continuidade de um projeto político?
Luciano Siqueira – Nós estamos convencidos de que o governo de Geraldo Julio será um governo de mudanças. Mudança pelo programa que nós construímos, pela postura política, e porque tanto no programa como na atitude do prefeito eleito há mais do que um desejo, há um compromisso público de, ao mesmo tempo em que nós vamos preservar conquistas alcançadas pela cidade do Recife ao longo dos tempos, incluindo as conquistas acumuladas nas três gestões comandadas pelo PT, que vamos tentar aprimorar e consolidar, há também um compromisso claro de inovar. Inovar nos fundamentos das políticas públicas, na abordagem dos problemas do ponto de vista do método de gestão e inovar na mobilização da sociedade para nos ajudar a governar.
Quais serão os primeiros passos?
Luciano Siqueira - Nós vamos ter um primeiro ensaio disso, desse terceiro aspecto. O prefeito Geraldo Julio tem dito e repetido que a primeira tarefa é fazer o dever de casa, que é limpar e botar ordem na cidade. Nossa intenção é realizar essa tarefa com ampla participação da sociedade.
. Não temos ainda o modelo, o formato, estamos construindo ainda daqui até dezembro, para iniciar o governo limpando a cidade, retirando os entulhos, com a participação de diversas outras instituições, das igrejas, das organizações populares, da população em geral. A intenção é essa.
. Mais: já agora na transição trabalhamos no sentido de no curso dos primeiros 100 dias de governo poder realizar iniciativas marcantes previstas em nosso Programa, como iniciar a construção do Hospital da Mulher, por exemplo.
. Então, será um governo de mudanças. Agora, todo governo de mudança tem também elementos de continuidade. Mesmo quando existe uma ruptura revolucionária na sociedade. A teoria marxista considera que a sociedade nova é parida dentro da sociedade velha. Então, o que você começa a construir de novo nunca deixa de ser um misto do novo com elementos de continuidade, elementos do que ficou.
Como fica a relação com o PT a partir de agora?
Luciano Siqueira – Esse é um caso típico de uma relação de amor que sofre um estremecimento porque um dos parceiros atravessa um momento de conflito interior (risos). Esse desenho das eleições, em que a maioria dos partidos que compõem a Frente Popular do Recife se reuniu em torno da candidatura de Geraldo Júlio e o PT ficou de fora, a raiz disso tudo foi o próprio PT. Mas o PT não saiu do governo do Estado e continua a participar da Frente Popular de Pernambuco. Os partidos que nos apoiaram também integram a base de apoio da presidenta Dilma. O normal será, portanto, uma reintegração do PT à Frente Popular. O prefeito declarou uns 15 dias antes das eleições em uma entrevista à uma rádio local que se vencesse as eleições iria apelar a todos os partidos concorrentes, e o PT privilegiadamente porque sempre foi um aliado, que colaborassem com a gestão. Agora, o que estamos assistindo pelos jornais, é que o PT ensaia ainda uma avaliação interna do processo vivido no Recife, que não sabemos quando tempo dura e a que conclusões chegará. Do ponto de vista de Geraldo Júlio e da Frente Popular, o PT é parceiro. O PT tem vereadores na Câmara Municipal, tem experiência acumulada na cidade, tem um legado que nós vamos preservar e fortalecer, o natural é que o PT nos apoie no governo.
Você não acredita então na possibilidade de cisão entre o PT e o PSB, com uma candidatura à presidência do governador Eduardo Campos em 2014?
Luciano Siqueira – Isso está mais na mídia do que na vida, mais nos discursos dos jornais do que na realidade concreta. Toda frente é um leque de partidos e todos os partidos que fazem parte da ampla coalizão que dá sustentação ao governo Dilma - todos, sem exceção -, enfrentaram essas eleições com o objetivo de acumular forças. Isso é um direito de cada partido. O PSB é um dos partidos que saem fortalecidos. Como o PT, que vencerá em São Paulo capital e em muitas cidades importantes do País. O PCdoB também se fortalece. Daí a imaginar que o fortalecimento de um aliado seja motivo de desagregação tem uma distancia muito grande. Em minha opinião, a força e a audiência que o PSB tem no conjunto da sociedade se deve também ao fato de ser um partido importante na coalizão governista. Não vejo necessidade política de uma divisão, e não sinto que essa seja uma pretensão do PSB.
Como a oposição sai desse processo eleitoral?
Luciano Siqueira – No Recife a oposição sai muito fragilizada. Em geral, as eleições são polarizadas, metade-metade. Neste ano, se nós somarmos a votação de Geraldo Júlio e a votação de Humberto Costa, nosso campo de forças, a base de apoio da presidenta Dilma, teve mais de 70% dos votos no Recife. Essa é uma conta que precisa ser feita. A oposição não morre, e é bom que não morra. É saudável que ela exista, uma oposição qualificada. Há inclusive nos partidos que nos farão oposição vereadores experientes, qualificados. Isso é positivo para o processo democrático e para a nossa gestão, que haverá de ser avaliada e acompanhada pela oposição. Isso nos ajuda e não nos atrapalha.
E como o senhor avalia o resultado do PCdoB?
Luciano Siqueira – Nosso Partido sai vitorioso. Sobretudo por duas razões. A primeira é por ter dado uma contribuição importante à vitória da Frente Popular. A contribuição do PCdoB do ponto de vista da construção da linha da campanha, da orientação política da Frente, da tática eleitoral, é reconhecida pelo conjunto das forças. O mérito principal do êxito cabe ao PSB que é o partido hegemônico nessa coligação. E os outros partidos também contribuíram, mas não nos eximimos de dizer que o PCdoB deu uma contribuição muito importante.
. A segunda razão é que o PCdoB, além de ter o vice-prefeito, reelegeu um vereador de raízes populares sólidas, o Almir Fernando, que ficou muito bem posicionado. E embora não tenhamos, por razões circunstanciais, viabilizado a tática da disputa para a Câmara Municipal em chapa própria, como aconteceu nas duas eleições passadas, e isso não nos permitiu eleger mais um vereador, nós projetamos dois quadros do Partido na cena política: A Cida Pedrosa, poeta, advogada, gestora pública e militante dos direitos humanos, e a professora e líder sindical Antonieta Trindade. Ambas foram bem votadas e passam a ser porta vozes do PCdoB no Recife. Isso é uma conquista. E acho também que o PCdoB comemora a correção de sua resolução política aprovada em sua última Conferência Municipal, que de fato serviu como guia para o Partido no cenário que se desenvolveu na cidade. A resolução, que em um trecho dizia que priorizaríamos a unidade da Frente Popular inicialmente em torno de um presumível candidato do PT, mas que não nos eximiríamos de discutir uma candidatura alternativa desde que viesse a ser pactuada com o conjunto dos partidos, foi uma referência segura para a flexão tática que precisamos fazer. A orientação se mostrou correta. Afirmava o rumo, mas outras coisas também poderiam acontecer. Então, o Comitê Municipal seguiu plenamente em acordo com aquilo que foi definido pela Conferência.
E agora, depois das eleições, quais são as tarefas da direção do Partido?
Luciano Siqueira – O Comitê Municipal do Recife se esforça para de fato exercer o seu papel e ter na sua Comissão Política o núcleo dirigente executivo. Durante a campanha a direção funcionou toda vez em que precisamos deliberar sobre algo importante no curso da batalha. E agora, a tarefa número um do Partido é iniciar a avaliação, examinar a nova situação política no município, porque mudou a correlação forças, mudou a força hegemônica, e identificar com clareza os ajustes táticos e a atualização de suas tarefas, tanto na luta social quanto na frente institucional e na luta de ideias. Já está estabelecido um calendário de três reuniões sucessivas da Comissão Política e uma do pleno do Comitê Municipal cuja essência é essa, a avaliação da batalha travada, novo quadro político e novas tarefas do Partido. .
Do Recife, Inamara Mélo e Audicéia Rodrigues
A palavra instigante de Jomard
de
CARLOS DRUMMOND
aos DRUMUNDANOS
Jomard Muniz de Britto, jmb
ou uma perda desnorteadora?
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar, desamar?
Outras palavras
no meio do caminho.
Campo de flores
em grãos de angústia.
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante.
Imensidão de sertões, aquém dos mares.
No meio do caminho
labirintos sem fim.
O tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor das chamas extintas.
Era o tempo mais justo do desamparo.
Nunca esqueceremos esse acontecimento
na vida de retinas famintas.
A MÁQUINA do MUNDO
aos inéditos.
RELÓGIO do ROSÁRIO
aos crentes e céticos.
A vidamor vário passada a limpo?
Rotinas famigeradas.
Roteiros sempre em transe.
Mas, se nos tocou um amor crepuscular,
há que amar diferenças e destinações.
E talvez a ironia,
cruel sarcasmo,
tenha dilacerado a melhor dádiva.
A vida mínima, ávida por amanhecer.
Poesia minimalista, por quase todos.
Jamais esqueceremos
perdas e pedradas.
Deuses entre secas, saques e cercados
sabem do amor que nos punge e que está
pulsando numa fogueira a arder,
no dia findo ou em desejo por vir.
Para quem ser experimental em tempos
de ruina, paupéria e lixões na TV?
DRUMUNDANOS de todo mundo uni-vos
aos leitores e debatedores na Livraria
Jaqueira, entrelugar das caminhadas.
Recife, quase novembro de 2012.
atentadospoeticos@yahoo.com.br
aos DRUMUNDANOS
Jomard Muniz de Britto, jmb
Onda e amor,
onde amor, ando indagando:
no meio do
caminho tinha uma pedraou uma perda desnorteadora?
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar, desamar?
Outras palavras
no meio do caminho.
Campo de flores
em grãos de angústia.
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante.
Imensidão de sertões, aquém dos mares.
No meio do caminho
labirintos sem fim.
O tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor das chamas extintas.
Era o tempo mais justo do desamparo.
Nunca esqueceremos esse acontecimento
na vida de retinas famintas.
A MÁQUINA do MUNDO
aos inéditos.
RELÓGIO do ROSÁRIO
aos crentes e céticos.
A vidamor vário passada a limpo?
Rotinas famigeradas.
Roteiros sempre em transe.
Mas, se nos tocou um amor crepuscular,
há que amar diferenças e destinações.
E talvez a ironia,
cruel sarcasmo,
tenha dilacerado a melhor dádiva.
A vida mínima, ávida por amanhecer.
Poesia minimalista, por quase todos.
Jamais esqueceremos
perdas e pedradas.
Deuses entre secas, saques e cercados
sabem do amor que nos punge e que está
pulsando numa fogueira a arder,
no dia findo ou em desejo por vir.
Para quem ser experimental em tempos
de ruina, paupéria e lixões na TV?
DRUMUNDANOS de todo mundo uni-vos
aos leitores e debatedores na Livraria
Jaqueira, entrelugar das caminhadas.
Recife, quase novembro de 2012.
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