Nos salões e nas ruas
Luciano Siqueira, no portal Vermelho
É possível que o primeiro pronunciamento da Frente Brasil
Popular – o Manifesto ao Povo Brasileiro, lançado sábado último, em Belo
Horizonte – exiba certa dispersão, pela multiplicidade de bandeiras, e careça
de foco, tendo em conta a gravidade da crise atual e a necessidade de uma ação
imediata e certeira.
Também é possível divisar uma mescla entre bandeiras
estratégicas e táticas, talvez sem a devida consideração da correlação de
forças em presença.
Defeitos que não lhe subtraem representatividade e
capacidade mobilizadora, que a fazem apta a ocupar os salões e as ruas. E é mais
do que oportuno que assim seja.
A complexidade da crise e a confusão ideológica
estabelecida, sobretudo via complexo midiático e com ressonância entre
correntes populares, reclamam intenso debate, que esclareça, faça convergirem
para um mesmo leito concepções afins e gere um pensamento compreensível e capaz
de galvanizar multidões.
O fator rua, concomitantemente, está posto na ordem do dia. Sem
a mobilização “dos de baixo” a crise terá desdobramento conforme os interesses
apenas ou quase exclusivamente em favor “dos de cima”.
Daí a absoluta necessidade de se avançar simultaneamente em
dois sentidos: concretizar a Frente no âmbito dos estados e municípios, para
lhe assegurar dinamismo na base; e fortalecer o Dia Nacional de Mobilização,
anunciado para o próximo 3 de outubro, quando os movimentos sociais farão manifestações em
todo o país em defesa da soberania nacional e da Petrobras.
Preservar a democracia e retomar o crescimento em bases soberanas e
socialmente inclusivas não é tarefa fácil no atual quadro mundial e brasileiro.
A crise aqui, ainda que guarde peculiaridades próprias, integra o impasse
mundial.
Aqui, tanto quanto mundo afora, opera com força o braço onipotente do
capital financeiro – que, à semelhança de um gás venenoso, influencia e tenta
dominar todos os ambientes.
Faz-se forte, inclusive, na disputa de rumos no interior do governo brasileiro.
Assim, tal como em episódios marcantes de nossa História, há que se
valorizar a busca de alianças amplas, com toda a flexibilidade que a realidade
exige, e ao mesmo tempo mobilizar a verdadeira força motriz da transformação social,
ora em boa parte aglutinada na Frente Brasil Popular.
Uma combinação entre a chamada “grande política” e a mobilização social “pela
base”.
Debater e construir alianças várias é preciso. Ganhar as ruas também é
preciso.
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