Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Folha
Governo que se faça realmente democrático há que se
beneficiar da existência de uma oposição atenta e atuante. No mínimo para que
se dê confronto de projetos distintos e, assim, esclarecer concepções e por à prova
a justeza e a consequência da ação administrativa.
Oposição inexistente, apenas pro forma, ao contrário de
confortável, antes é prejudicial a quem de fato deseja contribuir para o debate
no transcurso do governo e separar o joio e o trigo. Unanimidade nas casas
legislativas é e sempre será ruim.
Mas há tons e matizes diferenciados no modo de fazer
oposição pelo país afora. Do Congresso Nacional às Assembleias Legislativas e
Câmaras Municipais. Resulta em mera pirotecnia a oposição pontual, que examina
as coisas apenas na superfície e não enxerga os fatos às luz de políticas
públicas cuja essência deve ser questionada. Mais: na onda do denuncismo
alimentado por grande parte da mídia, resvala fácil para a criação de factóides,
que eventualmente geram manchetes, mas nada esclarecem.
Bom seria se as bancadas oposicionistas se constituíssem em
blocos críticos do Programa de governo e das bases conceituais e dos resultados
práticos das políticas públicas em vigor. Teríamos um debate elevado que, no
mínimo, propiciaria à opinião pública atenta distinguir as diferenças
substanciais dentre as correntes políticas que governam e as que estão na
oposição.
É querer demais? Claro que não. Se tudo na vida pode se
aperfeiçoar com a prática e o correr do tempo contribui para amadurecer consciências,
já nos aproximamos de três décadas desde que se iniciou este que é o maior
ciclo democrático da história de nossa República, com o fim da ditadura militar
em 1985. Tempo para um bom acúmulo de experiências e para a decantação de
ideias e atitudes.
Mas há sempre a pressão imediatista e o desejo incontrolável
da notícia fácil que, equivocadamente, muitos pensam ser o único caminho para a
conquista da notoriedade perante o eleitorado. Mais cômodo procurar chifre em
cabeça de cavalo e proferir acusações infundadas ou críticas ligeiras do que
aprofundar-se no exame criterioso da realidade concreta e queimar os neurônios
com o estudo das proposições e iniciativas do governo. Então, fazem-se
insinuações, se anunciam pedidos de informação sobre este ou aquele tema ou
ainda a realização de audiências públicas, como se esses expedientes por si
mesmo significassem algo substancial.
Ledo engano. Primeiro, porque os governos sequer são
afetados por esse tipo de questionamento frágil e estéril. Segundo, porque os
mapas eleitorais registram, a cada pleito, a derrota de muitos parlamentares
que exerceram seus mandatos mais interessados em registros na mídia do que
propriamente nos problemas reais que dizem respeito à vida do povo. Notáveis
derrotados nas urnas.
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