Dilma e o cadáver de Johnny Hooker
Vandeck Santiago, no Diário de
Pernambuco
Quando uma crise avança a ponto de o
seu desfecho ser vislumbrado por todos, surge a cobrança dirigida a cada um de
nós: você é a favor que aconteça o quê?
A escalada da crise política está nos encaminhando
para um daqueles momentos em que a todos se cobra uma posição: você é a favor
que aconteça isso ou aquilo? Não necessariamente a favor ou contra um partido
ou um político, mas em relação a uma postura do que você acredita seja o mais
correto a acontecer. Isso acontece quando uma crise avança sem parar e os
desfechos possíveis já não se afiguram mais como algo distante e abstrato, e
sim como uma hipótese concreta que pode virar realidade – tornando imperativa
uma tomada de posição.
Aos artistas e intelectuais, que são
personalidades com influência no público (de massa ou segmentado), esta
cobrança costuma chegar com mais intensidade. O posicionamento de alguns deles
já é bastante conhecido, dado o engajamento de cada um. Se você cita o nome de Chico
Buarque, Milton Nascimento ou Lobão, não precisa nem dizer quem cada um apoia,
tão sabida é a preferência deles.
As declarações de apoio ou crítica são
mais comuns em artistas e intelectuais de carreira já consolidada, com o couro
já curtido para suportar o tiroteio no qual inevitavelmente se metem ao tornar
público seu pensamento político ou ideológico. Os novos são mais reservados,
numa prudência compreensível. Por tudo isso chama atenção o que fez a nova
sensação da música popular brasileira, o ator, compositor e cantor performático
pernambucano Johnny Hooker.
Em sua página no Facebook, domingo, ele
escreveu uma virulenta tomada de posição. O texto integral:
“Eu só queria dizer para vocês que só
vão impedir Dilma Rousseff, a presidenta do Brasil, mulher, militante
sobrevivente da ditadura militar, mãe e avó, economista, reta, heroína, braba,
séria, deusa, eleita por milhões e milhões de brasileiros por voto direto
apesar de uma campanha midiática severa e massiva contra, sucessora indicada do
incrível Luiz Inácio Lula da Silva, sob o meu cadáver.
Boa noite e boa sorte!”
Johnny Hooker tem 28 anos. Ganhou este
ano o prêmio de melhor cantor popular na 26ª edição do Prêmio da Música
Brasileira. Tem músicas em trilha de novela da Globo e em filme. É conhecido
sobretudo pelo público jovem, com sucessos como “Alma sebosa” e “Amor
marginal”. Se vocês nunca foram a um show dele, vão ao primeiro que aparecer.
Se nunca o escutaram, corram para fazê-lo (há vários clipes disponíveis na
internet). Vale a pena.
Mas não é a qualidade do trabalho dele
que está em foco aqui, e sim o seu posicionamento. Para um rapaz cuja carreira
está deslanchando, declarar-se a favor de uma presidente que tem 8% de
aprovação, e da forma incisiva que ele o fez, não é o tipo de atitude que renda
benefícios. Não há, portanto, oportunismo em seu gesto. O que há é aquilo que
falamos no início deste texto – um ambiente em que de todos será cobrado um
posicionamento, contra ou a favor. Os artistas e intelectuais até podem falar
primeiro, mas cedo ou tarde a cobrança chegará para todos nós.
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