Tereza Cruvinel, Brasil 247
Há dois movimentos caminhando juntos
neste momento, em velocidades diferentes: a delação dos dirigentes da Odebrecht
e o esforço do bloco de Temer para acelerar o ato final do impeachment da
presidente Dilma, de modo que ele ocorra antes das revelações da empreiteira.
Se elas tiverem a força e o alcance esperados, revelando todos os participantes
do esquema “ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral
do país”, como disse a empresa na nota de março, ao anunciar que faria uma
“colaboração definitiva”, as condições para a condenação de Dilma podem ser
definitivamente comprometidas. Elas já se deterioraram muito por conta das
bizarrices do próprio governo interino, ameaçando a consecução dos 54 votos
necessários.
Nunca faltou sincronia entre os passos
da Lava Jato e o acirramento da crise política com vistas à derrubada do
governo Dilma, principalmente na fase em que o PT era a o alvo principal,
sobrando um pouco para o PP. Com a posse de Temer e as gravações de Sergio
Machado, PMDB e PSDB entraram na linha de fogo. A delação da Odebrecht,
entretanto, pode ir muito além do quatro maiores partidos, realizando o
sonho do juiz Sergio Moro, de “deslegitimar todo o sistema partidário”,
tal como sua inspiradora Mãos Limpas na Itália. Uma amostra do que pode revelar
a Odebrecht foi a lista de 300 nomes, de 22 partidos, apreendida em uma de suas
unidades em março. Depois, com o argumento de que poderia conter doações legais
e ilegais misturadas, puseram uma pedra em cima e a lista sumiu de cena.
Não se tem notícia oficial da delação
que envolverá o presidente da holding, Marcelo Odebrecht, ainda preso, seu pai
Emilio Odebrecht e outros executivos. Não se sabe oficialmente se depoimentos
já foram colhidos ou quando o serão. Mas ela terá de vir, mais cedo ou mais
tarde, e o pulo do gato neste momento é o controle deste momento em relação ao
relógio político. Se vier antes, pode comprometer a condenação de Dilma.
Por isso a pressa, a antecipação do prazo pela comissão especial, contra a qual
recorreu a oposição. Caberá ao presidente do STF, Ricardo Lewandowski,
homologar esta antecipação, do início de agosto para meados de julho.
A preocupação do governo Temer com a
perda de votos no Senado é clara, embora Temer tenha dito, na entrevista a
Kennedy Alencar no SBT, que o governo tem 59 ou 60 votos pela condenação da
titular da chapa pela qual foi eleito. As contas, entretanto, não mostram esta
folga.
São pelo menos três os senadores que,
chocados com as gravações de Machado e decepcionados com o governo,
admitem votar contra a condenação de Dilma no julgamento final:
Cristóvam Buarque (PPS), Romário (PSB) e Acir Gurgacz (PDT). Como o governo
teve 55 votos para o afastamento em maio, perdendo os três ficaria com
52. Mas dois senadores não votaram na primeira decisão. Eduardo Braga,
ex-ministro de Dilma, e Jáder Barbalho, muito prestigiado por ela com a
indicação de seu filho para ministro da Pesca. Se os dois votarem pela condenação,
o bloco de Temer recompõe os 54 votos necessários. E isso contando com a
hipótese de que seja admitida a participação de Romero Jucá, depois das
confissões que fez a Sergio Machado sobre o sentido do impeachment, o de porta
de fuga da Lava Jato para a classe política carcomida. E contando ainda com que
Renan Calheiros mantenha a decisão de não votar. Neste cenário, o governo
não teria um só voto de folga. Teria exatos 54. Se Dilma conquistar mais
um, será absolvida. E aí, talvez a classe política tenha que pactuar outra
saída, como a das eleições.
Mas se a votação ocorre antes da
delação da Odebrecht, sob o argumento de que a interinidade é prejudicial ao
país (embora Temer tenha feito tudo o que quer), o panorama pode mudar
completamente, dependendo de quem for atingido, e com que força.
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