06 fevereiro 2013

Para qualificar o debate

Oposições: tons e matizes
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Folha

Governo que se faça realmente democrático há que se beneficiar da existência de uma oposição atenta e atuante. No mínimo para que se dê confronto de projetos distintos e, assim, esclarecer concepções e por à prova a justeza e a consequência da ação administrativa.

Oposição inexistente, apenas pro forma, ao contrário de confortável, antes é prejudicial a quem de fato deseja contribuir para o debate no transcurso do governo e separar o joio e o trigo. Unanimidade nas casas legislativas é e sempre será ruim.

Mas há tons e matizes diferenciados no modo de fazer oposição pelo país afora. Do Congresso Nacional às Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. Resulta em mera pirotecnia a oposição pontual, que examina as coisas apenas na superfície e não enxerga os fatos às luz de políticas públicas cuja essência deve ser questionada. Mais: na onda do denuncismo alimentado por grande parte da mídia, resvala fácil para a criação de factóides, que eventualmente geram manchetes, mas nada esclarecem.

Bom seria se as bancadas oposicionistas se constituíssem em blocos críticos do Programa de governo e das bases conceituais e dos resultados práticos das políticas públicas em vigor. Teríamos um debate elevado que, no mínimo, propiciaria à opinião pública atenta distinguir as diferenças substanciais dentre as correntes políticas que governam e as que estão na oposição.

É querer demais? Claro que não. Se tudo na vida pode se aperfeiçoar com a prática e o correr do tempo contribui para amadurecer consciências, já nos aproximamos de três décadas desde que se iniciou este que é o maior ciclo democrático da história de nossa República, com o fim da ditadura militar em 1985. Tempo para um bom acúmulo de experiências e para a decantação de ideias e atitudes.

Mas há sempre a pressão imediatista e o desejo incontrolável da notícia fácil que, equivocadamente, muitos pensam ser o único caminho para a conquista da notoriedade perante o eleitorado. Mais cômodo procurar chifre em cabeça de cavalo e proferir acusações infundadas ou críticas ligeiras do que aprofundar-se no exame criterioso da realidade concreta e queimar os neurônios com o estudo das proposições e iniciativas do governo. Então, fazem-se insinuações, se anunciam pedidos de informação sobre este ou aquele tema ou ainda a realização de audiências públicas, como se esses expedientes por si mesmo significassem algo substancial.

Ledo engano. Primeiro, porque os governos sequer são afetados por esse tipo de questionamento frágil e estéril. Segundo, porque os mapas eleitorais registram, a cada pleito, a derrota de muitos parlamentares que exerceram seus mandatos mais interessados em registros na mídia do que propriamente nos problemas reais que dizem respeito à vida do povo. Notáveis derrotados nas urnas.

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