"Impeachment seria um caos. Até eu iria para a rua"
No Vermelho
O economista Luiz Carlos
Bresser-Pereira afirmou que não há motivos para um impeachment da presidenta
Dilma Rousseff. Segundo ele, as tentativas de derrubar a petista têm origem no
“ódio” que a classe média tem do PT e no “oportunismo de alguns deputados”. Uma
saída de Dilma “seria um caos”, avaliou. “Até eu iria para a rua. Nunca vou
para a rua, sou um intelectual, mas se houvesse um impeachment com as razões
que eles têm aí, pedaladas, TCU, eu iria”, disse ele, um dos fundadores do
PSDB.
Em entrevista à BBC, Bresser, que é ex-ministro de
Administração Federal e Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia, avaliou
que a crise política atual está ligada a uma grande “insatisfação da classe
média”, que teria desenvolvido um ódio em relação ao PT e ao governo.
“O PT não traiu os pobres, foi coerente nesse
ponto, embora também tenha deixado os ricos ganharem muito dinheiro. Então os
ricos e os pobres ganharam e a classe média ficou de fora. Essa classe (média)
desenvolveu um ódio profundo ao PT e o governo. Uma coisa irracional, perigosa
e antidemocrática”.
Segundo ele, um setor da sociedade brasileira
radicalizou para a direita e passou a adotar posições “piores que udenistas,
fascistas”. Questionado sobre as tentativas de afastar a presidenta, ele
afirmou: “Acho que é resultado desse ódio e do oportunismo de alguns deputados,
que se sentem ameaçados por essas investigações (de corrupção). Resolveram contra-atacar.
E o contra-ataque se faz à presidente, porque ela não barrou a Polícia Federal
e o Ministério Público (nas investigações)”.
Para o economista, as elites não estão engrossando
o coro do impeachment. “Acho que as elites brasileiras, e as empresariais
principalmente, perceberam que isso (impeachment) não adiantaria nada. Poderia
até piorar a crise. Então de um ponto de vista conservador, eles são contra”,
avaliou.
O ex-ministro negou o discurso que a oposição tenta
emplacar, de que a presidenta teria praticado um “estelionato eleitoral”, ao
rever propostas de governo. “De nenhuma maneira. (...) Em outubro de 2014, quem
estava prevendo que o Brasil entraria em uma gravíssima recessão econômica, com
queda de 3% do PIB? Ninguém. Não sabíamos. A economia é uma cienciazinha muito
modesta, só é perfeita na cabeça dos economistas ortodoxos. Só se começou a
falar em crise em dezembro”, disse.
Ao comentar o ajuste fiscal promovido pela gestão,
ele defendeu que os cortes são necessários e que o governo está cortando onde
pode. “Defendo o retorno da CPMF: é um imposto pequeno, necessário”. Bresser,
contudo, criticou a política monetária de juros altos implementada pelo Banco
Central.
“Não sou a favor desse aperto monetário. Sei que a
inflação está alta, mas com essa recessão não precisamos de juros mais altos
para segurar os preços – o que, além de ser um empecilho para a retomada dos
investimentos, têm um custo financeiro enorme”, condenou.
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