O governo terá que travar batalhas em inúmeras
frentes para tentar reverter panorama de recessão e indicadores negativos
Fernando Caulyt, na Carta Capital
Com
a permanência da presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto ou não, o
governo federal terá grandes batalhas pela frente para tentar evitar em 2017 o
terceiro ano seguido de recessão e melhorar alguns indicadores, como a taxa de desemprego e a renda da população. Veja alguns
dos principais desafios:
Um
dos maiores é reverter o rombo fiscal que, sem o retorno da CPMF e de um
crescimento de pelo menos 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017, poderá
alcançar
quase 120 bilhões de reais. Apesar de o Orçamento deste ano já registrar a
arrecadação de 10 bilhões de reais da CPMF, o governo federal não conta neste
momento com o apoio necessário para aprovar a recriação do imposto.
Se
o governo federal não obtém superávit, ele não consegue economizar para pagar
os juros da dívida pública. E os prognósticos não são tão positivos: de acordo
com um relatório recente do FMI, a relação entre a dívida bruta e o PIB deverá
manter a curva ascendente, subindo de 73,7% em 2015 para 91,7% em 2021. Entre
2014 e 2015 houve um salto de 10,4 pontos percentuais.
Para
analistas, o quadro fiscal é crítico: a trajetória da dívida não é sustentável
e é difícil de ser revertida a curto prazo, sobretudo devido à rigidez
orçamentária e à queda da arrecadação de impostos pelo governo federal.
Há
ainda o fator referente às reformas consideradas importantes e que ainda não
foram aprovadas, como a da Previdência
–
cujas despesas representam mais da metade dos gastos públicos – e a Trabalhista
– para simplificar o complexo e ineficiente sistema de tributos e desfazer as
distorções, que têm consequências graves sobre a produtividade e crescimento da
economia.
A
recuperação da confiança, juntamente com uma solução para o rombo fiscal, é um
dos principais desafios econômicos do governo federal. O índice de confiança do
empresário industrial, medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI),
caiu 1,2 ponto frente a março e atingiu 36,2 pontos em um total de 100. Quanto
mais próximo de zero, maior e mais disseminado é o pessimismo.
Quebrar
esse ambiente de pessimismo é de extrema importância para fazer com que a
economia volte a crescer e a receber investimentos de empresários e
investidores. Só no ano passado, o consumo das famílias diminuiu 4%, e os
investimentos das empresas, 14%.
"Esse
mau humor tem travado a economia e, quando a confiança está muito baixa,
ninguém toma decisão de comprar ou investir", afirma o economista Silvio
Campos, da Tendências Consultoria.
Um
dos maiores desafios da economia brasileira é reduzir e manter a inflação no
centro da meta estipulada pelo Banco Central, de 4,5% por ano, e atingir no
longo prazo um nível menor da taxa de juros Selic, que está entre as maiores do
mundo. O acumulado dos 12 últimos meses do Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA), em março, é de 9,39%, e a taxa Selic, de 14,25%.
"Para
isso, entre outras medidas, reformas estruturais são necessárias. Como ponto de
partida, o ajuste fiscal é essencial, assim como a urgente recuperação da
credibilidade das políticas fiscal e monetária", afirma a economista
Cecília Melo Fernandes.
A
recessão econômica tem reflexos sobre o emprego, renda e a formalização do
trabalho. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego média no país, no ano de 2015,
atingiu 8,5% e foi a maior já registrada pela Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad Contínua), que teve início em 2012. Já a taxa média em 2014
foi de 6,8%.
O
rendimento médio real, descontada a inflação, ficou em 1.944 reais em 2015 e,
em 2014, foi de 1.947 reais – ou seja, queda 0,2%. Para o IBGE, essa variação é
estatisticamente estável. Já o número de trabalhadores com carteira assinada caiu de 36,5
milhões do quarto trimestre de 2014 para 35,4 milhões no mesmo período de 2015.
Caso
o governo federal tenha sucesso em implementar todas ou parte das tarefas
citadas ao longo do tempo, a economia poderá começar a sair da recessão e já
registrar crescimento, mesmo que tímido, a partir de 2017.
Em
2015, o PIB encolheu 3,8% – a maior recessão já registrada desde 1990, quando a
economia caiu 4,35% durante o governo do então presidente Fernando Collor. O
Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (25/04) – pesquisa realizada
semanalmente junto a instituições financeiras e economistas – prevê um recuo de
3,88% na economia em 2016. Já em 2017, há a expectativa, até agora, de uma leve
melhora, com expansão de 0,3%.
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