26 março 2014

Pressão externa

Um país sob intensa chantagem

Renato Rabelo*

A notícia do rebaixamento da nota do crédito soberano brasileiro pela agência de risco Standard & Poor's (S&P's) não deve ser motivo de surpresa para quem acompanha como as coisas funcionam. Há quem comemore, sobretudo a oposição, a mídia monopolizada e o próprio capital financeiro internacional.

Tenho dito há algum tempo que o Brasil transformou-se em alvo preferencial da capital financeiro internacional. Este capital financeiro, e especulativo, busca novos campos de investimento pelo mundo. Evidente que o Brasil é um lugar especial neste aspecto por várias razões. Porém, existe um problema. Nosso país foi um dos únicos lugares do mundo onde a crise não foi acompanhada por medidas internas de radical liberalização financeira, corte nos investimentos sociais e retrocesso em políticas ativas de salário mínimo. Na verdade ocorreu justamente o contrário.

Interesses políticos e financeiros imensos escondem o teor deste “rebaixamento”. Quanto menor o chamado “grau de investimento”, maior a necessidade de garantias ao “dito” investidor estrangeiro. Quais as garantias, de fato eles querem e buscam? É simples: arrocho monetário, maiores taxas de juros e garantias jurídicas de que podem entrar e sair do país na hora que bem entenderem. Não é, novamente, surpresa eles atribuírem esse rebaixamento à deterioração de nossa situação fiscal e a baixa credibilidade de nossa política econômica.

A situação fiscal e a política econômica brasileira são expressões de opções corretas feitas em momentos de débâcle financeiro internacional. Poderíamos, a la FHC, colocar nas costas do povo a conta por socorro ao FMI, duríssimos ajustes fiscais, retrocesso nos direitos sociais e congelamento de salários. Não foi essa a opção brasileira. E o país saiu vencedor enquanto na Europa e EUA os responsáveis pela crise foram premiados com mais poder, dinheiro e estatização de dívidas.

Dá para levar essas agências de risco à sério? Boa pergunta. Um dia antes da quebra da economia argentina, em 2001, a “nota” de nossos vizinhos era máxima. Um dia antes da quebra da Lehman Brothers, a mesma coisa. E os exemplos se sucedem. O capital financeiro não tem o monopólio da verdade absoluta. A única verdade que interessa nesta história toda é aquela que atenda aos interesses máximos do povo e da nacionalidade.

Ultima questão, para reflexão: será que essas agências de risco estão preocupadas com os interesses de nosso povo? A resposta a esta questão guarda imensa serventia para explicar o rebaixamento do Brasil por essa agência a serviço da chantagem financeira.

*Renato Rabelo é presidente nacional do Partido Comunista do Brasil

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