23 janeiro 2013

Paciência e habilidade

2014: é cedo para decidir, mas não é pecado especular
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Folha

Getúlio Vargas, certamente o maior estadista brasileiro, marcou sua rica e contraditória trajetória política por uma gama de virtudes (bem superiores aos defeitos) e uma extraordinária capacidade de decidir no momento certo. Sem açodamento nem hesitação. Saber esperar foi uma diretriz que impôs a seus impacientes correligionários em conjunturas complexas. A História lhe deu razão.

Estamos praticamente na metade dos mandatos da presidenta Dilma e dos governadores estaduais. Cedo para debater o pleito geral de 2014? Sob o aspecto da nitidez do cenário político-eleitoral, ainda carente das principais variáveis que o conformarão, sim. Porém do ponto de vista da necessidade de firmar posições preliminares que venham cacifar possíveis postulantes e seus partidos, não – nada impede que se especule à vontade.

Especular sobre pretensões de A ou de B não é pecado. Errado é a bordar o assunto como se as favas já estivessem contadas, ou próximas disso. Há muito chão pela frente. E será de bom alvitre, pelo menos para os que levam a sério seus desejos, dosar as especulações com uns bons miligramas de cautela. Saber esperar, como ensinava Getúlio, é tão necessário quanto costurar presumíveis apoios.

Vejamos a eleição presidencial. Alguém tem dúvidas de que a presidenta Dilma levaria imensa vantagem se o pleito fosse hoje? Não apenas porque não existiria clima para dissenções importantes no bloco partidário que lhe dá sustentação, mas também porque a oposição está a anos luz de encontrar uma proposta consistente e um discurso compreensível e aceitável pela maioria dos eleitores. E a situação pode se tornar mais favorável ainda à reeleição da presidenta se às vésperas do pleito e economia apresentar boa performance, como, aliás, tende a acontecer.

No âmbito dos estados, com raras exceções, mais razão ainda para cautela. Mesmo quando o governante atual se encontra em segundo mandato e, portanto, não pode se recandidatar. Em geral predominam mais nuvens obscuras do que céu aberto. O desenho da contenda mal se esboça. Assim, todo e qualquer projeto que se pretenda consequente obrigatoriamente há que percorrer um roteiro que combine a percepção exata dos desafios que permearão a disputa com habilidade em interagir e agregar os diversos atores que influenciarão a futura correlação de forças.

Por enquanto, ocupar espaço na mídia trombeteando pretensões vale muito menos do que a costura paciente, discreta e consistente da teia que venha a lhe favorecer. Contudo, como cada um tem o direito de escolher livremente os próprios passos e errar não é pecado, tudo é permitido – até mesmo a precipitação que enfraquece.

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