A política na República
Flávio
Dino
A grave crise política
por que passa o Brasil evidencia a persistência de práticas abusivas que
maculam o fazer político no país. De outra face, numa perspectiva positiva, a
mesma crise demonstra a importância do bom funcionamento das instituições que
representam o controle recíproco entre os três Poderes.
Fica nítida a imprescindibilidade dos mecanismos
externos e independentes de investigação para que tenhamos uma verdadeira
República. Isso não significa, contudo, que a política possa ser substituída ou
seja avessa à vida republicana.
Desde os gregos, a concepção da res-publica (que
significa “coisa pública”) vem sendo formulada e amadurecida. O debate central
ocorre acerca de como os bens de todos (de uso comum) devem ser administrados
para serem utilizados realmente para o bem da coletividade. Na Roma que
formatou as principais instituições do mundo ocidental, Cícero afirmou que o
sentido da República era muito mais que se contrapor ao poder despótico, mas
sobretudo superar as injustiças. Na França que hoje chora uma enorme tragédia,
desde a Revolução de 1789 que liberdade, igualdade e fraternidade são valores
proclamados como ínsitos à ideia republicana.
No Brasil, comemoramos hoje os 126 anos da
Proclamação da República. Apesar do largo período já decorrido, ainda lutamos
para superar heranças fortes como o patrimonialismo e o escravismo que aqui
floresceram à sombra do Império. O patrimonialismo revela-se na imensa
dificuldade de distinção entre o interesse público e os propósitos de obtenção
de fortuna mediante a apropriação indevida do que deve pertencer a todos. O
escravismo é responsável direto pelos preconceitos raciais e pela naturalização
de hierarquias tão profundas entre “incluídos” e “excluídos”, espelhadas em
nossos terríveis indicadores sociais. Assim, o 15 de novembro não significou a
construção imediata e definitiva de uma República entre nós, mas deve ser
celebrado como o início de uma caminhada que deve ter como horizonte o que
Cícero preconizou há séculos: a República se justifica pelo combate às
injustiças.
Coerente com a lição do pensador romano, tenho me
empenhado ao máximo para ajudar a República a se consolidar no Maranhão. Não
compactuo com a corrupção e me mantenho firme no compromisso de agir para que,
nos termos da lei, sejam punidos aqueles que desviem dinheiro público. Vejo essa
atitude de zelar pela guarda do patrimônio público, a mim confiado pelas urnas,
como um caminho essencial para que injustiças sociais sejam progressivamente
superadas. É desse modo que imagino que a política pode ser revalorizada como
ferramenta insubstituível para a supremacia dos valores republicanos. Contra o
terror e contra as injustiças, a nossa proclamação: Liberdade, Igualdade,
Fraternidade.
Viva a República !
*Flávio Dino é membro do PCdoB e
governador do Maranhão
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