Nagib Jorge Neto, jornalista e escritor
Quando partiu, em meados da década de
oitenta, muita gente pensou que jamais voltaria. Vestida de azul, elegante, ela
chegava com uma pasta, também uma maleta, lembrando bagagem de retirante,
daquelas de "fechar sentando em cima". Sempre distante, nem bonita,
nem feia, a expressão não era de encanto, poesia, mas de frieza, rigor, para
ver e sentir a dimensão do nosso desencanto.
Assim quase não sorria, nem falava de
sua missão, que parecia um mistério, um segredo que sabia guardar. A mídia
mostrava sua imagem, seu passo lento, cadenciado, e dava informes sobre carta
de intenção, acordo, exame de contas, coisa que a maioria ficava sem entender
direito.
Na época, a oposição, a esquerda,
tentava mostrar que Ana Maria, com sua elegância, sua pasta, era símbolo da
falência do sistema, da ditadura, do seu modelo econômico. Era prova também de
perda de soberania, de covardia e submissão do regime, que admitia sua presença
como reflexo dos choques do petróleo, da recessão, da crise internacional.
Ana Maria vem, Ana Maria vai, e os
homens do Governo defendiam a tese de que sem ela, sem os seus conselhos, sem
os recursos que traria, a situação do país seria desastrosa. Afinal, o país
estava endividado, sem reservas, e a instituição de Ana Maria - um fundo
monetário-, tinha a chave do cofre, das medidas de salvação da economia
nacional. A oposição acusou o Governo de entregar os destinos do país a Ana
Maria, ao esquema voraz de sua instituição, mas os técnicos, os economistas,
pareciam sempre encantados com sua elegância, seus segredos. Prisioneiros do
canto de sereia, tentando dourar a crise, viram crescer a oposição, a
resistência, que proclamou a Nova República e mandou embora Ana Maria.
Daí surgiram moedas, planos, juras de
que Ana Maria tinha deixado o país para sempre. Era a nação soberana, clima de
liberdade, desenvolvimento, sem interferência de qualquer instituição, de
qualquer moça ou senhora. Enfim, nunca mais aquela fase, fruto dos vícios do
autoritarismo, dos erros do seu modelo político e econômico. O tempo passou, a
mídia esqueceu Ana Maria, o fundo monetário, e mostrou sempre uma imagem
positiva da modernização, das mudanças no país e no mundo. Parte da oposição,
da esquerda, fez advertências, alertas, mas suas teses não tiveram eco. A
maioria das lideranças acusou os discordantes de evocar fantasmas do passado,
de ser uma minoria na contramão da história.
Mas agora Ana Maria volta com outra
imagem, com outro nome, com a missão de dar conselhos, garantir recursos,
ajudar o país a sair do novo quadro crítico, que é mais grave, dramático, com
avanço da recessão. É a vez de Teresa, talvez porque condiz mais com um país
bonito, bonito por natureza, que beleza!, um país tropical, ou patropi.
Há silêncio da maioria, informes
precários da mídia, também silêncio de muitas lideranças que viam Ana Maria
como expressão de perda da soberania, de submissão do país ao Fundo Monetário
Internacional. A receita do Fundo exige ajustes, ou seja, mais impostos, juros,
demissões, quebradeira e maior desemprego. Ah, Ana Maria, como diabo voltas a
pisar este solo na pele de Teresa, também com o aval de muitos que te julgavam
maldita?
NOTA – Tem outro nome a nova
representante do FMI que esteve com o interino TEMER semana passada.
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