Em 6 meses o Brasil,
o Brasil ficou menor, injusto, menos democrático e irrelevante
Emir Sader, Brasil
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Bastaram poucos meses para que
o governo golpista dissesse a que veio: a desmontar o que de melhor havia sido
feito neste século, no Brasil. O Estado brasileiro está sendo reduzido às suas
proporções mínimas, deixando de garantir o patrimônio público, os direitos
sociais, a soberania internacional.
Tudo que o governo toca, ele
reduz, ele transforma em irrisório, em medíocre, em intranscedente. De país
respeitado pelo combate à fome e às desigualdades, rapidamente retornamos a
país da exclusão social, que não deixa passar dia sem que se tirem dezenas de
milhares de bolsas famílias de pessoas pobres, sem que percam o emprego
milhares de trabalhadores, sem que a imagem externa do Brasil se deteriore cada
vez mais, sem que um politico alçado por um golpe à presidência, degrade ainda
mais sua imagem pública.
Em pouco tempo em termos de
calendário, o país voltou a se tornar cada vez mais desigual, mais injusto,
mais excludente. O governo instaurou a norma da imoralidade, no seu
comportamento e na composição da gangue que o compõe.
Em poucos meses o striptease do
Judiciário e do Legislativo nos fizeram ver que não apenas a democracia foi
gravemente ferida, mas também as instituições republicanas. A Câmara, o Senado,
o STF, tornaram—se farsas de poder legislativo e judiciário.
A equipe econômica se encarrega
de tratar de reduzir o país à dimensões de um mercado controlado pelo capital
financeiro – a que pertencem seus membros. Tudo o que se decide vai na direção
de tirar direitos das pessoas e favorecer o capital especulativo. Volta-se a um
acelerado processo de concentração de renda e de exclusão social.
Instaurou-se um governo de
vingança contra os que haviam tido reconhecidos seus direitos. Dos que têm
pouco, se tira tudo o que se possa. Aos que têm tudo, se lhes concede as
melhores condições para que enriqueçam mais.
São seis meses em o Brasil não
é levado em conta, interessa apenas o mercado. Em que o país, a nação
brasileira, a sociedade brasileira, são reduzidos às dimensões do duro ajuste
fiscal.
Os direitos dos cidadãos são
atingidos diariamente, como trabalhadores, como estudantes, como professores,
como mulheres, como jovens, como negros. O Estado renuncia, todos os dias, às
suas responsabilidade de cuidar do patrimônio nacional. Dia sim, dia não,
aquele que usurpa o cargo de presidente da Petrobras, rifa o patrimônio
brasileiro, entregando-o nas mãos das grandes corporações internacionais, ao
mesmo tempo que anula os 10% para educação e saúde que o Brasil tinha
democraticamente conquistado.
É uma horda de aventureiros
que, galgados ao governo por meio de manobras ilegais, sob os olhares cúmplices
e silenciosos do Judiciário, com a opinião publica forjada pelos monopólios
privados dos meios de comunicação, assaltam o país, para desnacionalizar a economia,
desarticular o Estado, desfazer os direitos sociais da grande maioria, enlamear
a imagem do Brasil no mundo.
Foram alguns dos piores meses
da história do Brasil, pelo tamanho da agressão à democracia, pelos retrocessos
sociais, pelo espetáculo imoral e sem pudor que ministros e parlamentares
governistas dão diariamente. Tudo o que de melhor o Brasil havia conquistado
neste século, está sendo colocado em questão, condenando o país ao retorno ao
Mapa da fome e ao FMI, à triste condição de país mais desigual do continente
mais desigual. O que havia de confiança no Judiciário foi dilapidado, pelas
perseguições políticas e pelo perdão aos golpistas e corruptos que se
assenhorearam do Estado e o assaltam como botim.
Quando o povo brasileiro
conseguir recuperar seu legítimo direito democrático de decidir seus destinos,
não será complacente com os responsáveis pela destruição da democracia, do
patrimônio público, dos direitos sociais e da soberania nacional. Sejam eles
políticos, juízes, donos dos meios de comunicação – serão todos investigados e
condenados pelos danos gravíssimos que impõe hoje, por meio de um golpe, ao
país. Uma nova Comissão da Verdade se encarregará de fazer justiça à
democracia, aos direitos dos trabalhadores, às políticas sociais, à dignidade
externa do Brasil.
O povo, conduzido por seus
lideres democráticos, voltará a demonstrar que o Brasil é muito maior do que
aquilo a querem reduzir. Que o potencial do país não requer essa dilapidação do
patrimônio público mas, ao contrario, seu fortalecimento. Que distribuir renda
permanentemente não é somente justo, como alavanca para a retomada do
desenvolvimento. Que o Brasil não pertence aos que o degradam, mas ao seu povo,
que derrotou a ditadura militar e derrotará esta nova ditadura.
Leia também: PCdoB avalia os desafios do novo ciclo político http://migre.me/vuB1B
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