Juros altos estão na contramão do crecimento do País
Editorial do Vermelho vermelho.org.br
A decisão do
Conselho de Política Monetária (Copom) de manter a taxa de juros em 14,25% não
ajuda a superar a crise vivida pelo Brasil, vai na contramão do desenvolvimento
e fere os interesses do país e do nosso povo.
O mais grave
é que a decisão não parece ser episódica, mas parte de uma linha de raciocínio
permanente. No início deste mês, o presidente do Banco Central, Alexandre
Tombini, já havia anunciado que “o Banco Central entende que a manutenção do
atual nível da taxa de juros por um período prolongado é necessário para a
convergência da inflação para a meta até o fim de 2016”.
Tentar
segurar a inflação às custas do sacrifício da atividade econômica, do
fechamento de empresas, do aumento do desemprego e da corrosão de salários é
uma opção profundamente equivocada. Para se ter uma ideia da gravidade da
situação, a indústria paulista demitiu mais em setembro deste ano do que
durante todo o ano passado.
O que o
presidente do Banco Central parece não compreender, ecoando visões monetaristas
que tanto mal fizeram ao país, é que, muito mais preocupante do que a inflação,
que deve fechar em 9,5% ao final do ano, é o grande tombo que se anuncia para o
Produto Interno Bruto (PIB).
Essa
política ameaça provocar um retrocesso nas conquistas obtidas nos últimos 13
anos com os governos de Lula e Dilma e que, entre outras coisas, geraram 20
milhões de empregos, retiraram da extrema pobreza cerca 40 milhões de
brasileiros e contribuíram para reduzir as desigualdades regionais do Nordeste
e do Norte do país em relação ao Sul e Sudeste.
Para além
disso, os juros altos corroem as contas do governo, que é obrigado a arcar com
as despesas provocadas pelo aumento da dívida. Estima-se que cada ponto
percentual da taxa Selic represente um impacto de R$ 27 bilhões sobre as contas
da União, quase o equivalente ao investimento anual no Bolsa Família.
A causa da
crise é internacional, conforme sustentamos aqui por diversas vezes, a
responsabilidade por sua existência não é do governo Dilma. Entretanto, urge
enfrentá-la com medidas que incentivem o crescimento econômico, sob pena de
entrarmos em um ciclo vicioso de aumentos dos juros, queda da atividade
econômica, endividamento e ajustes. Esse mesmo ciclo provocou o agravamento
dramático da situação econômica de vários países europeus, como a Itália, por
exemplo.
Paradoxalmente,
a crise criou uma importante ocasião para o Brasil começar a mudar esse cenário
negativo. A desvalorização do real abriu uma janela de oportunidades para as
nossas indústrias, conforme estudos recentes têm demonstrado. A combinação
dessa realidade com um câmbio em taxas mais civilizadas poderia transformar a
crise em oportunidade, conforme tem insistido o economista Luiz Carlos
Bresser-Pereira.
A presidenta
Dilma demonstrou ser uma entusiasta do desenvolvimento nacional ao enfrentar os
interesses rentistas com grande coragem em seu primeiro governo. Diante do
agravamento da crise econômica e política, é compreensível que tenha havido um
recuo momentâneo. Entretanto, passa da hora de voltar a dar passos adiante na
luta contra os interesses da banca. Um bom começo é iniciar imediatamente um
consistente processo de queda das taxas de juros praticadas no Brasil.
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