Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Folha
Getúlio Vargas, certamente o maior estadista brasileiro,
marcou sua rica e contraditória trajetória política por uma gama de virtudes
(bem superiores aos defeitos) e uma extraordinária capacidade de decidir no
momento certo. Sem açodamento nem hesitação. Saber esperar foi uma diretriz que
impôs a seus impacientes correligionários em conjunturas complexas. A História
lhe deu razão.
Estamos praticamente na metade dos mandatos da presidenta
Dilma e dos governadores estaduais. Cedo para debater o pleito geral de 2014?
Sob o aspecto da nitidez do cenário político-eleitoral, ainda carente das principais
variáveis que o conformarão, sim. Porém do ponto de vista da necessidade de firmar
posições preliminares que venham cacifar possíveis postulantes e seus partidos,
não – nada impede que se especule à vontade.
Especular sobre pretensões de A ou de B não é pecado. Errado
é a bordar o assunto como se as favas já estivessem contadas, ou próximas
disso. Há muito chão pela frente. E será de bom alvitre, pelo menos para os que
levam a sério seus desejos, dosar as especulações com uns bons miligramas de
cautela. Saber esperar, como ensinava Getúlio, é tão necessário quanto costurar
presumíveis apoios.
Vejamos a eleição presidencial. Alguém tem dúvidas de que a
presidenta Dilma levaria imensa vantagem se o pleito fosse hoje? Não apenas
porque não existiria clima para dissenções importantes no bloco partidário que
lhe dá sustentação, mas também porque a oposição está a anos luz de encontrar
uma proposta consistente e um discurso compreensível e aceitável pela maioria
dos eleitores. E a situação pode se tornar mais favorável ainda à reeleição da
presidenta se às vésperas do pleito e economia apresentar boa performance, como,
aliás, tende a acontecer.
No âmbito dos estados, com raras exceções, mais razão ainda
para cautela. Mesmo quando o governante atual se encontra em segundo mandato e,
portanto, não pode se recandidatar. Em geral predominam mais nuvens obscuras do
que céu aberto. O desenho da contenda mal se esboça. Assim, todo e qualquer
projeto que se pretenda consequente obrigatoriamente há que percorrer um
roteiro que combine a percepção exata dos desafios que permearão a disputa com
habilidade em interagir e agregar os diversos atores que influenciarão a futura
correlação de forças.
Por enquanto, ocupar espaço na mídia trombeteando pretensões
vale muito menos do que a costura paciente, discreta e consistente da teia que
venha a lhe favorecer. Contudo, como cada um tem o direito de escolher
livremente os próprios passos e errar não é pecado, tudo é permitido – até
mesmo a precipitação que enfraquece.
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