Ler é um santo remédio
Luciano Siqueira, no
Jornal da Besta Fubana
Costumo
dizer que gostaria de ter vivido em meados do século 19, quando a gente podia
se interessar por muitos assuntos e adquirir conhecimentos em nível razoável. A
informação não tinha um milésimo de velocidade que tem hoje, o que coloca
pessoas volúveis como eu em temendo embaraço.
Explico:
sou um inveterado curioso; e desconheço a área do conhecimento humano que não
me atraia. Mas é impossível manter o interesse vivo, e saciá-lo, quando se
produz a cada segundo mais conhecimento científico, novas aplicações
tecnológicas em todas as áreas. Quem se dedica a atividade acadêmica, por
exemplo, e assina sites especializados na divulgação da produção científica -
ensaios, artigos, relatórios de pesquisa, etc. - costuma dizer que, da noite
para o dia, novos comunicados são postos à disposição do interessado, de modo
que se dá o risco da dispersão. O cara quer saber de tudo e termina sabendo
muito pouco de algumas coisas.
Essa
pisada já vem de algum tempo e ganhou fenomenal impulso com a internet. Tudo o
que existe, ou o que se inventa, cai na rede e vira informação disponível. Uma
miríade interminável.
Como
fica um sujeito feito eu diante disso? Ora, fica em maus lençóis se não
encontrar o bom método para a busca de informação e o seu processamento. Há que
ter foco, capacidade de apreensão do conteúdo essencial e fazer as
inter-relações devidas.
O
danado é que sou desafiado pela leitura de jornais diários, livros e sites. Dos
jornais não posso abrir mão - pelo menos os três de Pernambuco, por dever de
ofício. De sites e blogs noticiosos ou analíticos, idem. E dos livros - paixão
irrefreável desde a adolescência - jamais poderei me separar.
É
aí que entra a tal "leitura dinâmica" - nos termos que desenvolvi por
conta própria, e que vem me ajudado bastante. Ler o essencial, assim definido
em função do foco, ou seja, do que interessa saber no momento da leitura. Se
não há foco a leitura se faz dispersiva, quase imprestável. Isso é como você
abrir a porta de um quarto onde se guardam os mais variados objetos; se não
sabe o que procura, tudo vê e nada encontra.
O
tema reforma política é um bom exemplo. Há verdadeiros tratados a respeito,
além de notícias fragmentadas. Basta buscar no Google para se deparar uma
infinidade de referências. Mas se você tiver direcionado sua pesquisa para dois
elementos centrais na reforma política de sentido democrático, o financiamento
público de campanha e a adoção de listras pré-ordenadas pelos partidos para a
disputa de cargos no parlamento, não há risco de dispersão.
Ainda
acrescento outro artifício - ficha de leitura. No passado, usava aqueles
cartões pautados e fazia minhas anotações à mão ou datilografava. Com o advento
do computador, digito e salvo em arquivo temático. Hoje como antes, a ficha de
leitura me ajuda muito, sobretudo porque tenho boa memória visual e fixo o que
anotei - o que me é de grande valia na construção de roteiros para palestras e
mesmo para artigos.
Mas
é bom sublinhar que não há fórmula nem manual que ensine isso. Nem a solução
que construí para minha própria orientação serve para você que me lê agora.
Cada um bola seu próprio esquema - sua versão de "leitura dinâmica" e
o jeito de anotar, se for o caso.
Agora
confesso que experimento certo remorso em relação aos livros. É que os visito
para ler o que momentaneamente me atrai, e isso me leva frequentemente a ler
partes da obra, e não obra toda. Que me perdoem os autores. Salvam-se os textos
estritamente literários, assim mesmo quando se trata de coletâneas de contos ou
crônicas ou poesia, leio partes e deixo o restante para uma próxima
oportunidade. Em geral retorno, leio o que tinha ficado para depois e releio o
que tinha lido antes. Puro deleite.
Seja
qual for a fórmula que cada um crie, vale reconhecer - hoje como nunca - que ler
faz um bem danado à saúde.
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