31 janeiro 2018

Movimentos movediços

A instabilidade geral e o pleito de outubro
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Certamente, algumas décadas adiante, analistas e historiadores examinarão as duas primeiras décadas deste século 21 como sombrias e atribuladas.

A instabilidade hoje é geral: econômica, financeira, social, política, institucional, militar, cultural.

Quem sabe analisem esses tempos terríveis a partir de um instante novo da sociedade humana, em que transformações sociais e políticas de envergadura, consumadas ou em curso, abram perspectivas mais civilizadas e socialmente justas.

O fato é que, nos dias que correm, nada está seguro e tudo pode se dissolver no ar a qualquer instante.
Isto se reflete sobre a vida das nações e dos indivíduos. E impacta seriamente a cena política nacional e local. Impõe uma espécie de reinvenção das coisas e do jeito de sobreviver.

Entretanto, tanto quanto segmentos sociais, grupos e indivíduos nem sempre se dão conta da dimensão dessa realidade global adversa, atores políticos persistem em velhas alternativas e práticas, agora que, no Brasil, nos aproximamos de mais um pleito, em que estarão em destaque, sobretudo, a presidência da República e a nova composição do Congresso Nacional.

Na província, as coisas acontecem como se nada de novo estivesse acontecendo. Até mesmo as mudanças parciais na legislação eleitoral são praticamente ignoradas.

É de se perguntar: será possível a algum partido ou líder ou agrupamento político se apresentar ao eleitorado com grau razoável de seriedade elidindo a real situação do país?

Isto porque a despeito da inflação baixa, da redução relativa dos juros e ligeiro sinal positivo de superação da recessão, o Brasil está a anos luz de distância da retomada do crescimento econômico. 

Carece de investimentos públicos em infraestrutura, variável decisiva para o desenvolvimento sustentável, para além dos chamados "voos de galinha".

Mas acontece que Temer e o grupo que comanda o governo central, cumprindo a agenda com a qual se compromete perante o Mercado, desmonta elementos fundamentais para que a verdadeira retomada do crescimento venha a ocorrer. Há um esfacelamento diário, através de leis, decretos normativos e portarias, do Estado nacional. O que se faz com a Petrobras, negociando ativos estratégicos os a preço de banana, e o que se pretende igualmente fazer com o parque energético brasileiro, são exemplos deploráveis disso.

Assim, o debate eleitoral local, para ser sério, há que reconhecer os laços indissociáveis entre a situação em Pernambuco e o que se passa no país. Fora disso, ocupam o primeiro lugar no pódio a demagogia e os artifícios midiáticos.


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