O impeachment e a divisão da oposição
Mauro Santayana, no seu blog
Quando ainda se fazia política no país, antes do
vale tudo em que se transformou a luta pelo poder nesta Nação, havia um velho
homem público mineiro que, no rastro de Salomão, gostava de dizer que a política
é como as estações do ano.
Há o tempo de semear e o tempo de ceifar.
O tempo de colher e o tempo de moer.
O tempo de misturar e bater a massa.
E o de acender o forno para assar e comer o que se
preparou.
O bom da Democracia, é que, a não ser que ocorram
tragédias de grandes proporções, ela, como o clima, oferece um calendário
próprio, que pode servir de parâmetro, para os mais argutos e
prudentes, no estabelecimento de um necessário e cada vez mais desprezado –
como meio - plano de rota, que possa levar ao objetivo que se pretende
alcançar.
O aumento da temperatura, ou efeito estufa, na cena
política, que pode acabar prejudicando tanto a gregos como troianos, ocorre
quando o papel dos partidos – espera-se que cada um tenha sua própria visão e
seu próprio projeto para o país – é substituído por uma briga de foice em que
um monte de cidadãos, individualmente, acredita que pode alcançar a Presidência
da República, não interessando o momento ou o meio que vai utilizar para chegar
lá.
Há impeachments e impeachments.
Na época do impedimento do Presidente Fernando
Collor, havia um vice-presidente conciliador, em torno do qual se reuniu uma
ampla aliança nacional, que era tão correto que se recusou a forjar uma
alteração na constituição que lhe permitisse manter-se no poder por mais um
mandato, e cujo maior erro - como depois admitiria mais tarde - foi escolher
como sucessor um indivíduo que usurparia a maior conquista de seu governo, o
Plano Real, e que, no lugar de cumprir o compromisso que tinha com ele de
apoiá-lo para o pleito seguinte, tanto fez para não largar a rapadura que
chegou até mesmo a ser acusado de comprar votos no Congresso para aprovar a lei
que permitiu sua reeleição.
Hoje, em caso do impedimento da Presidente Dilma,
não há, como havia à época de Itamar Franco, o mesmo consenso em torno da
figura do Vice-Presidente Michel Temer.
O maior partido de oposição – teoricamente o mais
interessado na saída de Dilma – apresentou, no TSE, pedido de cassação da chapa
Dilma-Temer, vitoriosa nas eleições de um ano atrás, propondo a anulação do
resultado e requerendo que se lhe entregue o poder, como coligação mais votada.
Os tucanos querem a saída de Dilma, mas cada um em
seu tempo e a seu modo.
Se pudessem, prefeririam evitar a substituição da presidente por um vice que
tem tudo para articular rapidamente a simpatia e as boas graças do “mercado”.
Que depois poderia ser apresentado, contando com a
estrutura de um dos maiores partidos do país, como um fortíssimo candidato nas
eleições de 2018.
Para Alckmin, e para José Serra, que estão de olho
no Planalto, isso não seria bom.
Alguns jornais informam que Serra pretende ser o
Ministro da Fazenda de Temer, e seu candidato a Presidente, pelo PMDB.
Mas aquele que já foi por duas vezes candidato pelo
PSDB, como diria Garrincha, ainda não “combinou com os russos”, e muita água
tende a rolar debaixo das pontes do Tietê antes que isso venha a ocorrer.
Serra teria que vencer a resistência da ala mais
nacionalista do partido, de construir algum tipo de liderança nele,
sobrepondo-se a possíveis rivais, além de contar com a recusa de Michel
Temer de continuar ocupando um lugar no qual já estará há algum tempo, com
todas as prerrogativas que lhe reserva o cargo mais importante da República.
Temer na Presidência, aliado a Serra, não seria
desejável para Aécio Neves, que está na frente nas pesquisas de intenção de
voto, entre os eventuais pré-candidatos.
E, muito menos, ainda, para eventuais concorrentes
“independentes” que aparentemente correm “por fora”, mas que têm um enorme
apelo para o voto conservador e de extrema-direita nascido da campanha
anti-petista dos últimos anos.
Entre eles, pode-se nomear - por enquanto - Jair
Bolsonaro e o próprio Juiz Sérgio Moro, que dividem os apelos “Bolsomito 2018”,
e “Moro Presidente”, no espaço de comentários dos grandes portais nacionais, de
onde a militância do PT desapareceu.
Para muitas lideranças anti-petistas, ou com
aspirações a sentar na principal cadeira do Palácio do Planalto, ideal seria
que o governo Dilma “sangrasse”, atacado pela mídia conservadora nacional e
estrangeira, pelos internautas fascistas, pela sabotagem econômica e no
contexto judicial, pelos entreguistas e privatistas, e pelos oportunistas de
todo tipo, até o último dia de seu mandato.
Assim, eles teriam tempo para o fortalecimento de
seus respectivos cacifes com vista a 2018, disputando entre si a preferência dos
neoliberais, dos neo-anticomunistas, dos anti-petistas, dos
anti-“bolivarianos”, dos anti-estatistas, dos anti-desenvolvimentistas e dos
anti-nacionalistas de plantão.
Um público cada vez mais radical, manipulado e
desinformado que tem tudo para crescer como fungo, já que não existe nenhuma
oposição ou reação estratégica, judicial, ou na área de comunicação minimamente
detectáveis, por parte da esquerda – reunida quase que exclusivamente em seus
próprios blogs, grupos e páginas de redes sociais - ou do Partido dos
Trabalhadores em portais de maior audiência, como o UOL, o IG, o Terra, o MSN e
o G1.
O grande problema do PT no Brasil é a internet, onde
perdeu, sem esboçar qualquer reação coordenada – a batalha da comunicação.
De nada adianta o ex-presidente Lula processar na
justiça certo "historiador" de oposição por calúnias proferidas em
uma entrevista, se dezenas, centenas, de internautas continuam a atirar contra
ele os mesmos insultos e as mesmas mentiras, impunemente, todos os dias, sem
serem interpelados judicialmente da mesma maneira. Se o primeiro deles tivesse
sido impedido, na forma da lei, desde o início, o PT - e a própria Democracia,
vilipendiada com pedidos de "intervenção militar" e a defesa pública
da volta da ditadura e da tortura - não estariam na situação institucional em
que se encontram.
O grande drama da oposição no Brasil é o que fazer
com o impeachment.
Se Dilma sair do Palácio do Planalto agora, ficará
difícil manter, contra Temer, a mesma campanha uníssona que existe, hoje, na
imprensa e nos maiores portais da internet – por parte dos internautas de
direita - contra o PT.
Os ataques sofridos pela Presidência da República
tenderiam a diminuir, e a enfraquecer em seu ódio e veneno, já que não daria,
simplesmente, para transferir para esse novo Presidente da República, o papel
de Geni encarnado pelo PT até agora.
Finalmente, com Dilma fora do Planalto, será
praticamente impossível manter a unidade das forças anti-petistas, que tendem a
se lançar em uma guerra fratricida pelo Palácio do Planalto, que Michel Temer,
do alto da cadeira presidencial, em caso do enfraquecimento de Lula, e de
fragmentação da oposição, teria grande chance de vencer em 2018.
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